Desde sábado (19), Belo Horizonte e Contagem criaram barreiras estratégicas ao longo do acesso do córrego, próximo ao Parque Ecológico da Pampulha.
Negligência das autoridades
O professor da UFMG, médico e idealizador do projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, afirmou que houve negligência por parte das autoridades no derramamento das 29,9 toneladas de piche asfáltico, que ameaçam a Lagoa da Pampulha, tendo em vista que os trabalhos de contenção começaram de forma tardia.“Os responsáveis pelo Boletim de Ocorrência (BO) e autoridades que estavam no acidente não tiveram o preparo para entender onde o material iria chegar, já que escorreu pelo bueiro, entrando em um mundo subterrâneo e, logo, no caminho da chuva. Caso tivessem conhecimento sobre bacia hidrográfica, saberiam que o piche iria contaminar o córrego Sarandi”, disse.
Apolo afirmou que era necessário ter informado Belo Horizonte no momento do acidente, pois o córrego chega até a Lagoa da Pampulha.
“A Defesa Civil devia ter agido, mobilizando o Corpo de Bombeiros e especialistas, atuando mais próximo do desastre, para que o material não se espalhasse pelas águas da bacia do ribeirão. A ligação deveria ter sido cortada imediatamente e, assim, o dano seria menor”, completou.
O professor da UFMG também falou sobre a dificuldade em conter o piche, pois, além do material se espalhar em córregos cobertos com cimento e asfalto, caso ocorra chuva, a situação pode piorar. “Há maiores problemas em conter o piche ainda quente e oculto, já que o ribeirão Sarandi está canalizado e tampado em grande parte de Contagem. Por isso, caso o material resfrie, pode grudar nas galerias, diminuindo a vazão, o que torna a remoção mais difícil e desencadeia alagamentos em dias de chuva", disse.
Além disso, ressaltou que o caminhão deveria estar devidamente acompanhado, já que trazia vários riscos à população. “O caminhão carregava uma carga perigosa, já que se trata de material tóxico e de alta temperatura — acima de 100 graus —, podendo ser derramado em um automóvel ou pessoa. Ademais, ele estava transitando em uma via movimentada, sem proteção especial, como a de batedores”, explicou.
De acordo com o criador do Manuelzão, a contaminação das águas oferece risco não somente aos animais, que vivem no entorno da lagoa, como também a população. “Muitos animais bebem água desses córregos, podendo ser contaminados. Além disso, muitas pessoas se alimentam dos peixes desses ribeirões e usam as águas para irrigar plantas, hortaliças e verduras que, muitas vezes, são vendidas nos sacolões ”, contou.
Caso não seja contido, ainda segundo Apolo, o material pode alcançar o Rio das Velhas, o Rio São Francisco e, consequentemente, o Oceano Atlântico, causando danos ainda mais irreversíveis.
A Prefeitura de BH (PBH), em nota, respondeu que “a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura já está realizando o monitoramento da qualidade da água. Será feita uma análise adicional para verificar possíveis contaminações em decorrência do acidente”. Já a prefeitura de Contagem, até o momento em que essa reportagem foi escrita, não deu nenhuma resposta.
Barreiras foram criadas em pontos estratégicos
As prefeituras de Belo Horizonte e Contagem vão se reunir nesta segunda-feira (21), para analisar os impactos causados pelo derramamentoque ameaça a lagoa da Pampulha. Representantes vão coletar informações para iniciar o processo de investigação, implementar medidas legais e avaliar como está o andamento dos trabalhos.
Durante o final de semana, equipes da Defesa Civil, Sudecap, Meio Ambiente e Fundação de Parques da Prefeitura de Belo Horizonte, Copasa, Fundação Estadual do Meio Ambiente, Secretaria de Meio Ambiente e Defesa Civil de Contagem e Abipar estavam trabalhando para conter o vazamento e acompanhar os riscos ambientais.
A empresa responsável pelo desastre, a Indústria Nacional de Asfaltos S/A, contratou a empresa Ambipar para ajudar no bloqueio do material.
Para isso, foram criadas três barreiras de contenção em locais estratégicos. A primeira está no “Ponto Zero”, onde ocorreu o acidente na Via Expressa, em Contagem. A segunda, no “Ponto Um”, que fica debaixo do entroncamento das avenidas Otacílio Negrão de Lima e Atlântida, em Belo Horizonte. E a última, a “Ponto Dois”, a cerca de 150 metros à frente do “Ponto Um”, próximo ao Parque Ecológico, na Pampulha.
Animais já foram resgatados
Neste domingo (20), em nota, a PBH informou que animais foram atingidos, mas não há registros de mortes. Estes ficaram presos no material asfáltico, foram resgatados, limpos e soltos no Parque Ecológico Francisco Lins do Rêgo.Ainda de acordo com a nota oficial, clínicas veterinárias parceiras estão se mobilizando, caso seja necessário receber animais. No entanto, de acordo com Aldair Junio Woyames Pinto, coordenador do Grupo de Resgate Animal do Uni-BH, ainda existe possibilidade de morte de animais.
Relembre o caso
Na tarde da última quarta-feira, uma batida entre uma carreta e um caminhão mobilizou o Corpo de Bombeiros e fechou o trânsito, após grande vazamento de piche. O motorista do caminhão ficou preso às ferragens e foi resgatado pelos bombeiros.Mesmo após 16 horas do desastre, o material que se espalhou na pista da Via Expressa ainda não havia sido totalmente retirado e parte da pista havia sido interditada devido ao piche pegajoso. Foi necessário utilizar um maquinário para retirá-lo do local.