Apesar de recentes picos de ocupações hospitalares e de transmissão do novo coronavírus (Sars-CoV-2) em meio ao avanço da variante Ômicron, Belo Horizonte e Minas Gerais se destacam entre capitais e unidades federativas brasileiras com ritmos mais lentos de óbitos e casos, de acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O parâmetro utilizado é o de dobra de registros, capaz de situar a aceleração dos índices da doença que já matou quase 640 mil brasileiros desde 2020.
A capital mineira é a oitava mais lenta em mortes e a nona em propagação de casos (ou 19ª e 20ª, respectivamente, no ranking dos mais rápidos). Já Minas Gerais é o décimo estado com menor velocidade em dobras de óbitos (18º na escala dos mais velozes), embora ocupe a oitava posição em rapidez com que os casos se multiplicam por dois.
Leia Mais
COVID-19: ocupação de UTI está no vermelho, mas transmissão em BH caiVeja onde as crianças devem se vacinar contra COVID em BH amanhã (16/2)COVID: Minas vacinou até agora 30% das crianças de 5 a 11 anos com 1ª doseCOVID: BH contabiliza mais 18 mortes em 24h, e UTIs permanecem lotadas Quase metade das crianças convocadas não tomaram vacina contra COVID em BHPCDs e crianças terão atendimentos odontológicos gratuitos pela UniBHDefesa Civil de BH alerta para risco geológico até segunda-feira (21/2)“Considerando os piores períodos (da pandemia), a letalidade da COVID-19 chegou a cerca de 4%. Na variante Ômicron, o pico da letalidade até agora é de 0,4%. Existe uma epidemia de não vacinados que lotam os hospitais, sufocam os serviços de saúde e impossibilitam atendimento de outros problemas de saúde que continuam acontecendo. Isso parece ocorrer tanto no Brasil quanto em outros países analisados”, avalia a fundação.
A capital mineira já aplicou a primeira dose em 93,56% das pessoas acima de 5 anos de idade e 89,96% dessa população já tomou a segunda injeção ou recebeu dose única. Do total, 46,08% tomaram também o reforço. Com o acesso às vacinas, BH lentificou o ritmo das mortes, levando mais tempo para dobrar o total de óbitos dos últimos registros. Ao longo da pandemia, a cidade levou, em média, 73 dias para duplicar os totais de mortes. A última duplicação ocorreu em pouco mais de 2,5 vezes esse tempo, num prazo de 183 dias. Os casos levavam média de 62 dias ao longo da pandemia para dobrar. Para a última dobra, os registros levaram 4,7 vezes esse tempo, chegando a 292 dias.
Comparando com as demais capitais brasileiras, BH só tem um ritmo de mortes mais acelerado do que Brasília, Rio de Janeiro, Palmas, São Luís, Recife, Fortaleza e Natal, sendo esta última a que levou maior tempo para duplicar os registros, num total de 301 dias. No que se refere aos casos positivos identificados, a capital mineira atinge o dobro de resultados mais rápidos do que Salvador, Porto Alegre, Maceió, Rio Branco, Goiânia, Brasília, Florianópolis e Belém, onde os casos levaram 400 dias para se dupli- car. A Fiocruz destaca que os casos não são necessariamente de pessoas hospitalizadas, mas que testaram positivo, podendo, inclusive, ter permanecido assintomáticas.
Minas Gerais também apresenta boa cobertura vacinal, com 84,9% de pessoas já com as primeiras doses, 80,19% com as segundas ou doses únicas imunizantes, e 36,57% já tendo recebido reforço, entre os cidadãos com mais de 5 anos. Isso refletiu também em um bom resultado no que diz respeito à velocidade com que o estado atinge o dobro de óbitos. A média durante a pandemia foi de 56 dias para alcançar esse patamar. A última duplicação de vidas perdidas, entretanto, ocorreu em 2,7 vezes esse tempo, num total de 156 dias. Esse prazo só é mais lento na Bahia, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia, Pará e São Paulo, onde a duplicação de mortes ocorreu em 304 dias. Os testes positivos registraram uma frequência média de 46 dias para dobrar no estado e agora levam 127 dias, ritmo 2,7 vezes menor.
Acelerados
Os levantamentos da Fiocruz também levam em consideração os municípios mineiros com mais de 30 casos e que integram as listas dos 50 com registros mais acelerados do novo coronavírus do Brasil. O município de Senhora de Oliveira é o que apresenta o menor prazo de duplicação de exames positivos, com 12 dias, seguido por Santa Rita de Ibitipoca (18), Estrela do Indaiá (22), Santa Maria do Suaçuí (22), Belmiro Braga (24), Senhora do Porto (24) e Albertina (26). As médias mais curtas ao longo da pandemia são de Belo Horizonte, com 62 dias, Montes Claros (64), Governador Valadares (64), Uberaba (66) e Contagem (66).
No caso dos óbitos, os municípios que atingiram o dobro de mortes recentes mais rapidamente em Minas Gerais foram Coromandel, com 10 dias, Monte Carmelo (17), Pitangui (17), Barroso (23), Sete Lagoas (26), Raul Soares (28), Conceição das Alagoas (30), Lagoa Formosa (31), Conselheiro Lafaiete (33) e Iturama (33). As duplicações de mortes ao longo da pandemia têm média mais rápida em Belo Horizonte, com 73 dias, Uberlandia (80), Uberaba (87), Contagem (89) e Juiz de Fora (92).
Seis meses de proteção
A vacina CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac, manteve a proteção contra o vírus da COVID-19 após seis meses da aplicação da segunda dose, mostra estudo de efetividade do Instituto Butantan, no município de Serrana, no interior paulista. Segundo a análise, as taxas de anticorpos para se defender da infecção contra o Sars-CoV-2 em todas as faixas etárias se mantiveram acima de 99%. Além disso, a dose de reforço da mesma vacina em idosos aumentou de duas a quatro vezes os níveis de anticorpos. Os dados fazem parte das conclusões preliminares da segunda etapa de sorologia e avaliação da resposta imunológica dos voluntários do Projeto S, como o estudo de efetividade é chamado. Foram feitas três coletas de sorologia no município: em julho e em outubro de 2021, e em janeiro de 2022. A última coleta será feita em abril.
Freio feito também de restrições
A relação direta entre a lentidão da disseminação do novo coronavírus em Minas Gerais, sobretudo em Belo Horizonte, vai além do fator vacinal, na avaliação do presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), o médico Estevão Urbano Silva. “Logo cedo, as autoridades sanitárias da Prefeitura de BH fecharam a cidade e determinaram regras rígidas o suficiente para impedir a circulação do vírus como ocorreu em outros locais. A população comprou essa ideia. Preveniu-se mais. Quando veio a vacina, procurou a vacinação em massa. Isso tudo foi muito importante, pois não aderimos às ideias negacionistas que ainda circulam”, afirma o infectologista, que é integrante do Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da Prefeitura de Belo Horizonte.
O médico chama a atenção para a necessidade de continuação da vacinação e dos reforços para que não surjam variantes que possam suplantar o poder de fortalecimento do sistema imunológico conferido pelas vacinas atuais. “Ainda não está clara qual a necessidade de reforços e por quanto tempo a vacina confere a imunidade aos pacientes. E o pior poderia ser o surgimento de outras variantes que necessitem de alterações nas vacinas atuais e até a criação de outros tipos de imunizantes específicos. Por isso devemos fazer o que estiver ao nosso alcance e manter a vigilância. Ainda está longe de essa pandemia acabar”, avalia o infectologista.
Minas detecta mutação de cepa
Pesquisadores identificaram em Minas Gerais a linhagem BA.2 (21L) da variante Ômicron. A amostra foi colhida de um paciente morador de Belo Oriente, na Região do Vale do Rio Doce, infectado pela COVID-19, anunciou o Ministério da Saúde. A descoberta é do Observatório de Vigilância Genômica de Minas Gerais (Vigem-MG), iniciativa de vigilância com o objetivo de monitorar as variantes do COVID no estado. A caracterização da variante foi inicialmente realizada por genotipagem pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). As análises de genotipagem indicaram o perfil de mutações da variante Ômicron BA.2 (21-L) que foram confirmadas pelo sequenciamento do genoma. Estudos apontam que o perfil é muito similar ao da variante Ômicron em geral, com alta transmissibilidade. O coordenador da Rede Corona-Ômica.BR-MCTI, Fernando Spilki, explicou ainda que o monitoramento é importante para acompanhar eventuais alterações no padrão de disseminação e manter o monitoramento da eficácia de vacina, entre outras aplicações.
Estado aplica 1ª dose em 30% das crianças de 5 a 11 anos
Minas Gerais alcançou 30% do público infantil vacinado com a primeira dose contra a COVID-19 um mês após o início da imunização das crianças de 5 a 11 anos. Na capital, o percentual chega a 49,7%. De acordo com dados do Vacinômetro, até ontem, cerca de 1,2 milhão de doses foram distribuídas para os municípios mineiros e mais de 558 mil aplicadas em crianças nessa faixa etária – uma média de 18,6 mil doses aplicadas por dia.
O número pode ser maior, já que muitas prefeituras ainda não enviaram ou estão enviando gradualmente os dados de vacinação para a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Aproximadamente, 1,8 milhão de meninos e meninas de 5 a 11 anos estão aptos a receber a dose da vacina contra a COVID-19 em Minas Gerais.
Entre as cidades com maior cobertura vacinal infantil contra a COVID-19 em Minas Gerais estão Juiz de Fora, na Zona da Mata, com 55,27%; Belo Horizonte (49,7%) e Contagem, na região metropolitana, 43,7%.
O secretário de Estado de Saúde, o médico Fábio Baccheretti, ressalta a segurança das vacinas e pede aos pais e responsáveis que levem os filhos aos postos para receberem o imunizante. "A vacina é segura, tanto da Pfizer quanto a CoronaVac. O imunizante é a única saída para a pandemia. Temos muitas doses disponíveis e muitas crianças ainda não foram tomar. Não acreditem em fake news, acreditem em informação de verdade. Tomem a vacina, que é o jeito mais seguro e responsável para atravessar este momento e, de uma vez por todas, vencer a pandemia", destacou. Baccheretti ressalta que a imunização dos pequenos é fundamental para conter a circulação do vírus e, também, evitar casos graves e mortes.
Por meio de nota, a Prefeitura de BH informou que até a última quarta-feira (9/2) foram imunizadas cerca de 88 mil crianças de 5 a 11 anos. Até aquela data, a Secretaria Municipal de Saúde convocou cerca de 177 mil crianças com e sem comorbidade nessa faixa etária, nascidas de fevereiro a julho de 2016, e que tenham ao menos 5 anos na data da vacinação.
A CoronaVac, fabricada no Brasil pelo Instituto Butantan, pode ser aplicada em crianças a partir dos 6 anos de idade, com a mesma formulação e dosagem utilizada para os adultos. Já a Pfizer pediátrica tem formulação e dosagem específicas e pode ser ministrada em crianças a partir dos 5 anos. As doses são importadas dos Estados Unidos.
Leia mais sobre a COVID-19
Confira outras informações relevantes sobre a pandemia provocada pelo vírus Sars-CoV-2 no Brasil e no mundo. Textos, infográficos e vídeos falam sobre sintomas, prevenção, pesquisa e vacinação.
- Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil e suas diferenças
- Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades
- Entenda as regras de proteção contra as novas cepas
- Como funciona o 'passaporte de vacinação'?
- Os protocolos para a volta às aulas em BH
- Pandemia, endemia, epidemia ou surto: entenda a diferença
- Quais os sintomas do coronavírus?
Confira respostas a 15 dúvidas mais comuns
Guia rápido explica com o que se sabe até agora sobre temas como risco de infecção após a vacinação, eficácia dos imunizantes, efeitos colaterais e o pós-vacina. Depois de vacinado, preciso continuar a usar máscara? Posso pegar COVID-19 mesmo após receber as duas doses da vacina? Posso beber após vacinar? Confira esta e outras perguntas e respostas sobre a COVID-19.