Na data em que se celebra o Dia Mundial da Água, um levantamento da The Nature Conservancy Brasil chamam a atenção para uma tragédia ambiental com consequências diretas para a disponibilidade hídrica no país. De 1988 a 2017, segundo o estudo, a perda da vegetação nativa em bacias localizadas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil chegou a 22,9 mil quilômetros quadrados, com potencial para acentuar as crises hídricas nos reservatórios que fazem parte do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Essa perda, somada a efeitos de longo prazo na mudança e uso do solo, pode ter agravado as recentes temporadas de escassez que afetaram essas áreas. Outros fatores incluem fenômenos climáticos, aumento da demanda nos diferentes usos da água, crescimento populacional e gestão focada em obras de infraestrutura cinza – compostas apenas de intervenções de engenharia civil baseada essencialmente em concreto.
- Leia: No dia da Água, região mais árida do país dá exemplo de conservação
- Leia: No dia da Água, região mais árida do país dá exemplo de conservação
Até 1988, o país havia perdido nessa área mais de 580 mil quilômetros quadrados de vegetação natural e, de 1988 a 2017, outros 22,9 mil. Para se ter uma ideia do tamanho da destruição nesses 30 anos, basta comparar com os territórios de São Paulo e sua capital: as áreas devastadas correspondem a 10% do tamanho do estado e a 15 vezes o tamanho de sua principal cidade. Os dados analisados são da série histórica disponibilizada pela iniciativa Mapbiomas, que traz informações sobre o uso e a ocupação das terras no Brasil.
Samuel Barreto, gerente de Água da The Nature Conservancy Brasil, destaca que a segurança hídrica começa com a gestão adequada das bacias hidrográficas, de forma a mantê-las ou recuperá-las para que sejam saudáveis e resilientes às mudanças climáticas, tendo suas funções ecológicas mantidas. A conservação e recuperação das bacias hidrográficas contribuirão para atender aos usos múltiplos e promover a equidade social e a qualidade de vida da população. A segurança hídrica, como pilar estruturante para o desenvolvimento econômico, precisa ser tratada de forma estratégica.
“Ao analisarmos os desafios da disponibilidade hídrica e adaptação às mudanças climáticas, precisamos pensar além de soluções focadas em obras de infraestrutura cinza. A conservação de bacias hidrográficas é indispensável para garantir o suprimento de água no longo prazo, com qualidade e em quantidade para seus diferentes usos, como nas atividades agropecuárias e industriais, navegação e transporte, geração de energia elétrica e, principalmente, o abastecimento humano”, afirma.
Salvando as águas do Serro
“A água é o mais rico mineral produzido em terras mineiras”, diz a educadora, artesã e ativista ambiental, Helena Flavia Marinho de Lima. Moradora de São Gonçalo do Rio das Pedras, região do Serro, é uma das responsáveis pelo projeto “Salvando as águas do Serro”, cujo propósito é mobilizar as comunidades locais e chamar a atenção para “essa riqueza natural e seu potencial no desenvolvimento sustentável”.
Helena Lima considera mais que urgente mudar a cultura no estado, acostumado com abundância de nascentes, rios e aquíferos, de que o ciclo da água (chuva, evaporação, nuvens e chuvas) é eterno. “Vivemos uma corrida no sentido de grandes grupos privatizarem a água para garantir seus lucros e empreendimentos.”
É preciso, destaca a ativista, garantir sustentabilidade para a vida no presente e para as futuras gerações. “Garanto protegendo nascentes, deixando em pé serras e montanhas. Se tirarmos o cerrado, matas e serras, estaremos desertificando. Não há sustentabilidade sem garantia de água paras a comunidades de determinado território.”