Em vez das batidas altas reverberando dos porta-malas de carros, a constância da sinfonia das cigarras da mata, o chacoalhar das folhagens ao vento. Depois do afogamento de um jovem de 21 anos que comemorava seu aniversário neste sábado (26/2), acampado na lagoa de Várzea das Flores, em Betim, na Região Metropolitana de BH, a fiscalização que só permite moradores e sitiantes apertou e o manancial deixou de ser um atrativo de agito neste domingo (27/2).
Após a tragédia, as guardas municipais de Contagem e Betim, e a Polícia Militar fecharam o cerco aos acessos ao manancial que sempre atraiu foliões e banhistas da Grande BH. Apenas moradores e sitiantes têm permissão de passagem, sem poder nadar, ainda que muitos desafiem essa imposição das autoridades.
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Em vez do agito, pelas trilhas e estradas de terra que circundam o lago se ampliou o tráfego de ciclistas em suas montain bikes coloridas, e uma tropa de cavaleiros montados em cavalos alugados aproveitando o dia de sol.
De um sofá deixado em posição de deck como nas badaladas praias do sul do Brasil, um casal de namorados de Betim transformou a beira do lago em seu recanto de paz e cumplicidade como se estivessem no internacionalmente badalado Balneário Camboriú, em Santa catarina.
"O que nos trouxe aqui foi a paz. um momento de namorar, de estarmos juntos nessa natureza tão gostosa, aproveitando a sombra das árvores debaixo desse calorão. Nessa água que é tão pura que entra até nas nossas torneiras e filtros", disse a empresária Karine cardoso, de 45 anos.
O namorado dela, o vigilante Diego Souza, de 35, disse que encontrou espaço para descanso e meditação no lago. Aqui posso deixar a tensão dotrabalho e da vida me deixar, ter um momento meu com a natureza, com o descanso, com minha namorada", disse o segurança, que mora em Betim, e lembra que nos carnavais passados, a folia tomava conta do espaço. "Acho que a vida nos dá oportunidades diferentes. Antes, a gente curtia o agito. Hoje, temos doença (COVID-19), então aproveitamos a paz a saúde", pontuou.
Pedalando pelas trilhas de terra que circundam o lago, o empresário André Costa, de 48 anos, aproveitou a manhã para percorrer o manancial e admirar, ao lado da filha, Ana Luíza Sadi, de 11, os remansos que normalmente estariam repletas de foliões.
"Ninguém quer a pandemia. Mas, quem sabe, seja um momento de se pensar em coisas mais saudáveis, em contemplação e família. Não recrimino o carnaval, mas, talvez, estaria em casa com a minha filha em vez de na natureza pedalando com ela e os amigos. Uma atividade saudável", pondera o sitiante, que vive nas margens do lago há mais de 30 anos.
Quietinho, com seus dois filhos de 2 anos e de 11 anos, debaixo da sombra da árvore no remanso de capim, onde dizem que se pega muitas traíras, o confeiteiro Thiago Silva, de 32 anos, travava o silencioso embate entre a isca e o peixe.
"Sinceramente. Ninguém queria a pandemia, mas é uma oportunidade para a gente rever se quer é só balada, só agito, Até porque nem adianta querer, porque não vai poder. A gente tem essa oportunidade de ter um momento assim, mais tranquilo, e quando o carnaval voltar com força total, vamos também", disse Thiago.
À frente da cavalgada que subia poeira nas estradas da Várzea das Flores, como as tropas descritas no livro "Grande Sertão:Veredas", de Guimarães Rosa, o empresário João Matozinhos Ribeiro da Silva, de 67 anos, aproveitava para agrupar na cavalgada em volta do lago os netos e amigos.
"Acho que se não fossem proibidas as aglomerações, a gente nem conseguiria cavalgar, porque o lago ficaria lotado. É muito bom ter uma paz, alugar unsc avalos e vir com filho, amigo, netos. Depois a gente para num barzinho, toma umas cervejas, vira a serra e vai embora", disse.
A mudança de perfil e de atividades dos turistas neste carnaval pandêmico, contudo, está longe de suprir as espectativas dos comerciantes ao redor do manancial.
"Essas interdições espantaram as pessoas. E quem vem, traz a própria bebida e comidfa, vai para dentro dos sítios ou nem fica parado na beira do lago, porque não pode. Para o comerciante está terrível. E ainda vem a prefeitura e a fiscalização apertar a gente se vende uma cerveja no lado de fora. espero mesmo é que o carnaval volte a ser forte por aqui", disse o comerciante Luciano Pereira, de 40, o Branco Keven, dono de bar e mercearia que é referência no balneário da Grande BH.