Colorindo as ruas de Belo Horizonte de rosa e amarelo desde 2010, o bloco Então, Brilha!, um dos mais aguardados e queridos da folia, inovou para levar um pouco do que está no seu DNA: "Gente é pra Brilhar! Brilhar para sempre, brilhar como um farol, brilhar com brilho eterno, gente é pra brilhar"...
Sem avisar, divulgar, segredo guardado a sete chaves, integrantes do Então, Brilha! circulam por ruas da capital e supreendem as pessoas por onde passam a bordo do que chamam de "trem da alegria", neste sábado.
A cantora, vocalista do bloco, Michele Andreaza, explicou a proposta: "É o nosso trenzinho da alegria. Decidimos fazer desta maneira porque é importante estarmos na rua, marcarmos presença e, desta maneira, como não divulgamos, saímos andando, circulando na cidade, não dá tempo das pessoas se aglomerarem. E também é uma forma de marcar a resistência do carnaval de rua. Apesar da pandemia, conseguimos fazer desta maneira, sem aglomerar".
Sobre a proibição dos blocos comemorarem a festa de Momo, novamente em 2022, Michele Andreaza se mostra resignada, mas não conformada: "Acho que tem que fazer o que tem de fazer." No entanto, a cantora alfineta a liberação por parte das autoridades públicas para os eventos fechados: "Uma coisa é o carnaval de rua, a outra são as festas fechadas. Existe uma elitização neste sentido, mas a responsabilidade é da prefeitura de realmente pensar a respeito. De proibir o carnaval de rua e permitir os eventos fechados. É uma limitação que deveria ter sido um pouco mais pensada", acredita.
Como não há o que fazer, para 2023, Michele só espera poder soltar a voz com segurança e muita folia: "Espero que tenha o carnaval, que acabe a pandemia ou que se torne uma endemia e que possamos viver normal".
Já Flávia Resende, de 44 anos, com bebê no colo, era só sorriso diante do encontro com o Então, Brilha!: "Estava supertriste em casa sem o carnaval, então, achei maravilhoso. É seguro, é supresa, não promove aglomeração. Uma ideia maravilhosa, criatividade pura. Claro, sou consciente de que é necessário não ter o carnaval, mas o coração chama pela alegria. E ano que vem espero me jogar e que tudo passe".
E por onde o Então, Brilha! passa, quem acompanha faz do carnaval também um ato político. Muitos gritam: "Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé, manda o Bolsonaro embora" e também "fora Bolsonaro" é soltado com plenos pulmões. E seguem: "Fora Bolsonaro porque ano que vem a gente quer aglomerar geral. Com todo mundo vacinado! Ano que vem é “nois” no carnaval de rua".
De Bike, Tita Marçal, de 36 anos, não foi atrás do trio elétrico, mas do trenzinho, depois de ficar sabendo por stories do Instragram a surpresa do bloco para os foliões órfãos do carnaval: "É um ato simbólico de quem ama muito o carnaval e não quer deixar passar mais um ano sem uma manifestação que seja. Uma luzinha acendendo no ano. É a razão de estar com algum adereço, de pegar metrô ou ir na farmácia usando uma purpurina qualquer. Ano passado fiz isso."
Para Tita, "várias coisas estão dentro do carnaval e a mais forte e simbólica é essa licença poética para a fantasia, a liberdade, o comportamento mais livre. E não é porque não pode aglomerar que esta fantasia tem que morrer".
E para 2023, a expectatica de Tita é de "muitos abraços, as pessos vão ficar grudadas. Então, acho que minha fantasia será cola de sapateiro, tomar uma banho de cola de contato".
O Então, Brilha! tem um posicionamento oficial sobre a proibição do carnaval de rua. "Vacinar, viver e brilhar nas ruas, não nos blocódromos". Para o carnaval 2022, o bloco "levanta a bandeira da liberdade e sai em defesa da cultura, das ruas, contra a privatização da alegria".