Jornal Estado de Minas

DANO AMBIENTAL

PBH: 25 toneladas de piche já foram recolhidos do córrego Sarandi

A Prefeitura de Belo Horizonte, informou nesta segunda-feira (21), por meio de nota, que 25 toneladas de piche asfáltico já foram recolhidos no córrego Sarandi, após mobilizações de contenção do material para evitar contaminação das águas da Lagoa da Pampulha.



Desde sábado (19), Belo Horizonte e Contagem criaram barreiras estratégicas ao longo do acesso do córrego, próximo ao Parque Ecológico da Pampulha.

Negligência das autoridades 

O professor da UFMG, médico e idealizador do projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, afirmou que houve negligência por parte das autoridades no derramamento das 29,9 toneladas de piche asfáltico, que ameaçam a Lagoa da Pampulha, tendo em vista que os trabalhos de contenção começaram de forma tardia.

“Os responsáveis pelo Boletim de Ocorrência (BO) e autoridades que estavam no acidente não tiveram o preparo para entender onde o material iria chegar, já que escorreu pelo bueiro, entrando em um mundo subterrâneo e, logo, no caminho da chuva. Caso tivessem conhecimento sobre bacia hidrográfica, saberiam que o piche iria contaminar o córrego Sarandi”, disse.

Apolo afirmou que era necessário ter informado Belo Horizonte no momento do acidente, pois o córrego chega até a Lagoa da Pampulha.

“A Defesa Civil devia ter agido, mobilizando o Corpo de Bombeiros e especialistas, atuando mais próximo do desastre, para que o material não se espalhasse pelas águas da bacia do ribeirão. A ligação deveria ter sido cortada imediatamente e, assim, o dano seria menor”, completou.



O professor da UFMG também falou sobre a dificuldade em conter o piche, pois, além do material se espalhar em córregos cobertos com cimento e asfalto, caso ocorra chuva, a situação pode piorar. “Há maiores problemas em conter o piche ainda quente e oculto, já que o ribeirão Sarandi está canalizado e tampado em grande parte de Contagem. Por isso, caso o material resfrie, pode grudar nas galerias, diminuindo a vazão, o que torna a remoção mais difícil e desencadeia alagamentos em dias de chuva", disse.  


Além disso, ressaltou que o caminhão deveria estar devidamente acompanhado, já que trazia vários riscos à população. “O caminhão carregava uma carga perigosa, já que se trata de material tóxico e de alta temperatura — acima de 100 graus —, podendo ser derramado em um automóvel ou pessoa. Ademais, ele estava transitando em uma via movimentada, sem proteção especial, como a de batedores”, explicou.

De acordo com o criador do Manuelzão, a contaminação das águas oferece risco não somente aos animais, que vivem no entorno da lagoa, como também a população. “Muitos animais bebem água desses córregos, podendo ser contaminados. Além disso, muitas pessoas se alimentam dos peixes desses ribeirões e usam as águas para irrigar plantas, hortaliças e verduras que, muitas vezes, são vendidas nos sacolões ”, contou.

Caso não seja contido, ainda segundo Apolo, o material pode alcançar o Rio das Velhas, o Rio São Francisco e, consequentemente, o Oceano Atlântico, causando danos ainda mais irreversíveis.

A Prefeitura de BH (PBH), em nota, respondeu que “a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura já está realizando o monitoramento da qualidade da água. Será feita uma análise adicional para verificar possíveis contaminações em decorrência do acidente”. Já a prefeitura de Contagem, até o momento em que essa reportagem foi escrita, não deu nenhuma resposta.





Barreiras foram criadas em pontos estratégicos


As prefeituras de Belo Horizonte e Contagem vão se reunir nesta segunda-feira (21), para analisar os impactos causados pelo derramamentoque ameaça a lagoa da Pampulha. Representantes vão coletar informações para iniciar o processo de investigação, implementar medidas legais e avaliar como está o andamento dos trabalhos.

Durante o final de semana, equipes da  Defesa Civil, Sudecap, Meio Ambiente e Fundação de Parques da Prefeitura de Belo Horizonte, Copasa, Fundação Estadual do Meio Ambiente, Secretaria de Meio Ambiente e Defesa Civil de Contagem e Abipar estavam trabalhando para conter o vazamento e acompanhar os riscos ambientais.

A empresa responsável pelo desastre, a Indústria Nacional de Asfaltos S/A, contratou a empresa Ambipar para ajudar no bloqueio do material.

Para isso, foram criadas três barreiras de contenção em locais estratégicos. A primeira está no “Ponto Zero”, onde ocorreu o acidente na Via Expressa, em Contagem. A segunda, no “Ponto Um”, que fica debaixo do entroncamento das avenidas Otacílio Negrão de Lima e Atlântida, em Belo Horizonte. E a última, a “Ponto Dois”, a cerca de 150 metros à frente do “Ponto Um”, próximo ao Parque Ecológico, na Pampulha.



Animais já foram resgatados

Neste domingo (20), em nota, a PBH informou que animais foram atingidos, mas não há registros de mortes. Estes ficaram presos no material asfáltico, foram resgatados, limpos e soltos no Parque Ecológico Francisco Lins do Rêgo.

Equipe de voluntários de resgate animal da UNI-BH realizou primeiros socorros aos animais do local (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Ainda de acordo com a nota oficial, clínicas veterinárias parceiras estão se mobilizando, caso seja necessário receber animais. No entanto, de acordo com Aldair Junio Woyames Pinto, coordenador do Grupo de Resgate Animal do Uni-BH, ainda existe possibilidade de morte de animais.

Relembre o caso

Na tarde da última quarta-feira, uma batida entre uma carreta e um caminhão mobilizou o Corpo de Bombeiros e fechou o trânsito, após grande vazamento de piche. O motorista do caminhão ficou preso às ferragens e foi resgatado pelos bombeiros.

Mesmo após 16 horas do desastre, o material que se espalhou na pista da Via Expressa ainda não havia sido totalmente retirado e parte da pista havia sido interditada devido ao piche pegajoso. Foi necessário utilizar um maquinário para retirá-lo do local.