A tragédia provocada pelas fortes chuvas em Petrópolis, no Rio de Janeiro, mobiliza o país inteiro nas buscas pelas vítimas - que já somam 122 mortes e 116 desaparecidos - e no amparo aos desabrigados. O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) fará parte desta ação emergencial e, com isso, uma equipe seguirá para a cidade fluminense nesta sexta-feira (18/2). Além disso, uma associação de ajuda humanitária de Minas, a Humus, também vai prestar auxílio.
A equipe dos bombeiros é formada por 14 militares, especialistas em salvamento e soterramento, enchentes e inundações, busca e resgate em estruturas colapsadas e buscas com cães. Além disso, contam com a experiência de atuação em várias catástrofes semelhantes como Mariana, Brumadinho, a ajuda humanitária oferecida a Moçambique e Haiti e, por último, no trabalho integrado nas chuvas que atingiram a Bahia.
Os bombeiros de Minas também vão levar dois cães especializados em busca em estruturas colapsadas, e quatro viaturas. Também levarão equipamentos próprios como: 1 detector de vida, 1 detector de vida sísmico, 1 bote, 1 barco, 2 geradores, luzes de cena, materiais de escoramento/rompimento, salvamento em enchentes/veicular/terrestre/altura, entre outros.
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Os militares vão atuar de forma integrada ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CMBERJ) em ações de busca, salvamento, prevenção e gestão do Sistema de Comando de Operações.
Voluntários
A Humus terá sete voluntários, entre bombeiros licenciados ou reformados, para prestar auxílio a Petrópolis, sendo a maioria de Minas Gerais e um de Santa Catarina. Entre eles, está Léo Farah, capitão do Corpo de Bombeiros Militares de Minas Gerais, que chegou à cidade na madrugada de quarta-feira (16/2).
“Normalmente a Humus é acionada por pessoas que foram impactadas ou que recebem a notícia de um desastre e conhecem o trabalho. Nessa ocorrência em Petrópolis, fomos acionados primeiramente por um amigo, que é jornalista e tem família na região. Logo em seguida muitos bombeiros que fizeram o curso de operações em desastres comigo mandaram mensagens. Então, começamos a receber muitas imagens de diversos locais da cidade através das redes sociais e de nossos contatos pessoais”, explica o capitão.
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Ele conta que, a partir destas imagens, reuniu um grupo para auxiliar nos resgates. “Avaliamos a situação, até mesmo da dificuldade de acesso de equipes via Rio de Janeiro, e decidimos reunir um primeiro grupo para nos deslocarmos de Belo Horizonte até a região para auxiliar as equipes de busca que já estariam por lá - ou até mesmo em áreas que não tivessem sido acessadas ainda”, afirma.
Farah relata os primeiros trabalhos realizados: “Fomos acionados para uma área onde havia uma senhora presa debaixo de escombros. Havia um resgatista no local. Inicialmente, auxiliamos com orientações e apoio, mas a área de resgate estava apresentando muito risco e a senhora estava apresentando muita dor e cansaço. Então, interviemos no local e auxiliamos na retirada. Ela foi levada para o hospital com vida.”
A Humus participou ainda do resgate de uma criança, um menino de 11 anos. Infelizmente alguns familiares não sobreviveram. Léo Farah esclarece que as chances de ainda encontrarem pessoas com vida são baixas.
“Os protocolos dizem que em até 7 dias as buscas seguem nesse sentido. Existem casos no mundo que chegam até 63 dias (como em Paquistão, 2015). Mas, infelizmente, pelo que vimos no local e pelas características desse tipo de desastre, envolvendo lama, as chances são muito baixas. Vamos retomar a operação em Petrópolis, a fim de ajudar a localizar centenas de pessoas ainda desaparecidas e levar um pouco de conforto para as famílias”, reforça.
“Em qualquer desastre o tempo de resposta é um fator fundamental. Muitas vezes é isso que vai decidir sobre o salvamento de uma pessoa com ou sem vida. Basicamente as chances de um resgate com vida reduzem de 90% para 7% entre a 1ª e a 120ª hora (quinto dia)”, diz Leonard Farah.
Ele continua: “Mas são as características de cada desastre que deixam mais ou menos tempo para uma ação de resposta. Um acidente de trânsito, um incêndio, um afogamento, um rompimento de barragem, um deslizamento de terra têm elementos que podem dar mais ou menos tempo para o resgate. Mesmo assim, as variáveis também são diferentes a cada desastre.”
“Vale reforçar que os esforços de resgate devem seguir protocolos e prioridades, sem colocar em risco mais pessoas, mas tendo a certeza que mesmo se as expectativas de encontrar pessoas com vida forem nulas, o resgate deve ser realizado para que familiares e amigos possam encerrar aquela história com dignidade e respeito”, finaliza.
Petrópolis
O número de mortes pela chuva em Petrópolis subiu para 122 na manhã desta sexta-feira (18/2). Na última terça-feira (15/2), forte temporal atingiu a cidade da região serrana do Rio de Janeiro, provocando deslizamentos e enchentes em vários pontos. Hoje é o quarto dia de buscas por 116 pessoas que continuam desaparecidas.
O receio de novos deslizamentos aumentou durante o dia diante da previsão meteorológica. A Defesa Civil emitiu um aviso chamando a atenção para a possibilidade de pancadas de chuvas moderadas a fortes entre a tarde ontem, válido também para a madrugada de hoje. No decorrer do dia, 14 das 18 sirenes instaladas próximas a áreas de risco da cidade foram acionadas.
Segundo o governo do Rio de Janeiro, foi a pior chuva na cidade desde 1932. A região serrana do estado, onde se localiza Petrópolis, viveu outras tragédias nas últimas décadas. Em 1988 e em 2011, temporais também causaram um grande número de mortes.
Desta vez, um dos pontos mais impactados na cidade foi o Morro da Oficina, no Alto da Serra. Houve um grande deslizamento de terra no local, que fica próximo à Rua Tereza, conhecida área comercial do município perto do centro histórico. A prefeitura estima que cerca de 80 casas tenham sido afetadas.