Bombas ecoam por todos os lados entre a multidão de camisas pretas e faixas de protesto. Famílias de policiais com carrinhos de bebês, que trariam um ar de leveza, contrastam com policiais civis, penais e militares com porte ostensivo de armas (pistolas à mostra nos coldres).
É vedado aos policiais na manifestação portar armas, usar farda, perturbar a ordem pública, invadir qualquer local, interromper o trânsito, proferir insultos, queimar objetos e congêneres, deflagrar greve a partir da manifestação.
Segundo o Artigo 5º da Constituição, "todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente".
A insatisfação está por toda parte na manifestação da segurança pública nesta segunda-feira (21/07), na Praça da Estação, Centro de BH.
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Cerca de 30 minutos depois do início oficial do movimento, programado para 9h, mais da metade da praça já estava tomada, reunindo, de acordo com organizadores, cerca de 8 mil servidores e suas famílias. As bombas são o único ruído a interromper o apitaço e os cantos de protesto.
A tensão é alta e mesmo depois das exigências feitas por vários integrantes da categoria para manter o clima de paz, não utilizando fardamento e armas de fogo, para não permitir punições disciplinares, esse pedido acabou não sendo atendido.
O porte das armas de fogo está aberto. E reforça esse clima de tensão. A reportagem encontrou vários membros das forças policiais com o porte ostensivo. Um deles, policial civil de roupas comuns, traz no peito a insígnia da corporação em uma corrente e um coldre na cintura, com uma pistola.
Também um policial civil com camisa da corporação perambula com sua pistola à mostra presa à calça jeans abaixo da camisa preta. Dois policiais penais também tinham pistolas visíveis entre a calça e as camisas, esses certamente não em serviço por estarem fora do trabalho.
Caixões com o nome do governador Romeu Zema foram empilhados engrossam a insatisfação. Do alto dos carros de som, das árvores e no chão, faixas trazem exigências e críticas pesadas ao governo estadual. “Zema caloteiro, devolve meu dinheiro”, entoam a toda hora.
“Polícia militar, polícia civil, polícia penal, bombeiro militar e sistema sócio educativo. Zema; chega de mentiras! Respeito à segurança pública! Recomposição já!”, diz uma das placas.
O Monumento à Terra Mineira, alicerçado em placas de bronze com a imagem de Tiradentes, patrono das polícias, na Praça da Estação, em BH, recebeu bandeiras com emblemas dos bombeiros e das polícias Militar, Civil e Penal.
Sobre o monumento e por todo o espaço público se espalham também faixas criticando o governo estadual e exigindo a prometida recomposição inflacionária do salário, defasado já há sete anos.
O casal de policiais penais da ativa, M.D.A. de 47 anos, e K.R., de 39, vieram de ônibus de Uberaba com seus dois filhos de 2 anos e 4 meses e 7 anos para reforçar a luta pela sobrevivência familiar como uma das bandeiras da manifestação.
“Desde grávida trago sempre meus filhos para a manifestação porque é justa e é por eles. Não viemos armados. Mas vai imperar a paz e vamos conseguir”, espera a mulher.
“A gente tem custos para trabalhar que tira da família. Para ir até à penitenciária, rodo 20 km de segunda a sexta. WhatsApp é do meu telefone para resolver questões do trabalho. A gente faz de tudo e só quer a recomposição da inflação e não aumento”, disse ele.
O que diz o governo de Minas
Por meio de nota enviada no fim da manhã desta segunda-feira, o governo do estado diz que o plano de recuperação fiscal, que é discutido na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deve permitir uma nova recomposição no salário dos servidores. Confira o posicionamento na íntegra abaixo:
“Desde o início da gestão atual, o Governo de Minas vem equilibrando as contas e recuperando a capacidade financeira do Estado, o que permitiu realizar o pagamento dos salários dos servidores públicos de Minas Gerais de forma integral, no quinto dia útil do mês, além da quitação do 13º salário sem parcelamentos.
O Governo de Minas sabe da necessidade da recomposição salarial do funcionalismo público e tem feito todo o esforço para que a correção da inflação seja possível para todos os servidores estaduais. A atual gestão reconhece a importância dos profissionais das Forças da Segurança para o Estado. Por isso, eles receberam reajuste de 13% em 2020. Além disso, foram os primeiros profissionais a receberem o salário em dia. Continuamos em amplo processo de negociação com os representantes dessas categorias na busca de uma nova recomposição, porque sabemos que ela é necessária.
A renegociação da dívida bilionária com a União, por meio do plano de recuperação fiscal, permitirá uma nova recomposição dos salários dos profissionais de segurança. Continuamos em busca de outras alternativas para fazer a reposição das perdas inflacionárias.”