“Coração de batuqueiro não se engana: chega fevereiro, faça chuva ou faça sol, pulsa em ritmo alucinante, liberta o corpo para a alegria do verão e contagia a cidade em todos seus quadrantes. É a vida na voz, na veia, na rua.” Acostumado a cantar para multidões à frente do Havayanas Usadas, o vocalista Heleno Augusto, um dos organizadores do bloco, traz na ponta da língua a música que compôs com o regente Peu Cardoso para manter o clima nas alturas e preencher os espaços vazios que trazem saudade.
Na manhã desta segunda-feira, não fosse a pandemia cortando as asas do folião pela segunda vez consecutiva, o Havayanas faria seu desfile na Avenida dos Andradas, na Região Leste de Belo Horizonte.
Na manhã desta segunda-feira, não fosse a pandemia cortando as asas do folião pela segunda vez consecutiva, o Havayanas faria seu desfile na Avenida dos Andradas, na Região Leste de Belo Horizonte.
“Coração de batuqueiro, quando chega fevereiro, sabe bem como é que é. Segue o bloco e vai pra frente, numa onda diferente, na pegada do axé”, canta Heleno Augusto Fernandes Campos, que tem feito shows pela capital com a banda do bloco, e, na manhã de ontem, se encontrou com a reportagem do Estado de Minas, na Avenida dos Andradas.
“Sinto falta não só do desfile, mas dos ensaios da bateria, a nossa Chinelada”, conta o vocalista, vestido com o último figurino – em fevereiro de 2020, o tema do bloco foi “Maria Bonita mandou me chamar” – e carregando o estandarte. Olhando a via pública sem “público” em pleno carnaval, a não ser alguns moradores em suas atividades rotineiras, o vocalista disparou: “É esquisito”.
O bloco levou em seus dois últimos desfiles cerca de 300 mil pessoas às ruas da capital, gerando mais de 400 empregos diretos e uma grande quantidade de indiretos, revela o belo-horizontino.
INSPIRAÇÃO
A energia altamente inflamável da bateria, com seus 200 componentes, toca o coração de batuqueiro de Heleno Augusto, que destaca a realização das oficinas, das trocas de experiência, da paixão pelo axé da Bahia, inspirador da turma, e outros ritmos. “Tudo depende do tema. Já tivemos outros ritmos nordestinos, como também rumba, salsa.”
No período de pandemia, a turma do bloco fez várias lives, mas nada se compara à apresentação cara a cara, na muvuca do carnaval, no meio da empolgação do reinado de Momo. A frase “dias melhores virão” traduz a confiança.
A exemplo dos demais organizadores de blocos de BH, Heleno Augusto espera o fim da pandemia para as cortinas se abrirem e o grande espetáculo da trajetória humana voltar ao normal no planeta. “Vivemos um momento cercado de incertezas quanto ao presente e futuro, de forma especial para as atividades de um bloco de carnaval e profissionais da área cultural. Essas pessoas estão há dois anos sem poder trabalhar e não têm nenhum auxílio de políticas públicas ou recursos diretos. A prefeitura vai mudando os protocolos e exigências de acordo com o avanço da contaminação do vírus, e a gente vai acompanhando e se adaptando.”
O vocalista conta que o bloco criado em 2016 por ele, Peu Cardoso, Débora Mendes, Heleno Augusto, Rodrigo Boi, Daniel Melão, Cris Gil e Maurílio Badá, e com quatro desfiles (nos anos subsequentes), tem as atividades suspensas desde março de 2020. “A gente tentou retomá-las recentemente, mas devido ao avanço da contaminação da gripe e da COVID, e ainda mais com as chuvas, resolvemos cancelar.”
BATUQUES
A banda do bloco, com 10 integrantes, voltou a ensaiar em dezembro para montar um novo show que tem como tema a canção "Coração de batuqueiro", de autoria de Peu Cardoso e Heleno Augusto, para homenagear ritmos, tambores, batuques e a cultura carnavalesca. A banda faz apresentações em eventos fechados, com controle de acesso.
Assim, entram em cena os sons dos surdos, repiques, caixas, congas, xequerê, agogô, teclado, guitarra e baixo. Tudo isso a cargo de Dani Ponce, Peu Cardoso, Laiza Lamara, Isabela Leite e Rafael Almeida (percussão), Rodrigo Boi (baixo e vocal), Táskia Ferraz (guitarra e voz), Gabruga (teclado) e Vi Coelho e Heleno Augusto (voz). Então, é aquela história: quem esperar, e gostar do carnaval, verá! Afinal, nada como um dia (de folia) após o outro.