A irmã da mineira de Pouso Alegre, no Sul de Minas, presa na Tailândia por suspeita de tráfico de drogas na semana passada, afirma que a família vem sofrendo com a notícia desde que ficou sabendo da prisão. Em entrevista ao Terra do Mandu nesta segunda-feira (21/02), Mariana Coelho, irmã de Mary Hellen Coelho Silva, afirmou que tem sido desesperador, ainda mais depois de saber das leis da Tailândia, onde o tráfico de drogas pode ser punido com pena de morte ou prisão perpétua, dependendo da quantidade e das circunstâncias.
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“Têm sido dias muito difíceis, porque eu fui pesquisar a fundo pra saber o país que ela estava, sobre as leis. Está sendo desesperador, tanto pra mim quanto para minha família, sabendo que a menina de 22 anos corre risco de vida, prisão perpétua, estão sendo muito pesados esses dias”, disse ela.
Como a família soube da prisão?
Mariana contou que ela e a família ficaram sabendo da prisão da irmã em áudio enviados por ela mesma enquanto ainda estava detida no aeroporto de Bangkok, no domingo (13/02). A irmã disse que não sabia que Mary Hellen estava fora do país, pois havia ido para Curitiba encontrar um rapaz que havia conhecido.
“Ela entrou em contato comigo domingo à noite e me mandou um áudio desesperada para eu fazer alguma coisa, porque ela tinha sido detida no aeroporto de Bangkok. Aí eu fiquei desesperada, porque eu nem sabia que ela estava na Tailândia, foi uma mensagem que eu não esperava receber”, disse ela.
“Foi a gota d’água. Porque imagina ouvir um áudio da sua irmã falando 'estou presa aqui na Tailândia?' E eu nem sabia se era por tráfico que ela tinha ido, depois que eu fiquei sabendo, quando saiu a matéria no site lá da Tailândia”, completou.
“Ela falou que ia para Curitiba, que conheceu um namoradinho, essas coisas que os jovens fazem hoje, que ela ia pra lá, que estava conversando com o cara fazia tempo, que tinha se interessado por ele. Não sabia que ela ia fazer uma viagem internacional, que ela nunca saiu do Brasil”, disse Mariana.
Mãe passou mal ao saber de prisão
Segundo Mariana, depois dos áudios recebidos pela irmã, a família não teve mais nenhuma notícia da jovem. A mãe delas, que luta contra um câncer, precisou ser internada quando soube que a filha havia sido presa no país asiático.
“Até então, a gente está muito preocupada. A gente não sabe se ela foi julgada, se não foi. Nenhuma resposta oficial das autoridades de lá, não entraram em contato com a gente da família”, disse.
“Eu fui pesquisar e fiquei desesperada. A minha mãe como está doente, semana passada eu tive que contar pra ela, aí ela foi internada no hospital, ficou em uma semana, em estado de choque”, comentou.
Jovem pediu demissão uma semana antes
De uma família de cinco irmãos, Mary Hellen é a do meio, e Mariana, a mais velha. Filhas de pais diferentes, mas da mesma mãe, as irmãs moram em casas separadas em Pouso Alegre. Mariana contou que a irmã morava sozinha e paga aluguel, mas que pediu demissão de onde trabalhava, em uma churrascaria e inclusive com carteira assinada, uma semana antes do ocorrido.
“Ela pediu demissão uma semana antes. Mas ela estava estudando, fazendo autoescola, com o objetivo de comprar uma moto. Como todos esses jovens têm, planos, as coisas para fazer, ela estava empenhada nas coisas dela”, contou.
“Ela trabalhou bastante tempo lá (na churrascaria). Antes dela trabalhar nessa churrascaria famosa, ela trabalhou em várias lanchonetes como chapeira, trabalhou em padaria. Ela nunca ficou parada, sempre trabalhou, sempre correu atrás das coisas dela, desde muito nova”, completou a irmã.
Ela ainda conta que Mary Hellen é muito conhecida na cidade e sempre estava pronta a ajudar as pessoas que precisavam dela. A irmã contou ainda que ela nunca chegou a ser presa e que não sabia do envolvimento dela com o tráfico de drogas.
“Ela nunca foi presa, não tem passagem pela polícia. Ela é muito conhecida aqui (em Pouso Alegre), muito boa, ajudava muito as pessoas. Quando teve aquela enchente aqui em janeiro, ela ajudou bastante a gente, arrecadou 50 cestas básicas”, contou.
Família busca por ajuda
A família conta com a ajuda de advogados de Pouso Alegre, mas estão em busca de brasileiros que possam ajudar direto da Tailândia, para que Mary Hellen seja trazida ao Brasil.
“Eu estou buscando ajuda, resposta para a gente saber o que pode acontecer, o que pode estar sendo feito, para ajudar, para tirar ela de lá. A gente quer muito tirar ela, trazer ela pra cá; que ela pague sim essa pena desse crime que ela cometeu, mas que ela pague aqui no Brasil, porque ela é brasileira, uma cidadã brasileira”, comentou. “Duas advogadas se disponibilizaram a ajudar a gente, sem custo nenhum, se solidarizaram”, completou.
O que diz o Itamaraty?
O portal "Terra do Mandu" entrou em contato com o Itamaraty, que informou, por meio da embaixada em Bangkok, que acompanha a situação e presta toda a assistência cabível, mas que “não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros”. Confira a nota completa:
“O Itamaraty, por meio da Embaixada em Bangkok, acompanha a situação e presta toda a assistência cabível aos nacionais, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local. Em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros”.
De acordo com Mariana, o Itamaraty chegou a falar que não tinha como arrumar advogado para a jovem na Tailândia e eles confirmaram que realmente era sua irmã quem tinha sido detida no aeroporto.
“É mais pra gente saber se consegue alguma ajuda, alguma resposta do Itamaraty, alguma coisa tem que ser feita, não pode ficar assim. Eu mandei uma mensagem (para o Itamaraty) no dia que eu soube da prisão dela, porque eu precisava de mais informações, porque eu não sabia o que estava acontecendo. Na quarta-feira eles me responderam que sim, que tinham conhecimento da prisão dela, que realmente era minha irmã que foi detida, só que até então eles não podiam arrumar advogado, não podia fazer nada, só podia assegurar que ela estava tendo todos os direitos condizentes com as leis da Tailândia”, comentou.
“A luta minha, a principal, é que ela não seja penalizada com morte e nem pegue prisão perpétua. Sim, ela tem que pagar pelo crime que estão falando que ela cometeu, mas assim, só de ela não pegar pena de morte e não ser penalizada com prisão perpétua, o objetivo é esse. O foco é trazer ela pro Brasil, pra cumprir a pena aqui”, disse.
Mariana ainda disse que acredita que a irmã pode ter caído no meio do acontecido “de para-quedas”, sem saber dos riscos que estava correndo. Ela afirmou que, no momento, a única coisa que a família quer é que ela volte com vida para pagar por seus crimes no país.
“Eu não sei o que pode ter acontecido. Eu não sei nem se ela estava ciente porque as vezes tipo, vai lá, conhece uma pessoa, começa a se envolver, a pessoa 'vamos viajar não sei pra onde', e ela vai, assim na emoção, e não sabe nem o que está acontecendo, dos riscos que ela está correndo. Com certeza ela não sabia, porque uma pessoa em sã consciência não iria fazer isso”, disse.
“Eu quero muito que ela volte, porque ela é muito jovem. Uma jovem de 22 anos, eu quero muito que ela volte. Não tenho nenhuma luz ainda”, encerrou.
Entenda o caso
Três brasileiros, entre eles a jovem de Pouso Alegre, foram presos na Tailândia na última semana por suspeita de tráfico internacional de drogas. Mary Hellen Coelho, de 22 anos, foi detida ao desembarcar no aeroporto de Bangkok, na última segunda-feira (14/02). Ela tinha saído do Brasil pelo aeroporto de Curitiba (PR).
Comunicados de autoridades tailandesas informam que foram apreendidos com os brasileiros 15,5 quilos de cocaína, com valor equivalente a cerca de R$ 7,5 milhões. As drogas estavam nas malas de cada um deles. Mary Hellen e um amigo, de 27 anos chegaram em um voo. Outro rapaz, de 24 anos, chegou em um segundo voo, logo depois, e também foi preso. Ele também saiu da capital paranaense.
Funcionários do aeroporto da Tailândia desconfiaram de itens mostrados no raio-X e as três malas levadas pela jovem de Pouso Alegre e o amigo foram revistadas. Foram encontrados 9 quilos de cocaína em um compartimento oculto.
Mais tarde, o outro paranaense, de 24 anos, foi preso com 6,5 quilos de cocaína em duas malas. Ainda não há confirmação se esse rapaz conhecia os outros dois brasileiros presos no mesmo dia. (Iago Almeida/Especial para o EM)