“Quero mais é vender muitos espetos. A inflação chegou, ganho dela no gogó, na voz, chamando o freguês no grito. Vendendo mais, sempre terei lucro com os espetinhos saindo. Uma hora as coisas voltam a ser de novo como eram."
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No entanto, a feira neste domingo (20/3) continuou tomada de consumidores se enfileirando pelos corredores de barracas de bolsas, calçados, artes e utilidades. Debaixo das coberturas coloridas, várias mudanças permitiram que os impactos da economia não diminuíssem o ímpeto dos consumidores. “Infelizmente, o prato mais barato, a gente teve de aumentar o preço. O tropeirinho é o que mais sai e passou de R$ 15 para R$ 16. Mas isso fez com que os demais produtos continuassem com os mesmos preços devido ao volume de saída dos pratos”, afirma Maria Diniz, a Tatá, da Barraca Ouro de Minas, uma das mais conhecidas da feira.
Quem passa com suas sacolas ou de braços dados pelos corredores de barracas não precebe as artimanhas que os cozinheiros e donos de bancas de alimentos tiveram de fazer para manter suas guloseimas a preços aceitáveis.
“Exigem um botijão por equipamento para operarmos na feira. Se tem cinco equipamentos, são cinco botijões no preço exorbitante que está. Trabalhamos com torresmo com mandioca, que era muito querido, mas tivemos de tirar do cardápio, porque a estufa precisava de mais um botijão. Tem gente que vem do Acre, de São Paulo e encomendam, e não podemos mais ter esses pratos para os turistas”, afirma Maria Diniz, da barraca Ouro de Minas.
Segundo ela, é perceptível que as pessoas perdem menos tempo observando as listas de cardápio expostas dependuradas nas bancas, um pouco retraídas devido aos aumentos de preço. “É uma pena, pois a gente até se adapta, mas deixa de oferecer o que sabemos que as pessoas gostam. Por exemplo, eu tinha macarrão cozido trazido para os pratos, agora, só se fizer na hora, pois a gente tenta não perder nada”, conta.
Entre os consumidores assíduos, há alguma desconfiança. “Mantiveram os preços dos espetos e das porções, mas reduziram a quantidade de carne, de ingredientes. A gente continua vindo, porque gosta demais, mas dá para ver isso acontecendo. E entendemos”, contemporiza o operador de produção Warlei Silva Santos, de 48 anos.
Mesmo com a alta galopante dos preços, os visitantes se mantêm firmes com o programa de domingo. “Está caro, mas daí eu trago a nossa cervejinha em uma bolsa térmica e gasto mais com o tira-gosto, com os pratos que eu e a minha mulher gostamos mais, os tira-gostos mineiros, churrasquinhos, o acarajé”, exemplifica Warlei.
A mulher dele, a cabeleirieira Eliane Nazaré dos Santos, de 53, diz adorar o programa domingueiro. “Sempre venho para a feira. Aqui, mesmo sem querer comprar, a gente passeia, distrai, descansa do estresse do dia a dia. Relaxa com as pessoas que amamos. Mas não dá para deixar de ver que o espeto em algumas barracas saiu de R$ 10 para R$ 13 e que as porções estão sendo reduzidas. Isso quem conhece, enxerga na hora”, afirma Eliane.
Se há quem reduza as porções, a Barraca da Tita do Churrasco estampa placas em 360º atraindo clintes pelo preço de R$ 10 para qualquer espeto de churrasco. E assim ela consegue, ainda, gerar fileiras de pessoas atrás do churrasquinho. “Se tem quem reduza o espeto, o meu sai do mesmo tamanho e quero vender mil”, afirma a vendedora Maria do Carmo Fernandes, de 36 anos.
Entre aqueles que procuram mais o ambiente típico e descontraído para consumir a cerveja gelada, o impacto da inflação atingiu todos os isopores de latas com gelo. “Vou continuar vindo aqui pelo programa, mas tomar uma cervejinha está cada vez mais caro. Sempre bebo a mais baratinha, que era de R$ 5, agora já está R$ 7. O acarajé baiano era R$ 12 e foi para R$ 14. Aos poucos, parece que vão querendo tirar a gente daqui. Mas ainda é um passeio muito gostoso com a família, os filhos e o genro. Vale pela diversão”, afirma a diarista Rosiane Ribeiro, de 43 anos.
Ponto de encontro há 20 anos para as sete amigas do distrito de São Vicente, em Baldim, na Grande BH, a feira ainda é um local indispensável a um grupo de amigas que sobrevive à inflação, dividindo a conta no final. “A economia é necessária e todas nós temos consciência disso. O que não pode é isso ser maior que o nosso objetivo de vir à feira e nos encontrarmos”, diz a professora Marilene Silva Martins, de 62 anos.
O grupo já se apoderou da esquina das avenidas Álvares Cabral com Rua Goiás de tal forma que o arranjo de mesas com baldes de gelo e cervejas geladas se destaca como se fosse um clube privê. E nem os preços altos que todos ali já perceberam lhes tiram esse prazer de reencontro. “Amo estar aqui. E desde os quatro meses de idade trago a minha filha, a Luana, que hoje tem 15 anos. Ela virou nossa fotógrafa oficial de selfies. Está caro? Sim. E muito. Mas o tempo que passa e a gente não se encontra não volta. Isso não tem preço”, define a manicure Cleuza Maritns, de 50 anos.