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Estado de Minas DESASTRE CLIMÁTICO

Minas envia bombeiros e voluntários a Petrópolis

Equipe de militares com experiência em tragédias como a de Brumadinho foi escalada para auxiliar na busca de desaparecidos


19/02/2022 04:00

Integrantes do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres do CBMMG se juntam aos bombeiros do Rio
Integrantes do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres do CBMMG se juntam aos bombeiros do Rio e de mais 13 estados para ajudar nas buscas (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press )

A tragédia provocada pelas fortes chuvas de terça-feira em Petrópolis, no Rio de Janeiro, mobiliza o país inteiro nas buscas pelas vítimas e no amparo aos sobreviventes, enquanto o desastre apresenta números cada vez mais dramáticos: na noite de ontem, o total de mortos chegava a 136 e mais 200 pessoas estavam desaparecidas. Uma equipe do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) seguiu ontem para cidade fluminense. Eles se juntam aos 500 bombeiros do Rio e a um contingente de aproximadamente 80 militares provenientes de mais 13 estados para integrar essa ação emergencial. Além disso, uma associação de ajuda humanitária de Minas, a Humus, também presta auxílio no local.

Enquanto as chances de encontrar pessoas com vida se reduzem, as autoridades ainda lidam com a dificuldade de identificar e liberar os corpos e, assim, diminuir um pouco o sofrimento das famílias. Em meio ao luto, o medo ainda paira sobre a cidade, que voltou a ser castigada pelas chuvas. O Instituto Médico-Legal (IML) informou que, entre as vítimas, há 79 mulheres e 41 homens, sendo 21 menores de idade. Ao todo, 70 corpos foram identificados, e outros 64, liberados. O IML também recebeu partes de outros corpos, mas, neste caso, não é possível identificar se são de homem ou de mulher. Exames serão feitos com parentes de desaparecidos para identificação das vítimas.

A equipe dos bombeiros de Minas escalada para a missão em Petrópolis é formada por 14 militares especialistas em salvamento e soterramento, enchentes e inundações, busca e resgate em estruturas colapsadas e buscas com cães. O grupo tem experiência de atuação em várias catástrofes semelhantes como os rompimentos das barragens de minério em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), a ajuda humanitária oferecida a Moçambique após a devastação por ciclones (2019) e ao Haiti, depois de terremoto (2021) e, por último, no trabalho integrado nas chuvas que atingiram a Bahia no início deste ano.

Os militares levaram dois cães especializados em busca em estruturas colapsadas, quatro viaturas. E equipamentos próprios como detector de vida, detector de vida sísmico, bote, barco, geradores, luzes de cena, materiais de escoramento/rompimento, salvamento em enchentes/veicular/terrestre/altura, entre outros. O grupo vai atuar de forma integrada ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CMBERJ) em ações de busca, salvamento, prevenção e gestão do Sistema de Comando de Operações.

Encontrar vítimas ainda com vida diminuem a cada momento
Chances de encontrar vítimas ainda com vida diminuem a cada momento (foto: Carl de Souza/AFP )


VOLUNTÁRIOS 

Por sua vez, a Humus disponibilizou sete voluntários, entre bombeiros licenciados ou reformados, para prestar auxílio a Petrópolis, sendo a maioria de Minas Gerais e um de Santa Catarina. Entre eles está Léo Farah, capitão do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, que chegou à cidade na madrugada de quarta-feira.

“Normalmente, a Humus é acionada por pessoas que foram impactadas ou que recebem a notícia de um desastre e conhecem o trabalho. Nessa ocorrência em Petrópolis, fomos acionados primeiramente por um amigo, que é jornalista e tem família na região. Logo em seguida, muitos bombeiros que fizeram o curso de operações em desastres comigo mandaram mensagens. Então, começamos a receber muitas imagens de diversos locais da cidade através das redes sociais e de nossos contatos pessoais”, explica o capitão.

Ele conta que, a partir dessas imagens, reuniu um grupo para auxiliar nos resgates. “Avaliamos a situação, até mesmo da dificuldade de acesso de equipes via Rio de Janeiro, e decidimos reunir um primeiro grupo para nos deslocarmos de Belo Horizonte até a região para auxiliar as equipes de busca que já estariam por lá – ou até mesmo em áreas que não tivessem sido acessadas ainda”, afirma.

Farah relata os primeiros trabalhos realizados: “Fomos acionados para uma área onde havia uma senhora presa debaixo de escombros. Havia um resgatista no local. Inicialmente, auxiliamos com orientações e apoio, mas a área de resgate estava apresentando muito risco e a senhora estava com muita dor e cansaço. Então, interviemos no local e auxiliamos na retirada. Ela foi levada para o hospital com vida.”

A Humus participou ainda do resgate de uma criança, um menino de 11 anos. Infelizmente, alguns familiares não sobreviveram. Léo Farah avalia que as chances de pessoas ainda serem encontradas com vida são baixas. “Os protocolos dizem que em até 7 dias as buscas seguem nesse sentido. Existem casos no mundo que chegam até 63 dias (como nos terremotos do Paquistão, em 2015). Mas, infelizmente, pelo que vimos no local e pelas características desse tipo de desastre, envolvendo lama, as chances são muito baixas. Vamos retomar a operação em Petrópolis, a fim de ajudar a localizar pessoas ainda desaparecidas e levar um pouco de conforto para as famílias”, reforça.

“Em qualquer desastre, o tempo de resposta é um fator fundamental. Muitas vezes é isso que vai decidir sobre o salvamento de uma pessoa com ou sem vida. Basicamente, as chances de um resgate com vida se reduzem de 90% para 7% entre a 1ª e a 120ª hora (quinto dia)”, diz Leonard Farah.

Ele explica que são as características de cada desastre que vão definir se há mais ou menos tempo para uma ação de resposta. “Um acidente de trânsito, um incêndio, um afogamento, um rompimento de barragem, um deslizamento de terra têm elementos que podem dar mais ou menos tempo para o resgate. Mesmo assim, as variáveis também são diferentes a cada desastre.”

O capitão lembra ainda que os esforços de resgate “devem seguir protocolos e prioridades, sem colocar em risco mais pessoas, mas tendo a certeza que mesmo se as expectativas de encontrar pessoas com vida forem nulas, o resgate deve ser realizado para que familiares e amigos possam encerrar aquela história com dignidade e respeito”.

chuvas aumentaram temor de novos deslizamentos
Em meio às buscas intensas, chuvas aumentaram temor de novos deslizamentos (foto: Carl de Souza/AFP )


Cidade mergulhada em luto e medo

Rio de Janeiro – A cidade serrana de Petrópolis voltou a registrar fortes chuvas ontem, três dias após um temporal histórico que deixou ao menos 136 mortos e cobriu bairros inteiros de lama, sob a qual ainda há 218 desaparecidos, segundo balanço feito na noite de ontem. Na antiga cidade imperial, situada ao norte do Rio de Janeiro, o trabalho de busca não para, apesar de a esperança de encontrar vítimas com vida seja escassa. Em meio ao caos, um novo problema. Autoridades receberam ontem denúncias de saques em casas desocupadas pelos moradores nas áreas de risco. Quase 970 pessoas estão desabrigadas ou desalojadas. Em 24 pontos da cidade, 41 equipes de bombeiros trabalham nas buscas.

O Morro da Oficina, uma das colinas do bairro Alto da Serra, pode ser considerado o epicentro da tragédia. Cerca de 80 casas foram engolidas com força pelas torrentes de barro que arrastaram carros, ônibus com passageiros e tudo ao seu redor. "Pode ser que ainda tenha mais de 50 pessoas aqui embaixo, desde terça-feira já foram retirados 98" corpos, explicou Roberto Amaral, coordenador do grupo especializado em desastres naturais do Corpo de Bombeiros Civis, enquanto efetivos e voluntários retiravam escombros e cavavam a lama com pás e enxadas em busca de algum vestígio de vida. "Gostaríamos de terminar o quanto antes, mas aqui temos que trabalhar até que saia o último", acrescentou.

Pela manhã e no começo da noite, choveu com força e as autoridades municipais voltaram a ativar as sirenes de alerta por riscos de deslizamento. "Todo o mundo está com muito medo. Qualquer barulho você se assusta. Toda a cidade está assim. É apavorante", disse Antenor Alves de Alcântara, um aposentado de 67 anos, que se mudou com seus familiares para o morro mais próximo. "É bom o presidente nos visitar, mas não vai mudar nada", acrescentou, referindo-se ao sobrevoo feito ontem no local pelo chefe do Executivo federal, Jair Bolsonaro.

O desastre apresenta números cada vez mais dramáticos. Até o fechamento desta edição, haviam sido confirmadas 136 mortes, o resgate de 24 pessoas com vida e 967  moradores deslocados. Os números de desaparecidos são confusos, devido às dificuldades na identificação de corpos. Até quinta-feira, a Polícia Civil registrava 116 desaparecidos. Ontem, o total subiu para 218. Mas os números passam por revisão à medida que sobreviventes são localizados, as famílias registram novos nomes ou corpos são identificados.

Os especialistas afirmam que a tragédia é consequência de uma combinação de fatores, entre eles uma chuva em seis horas maior que a média histórica de todo fevereiro, a topografia da região e a existência de grandes bairros com casas precárias, muitas delas construídas de forma ilegal, nas áreas de risco.

Destroços às margens da BR-040

Os destroços retirados das ruas e de locais de deslizamento de terra em Petrópolis, no estado do Rio, serão levados para um terreno localizado às margens da BR-040, que liga o Rio de Janeiro a Brasília. A informação foi divulgada pelo Ministério Público (MPRJ). O órgão acrescentou que a cidade carece de áreas licenciadas para a destinação desse tipo de resíduo. Mas como a situação é emergencial, buscou-se uma área que cause o menor impacto possível. O local pensado anteriormente tinha nascentes de recursos hídricos, por isso teve que ser descartado. O MPRJ montou uma força-tarefa para atuar na cidade afetada por chuvas intensas nos últimos dias. Além de auxiliar nos trabalhos de liberação de corpos e busca por desaparecidos, o Ministério Público também está expedindo solicitações de vistorias para a Defesa Civil, entre outras atividades.

enquanto isso...

...Papa reza pelas vítimas

O papa Francisco prestou solidariedade às vítimas da tragédia em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, ontem. Por meio de um telegrama, enviado pela Santa Sé ao bispo de Petrópolis, o secretário do pontífice, cardeal Pietro Parolin, disse que o papa está rezando pelas vítimas. 
"O Santo Padre, ao tomar conhecimento com profundo pesar das trágicas consequências do deslizamento de terras nessa cidade, confia ao senhor bispo transmitir às famílias das vítimas as suas condolências e a sua participação na dor de todos os enlutados ou despojados de seus haveres", escreveu em português. Francisco também disse que deseja "pronto restabelecimento e serenidade e consolação da esperança cristã para todos os atingidos pela dolorosa provação".


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