Dia de Festa em Mariana, na Região Central de Minas, nesta quinta-feira, 17, para comemorar o término da restauração da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que teve sua pedra fundamental lançada em 1752 e atravessava um período de seis anos em obras.
Erguido pela mão escravizada por iniciativa das irmandades de São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário, o templo teve as intervenções, com recursos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), divididas em duas etapas. Na primeira, houve restauro dos elementos artísticos, concluídos com festejos em 20 de maio de 2017.
Na segunda etapa (obra civil), iniciada em 2019, foram empregados recursos federais de R$ 2 milhões e ainda R$ 200 mil da prefeitura local, órgão executor dessa intervenção, aprovados pelo Conselho Municipal de Patrimônio. Soma-se o valor arrecadado pela comunidade ligada à Paróquia Sagrado Coração de Jesus para pagamento do projeto arquitetônico, informa a arquiteta Anna de Grammont, responsável pelas obras de restauração conduzidas pela Secretaria de Obras da Prefeitura de Mariana, que arcou com o custo da elaboração de projetos complementares.
Também nesta quinta-feira, o Iphan entregou as obras concluídas de revitalização da Igreja Matriz Santo Antônio, no distrito histórico de Glaura, em Ouro Preto, na Região Central do estado, e da restauração do Solar do Padre Correia, no Centro Histórico de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Estiveram presentes o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, a presidente do Iphan, Larissa Peixoto, a superintendente do Iphan em Minas, Débora do Nascimento França, entre outras autoridades federais, estaduais e municipais.
No sábado (19), às 10h, os fiéis participarão da missa presidida pelo arcebispo de Mariana, dom Airton José dos Santos, e concelebrada pelo titular da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, padre Marcelo Santiago, e pelo vigário paroquial Jean Souza.
BARROCO
Joia barroca de Mariana, primeira capital de Minas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Homens Pretos guarda trabalhos de dois grandes artistas: do português Francisco Vieira Servas (1720-1811) e o forro da capela-mor de autoria de Manuel da Costa Ataíde (1762-1830), o Mestre Ataíde.
A superintendente do Iphan em Minas, Débora do Nascimento França, destacou que “é uma alegria devolver à comunidade um bem tão importante como a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, uma das mais significativas referências do barroco”. E espera que “todos se apropriem e aproveitem ao máximo o que a igreja tem a oferecer”.
Entre julho de 2016 e maio de 2017, a Igreja de Nossa Senhora dos Homens Pretos teve restaurados o forro da capela-mor, o altar-mor, incluindo imagens, oito retábulos colaterais e arco-cruzeiro. O serviço, com recursos federais, ficou, na época, a cargo do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, com equipe coordenada pelo restaurador Adriano Ramos, e supervisão do Iphan e prefeitura local.
O monumento teve valorizados os trabalhos em jacarandá, altares em madeira e ouro, e a decoração suave no estilo rococó, coroada pela pintura da Assunção da Virgem no teto da capela-mor. De acordo com o Iphan, responsável pelo tombamento da construção em 1939, o conjunto de elementos artísticos que compõem a decoração interna tem lugar de destaque na arte religiosa mineira dos séculos 18 e 19, principalmente pela participação de dois importantes artistas do período –, Servas e Mestre Ataíde.
O primeiro realizou toda a obra de talha do interior do templo entre 1770 e 1775, enquanto o segundo produziu a decoração pictórica anos mais tarde, entre 1823 e 1826.
Além dos trabalhos já conhecidos na igreja, a equipe técnica descobriu, na época, pinturas de quase 200 anos nas paredes do altar lateral da igreja, escondidas sob várias camadas de tinta. Os especialistas acreditam se tratar de uma obra do século 19, também de autoria do Mestre Ataíde ou de seu filho e ajudante Francisco de Assis Pacífico da Conceição.
Antes do restauro, que termina agora, o cenário na igreja era desolador, com infestação de cupins e outros insetos xilófagos, madeira envelhecida, perda de pintura, infiltração devido à água de chuvas e até ação humana. Um dos pontos mais degradados era o forro da capela-mor, com a pintura da Assunção de Nossa Senhora. Ela apresentava desprendimento da policromia, perda de madeira e outros danos.
Investimento
Segundo o Iphan, os investimentos nas igrejas de Mariana e do distrito de Glaura, em Ouro Preto, e no casarão de Sabará, totalizam aproximadamente R$ 12,1 milhões.
Desde 2019, o Iphan realizou obras no valor R$ 53,6 milhões em Minas – no ano passado, os municípios receberam R$ 38,2 milhões. Atualmente, estão em andamento obras no Largo Dom João e Praça Sagrado Coração de Jesus, em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, com orçamento de R$ 8,4 milhões. Já em Congonhas, na Região Central, estão em curso projeto de restauro do Prédio da Romaria e construção do Teatro Municipal, no valor de R$ 13,6 milhões.
Em Mariana, por sua vez, são duas ações: restauração dos elementos artísticos da catedral de Nossa Senhora da Assunção e restauração da Casa da Câmara e Cadeia, sendo a primeira com orçamento de R$ 6,5 milhões e, a segunda, de R$ 1,8 milhão. Ainda em Ouro Preto, está em andamento a restauração dos elementos artísticos integrados da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, em investimento que chega a R$ 5,3 milhões.