Dramas, histórias de superação e outras nem tanto, e sofrimento de profissionais de saúde e pacientes. Desde o primeiro caso de coronavírus registrado em uma mulher de 47 anos de Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro, em 8 de março de 2020, Minas Gerais completou nesta quarta-feira (9/3) a perda de 60 mil vidas pela doença. A enorme barbárie provocada pelo silencioso vírus em apenas dois anos no estado se assemelha a um Mineirão completamente lotado, mas num clima triste. Enquanto as lembranças das vítimas ficam restritas em porta-retratos, autoridades ainda colecionam desafios para que a pandemia seja devidamente superada.
Nesta quarta-feira (9/3), Minas completou 60.079 mortes por coronavírus desde o início da pandemia. Nas últimas 24 horas, foram 80 óbitos e, com os novos confirmados, o estado soma 3.249.737 pessoas atingidas pela infecção.
A COVID-19 teve fases distintas em Minas, impulsionada pelo surgimento de diversas variantes provenientes de outros continentes. A primeira morte apareceu 21 dias depois em Belo Horizonte, de uma idosa de 82 anos, que apresentou quadro de febre, tosse e desconforto respiratório. Exatamente sete meses depois, o estado já passava das 10 mil vítimas pela doença, com mais de 415 mil casos confirmados.
As fases mais letais do coronavírus foram justamente no primeiro semestre e no início do segundo semestre de 2021, quando a variante Delta veio à tona, depois de ser descoberta na Índia. Entre novembro de 2020 e julho do ano seguinte, Minas testemunhou a morte de mais de 40 mil pessoas. O cenário também foi desesperador nos hospitais, com filas de ambulâncias, falta de leitos e equipes médicas sob forte desgaste. O governo de Minas decretou onda roxa em todas as regiões, com a polêmica medida do toque de recolher, para tentar reduzir os casos.
O estado também abriu um hospital de campanha no Expominas com 800 leitos, mas ele nunca chegou a ser usado de fato. Atualmente, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) diz que Minas vem avançando de fato graças à vacinação, o que ajuda a dar um respiro às unidades de saúde.
Referência em atendimento da COVID-19 em todo o estado, a Santa Casa BH chegou a colocar à disposição 231 vagas de UTI e outras 376 de enfermaria, ainda entre maio e junho de 2020, sua maior oferta na pandemia. Posteriormente, foi necessário que o hospital reforçasse seu quadro de leitos para abrigar pacientes de outras cidades e regiões.
“A pandemia chegou um pouco mais tarde em Belo Horizonte do que em outras cidades. Com isso, conseguimos preparar um plano de combate à doença um mês antes de receber os primeiros pacientes. Tentamos dar um passo à frente, pois já tínhamos estrutura de laboratórios, de UTIs e das alas. Com o aumento dos casos, houve sobrecarga humana muito grande. Muitos dos pacientes tiveram casos muito graves, com sofrimento. Foi um momento de muito peso para todos”, ressalta o médico Cláudio Dornas, diretor de Assistência à Saúde do Grupo Santa Casa BH.
Ele diz que os conhecimentos adquiridos pela equipe ao longo da pandemia foram fundamentais para o tratamento dos pacientes e será o grande legado daqui para a frente: “Infelizmente pela gravidade do momento, entre maio e junho, e sem a vacina, muitas pessoas com comorbidades não resistiram, depois de ficarem 30 ou 40 dias internados. Não era nossa rotina ver tantos pacientes em quadro grave. Esse momento de toda uma população toda exposta ao vírus trouxe um cenário muito ruim. Mas tivemos muito aprendizado em termos de tecnologia e informação, o que ajudou a reduzir a quantidade de casos. Agora, a gravidade dos pacientes é muito menor, com queda no número de óbitos. Nossa equipe também está mais treinada e preparada”.
Depois da Delta, a variante Ômicron trouxe uma nova sensação de medo para os mineiros a partir de dezembro do ano passado. Com poucos dias, a cepa já era a mais encontrada nas amostras genotipadas feitas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), o que contribuiu para a elevação de casos. Janeiro foi, disparado, o mês com o maior número de testes positivos, com mais de 500 mil contaminações.
Apesar disso, a quantidade de mortes não teve avanço, em virtude da aceleração da vacinação. Atualmente, Minas conta com 86,43% da primeira dose aplicada, 81,30% com a segunda dose ou dose única e 44,75% com a dose de reforço. A vacinação infantil, porém, ainda é um desafio para as autoridades: somente 55,9% das crianças até 11 anos foram imunizadas com a primeira dose e apenas 2,64% com a segunda.
Cautela
O infectologista e professor de medicina da UFMG, Geraldo Cunha Cury, afirma que o panorama da doença no estado ainda requer uma série de cuidados: “A vacinação está num nível elevado, mas poderia ser maior. Os indicadores melhoraram, pois vamos uma diminuição da taxa de transmissão e na ocupação de leitos de UTI e enfermaria. É uma situação mais confortável do que antes. Ainda assim, temos muitas pessoas internadas com casos moderados e graves de COVID. É uma doença que ainda existe. Temos de pensar que a pandemia não acabou, embora esteja em novo formato”.
Ele entende que é preciso esperar um tempo para ver o resultado do relaxamento das medidas, como a aoblição do uso de máscaras em locais públicos: “Vemos no Brasil que os indicadores também estão melhorando. Belo Horizonte, por exemplo, tirou a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes abertos. É preciso esperar um mês para observar o panorama e ver se haverá novo repique da doença. Essas medidas aumentam a circulação do vírus. Devemos lembrar que alguns locais, como a Feira Hippie e escolas, a máscara continua sendo obrigatória. O Rio de Janeiro aboliu a máscara, inclusive em locais fechados, o que é um absurdo”.
Geraldo Cury também chama a atenção pelo extenso número de pessoas que seguem se tratando após contraírem a doença: “Temos de lembrar que a COVID tem uma etapa, que é a pós-COVID ou COVID longa. São pessoas que tiveram a doença de diversas formas ou que internaram e continuam com problemas. É algo que vai trazer muita demanda para os serviços de saúde. Vamos ter de aprender a conviver com tudo isso”.
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