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Estado de Minas MINERAÇÃO

Por recomendação do MP, audiências sobre mineração em Minas são suspensas

Reuniões para discussão de projeto da chinesa SAM, em Grão Mogol, foram canceladas por recomendação


28/03/2022 19:17 - atualizado 28/03/2022 19:17

Foto mostra área de Grao Mogol
Projeto de exploração de minério de ferro será implantado no município de Grão Mogol (foto: AMAMS/divulgação)
As audiências públicas que seriam realizadas, na terça-feira (29/3) e quarta-feira (30/3), pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) para discutir o licenciamento do megaprojeto de exploração de minério, a ser instalado na região de Grão Mogol, no Norte de Minas, pela Sul Americana Metais (SAM), foram suspensas por recomendação do Ministério Público Estadual (MPMG). A SAM é subsidiária da chinesa Honbridge Holdings, sediada em Hong Hong.

 

O MPMG alegou que antes da realização das audiências públicas deverá ser feita “consulta prévia” a todas as comunidades tradicionais geraizeiras, “potencialmente afetadas pelo emrpeendimento”, dentro do Estudo de Impacto Ambiental e do  Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) do megaprojeto.

O empreendimento chinês, o chamado Projeto Bloco 8, conta com investimento previsto da ordem de US$ 2,1 bilhões (R$ 10 bilhões, pelo câmbio atual), com a expectativa de gerar 6,2 mil postos de trabalho no pico da implantação e 1.100 empregos diretos na operação.

 

O megaprojeto tem previsão de alcançar uma produção anual de 27,5 milhões de toneladas de concentrado de minério de ferro. O minério de ferro das jazidas do Norte do estado é de baixo teor (média de 20%). Por isso, para a viabilidade econômica, o material terá que passar por um tratamento, para elevar sua concentração para cerca de 66,5%. Por isso, vai recorrer ao curioso uso da mandioca no processo da separação do minério, conforme revelou o Estado de Minas.

 

Previstas dentro do processo de licenciamento, as audiências públicas seriam realizadas nas cidades de Grão Mogol (nesta terça-feira, às 19 horas, na Escola Estadual Professor Bicalho) e de Fruta de Leite (nesta quarta-feira, também às 19 horas, na Quadra Esportiva da Secretaria de Assistência Social do Município).

 

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad)  confirmou a suspensão em atendimento à recomendação do Ministério Público Estadual. A Semad informou ainda que irá solicitar ao empreendedor “estudos e informações complementares referentes ao impacto ambiental” e não há previsão de data para a realização de novas audiências públicas.

 

Por sua vez, a SAM explicou que, no entendimento da  Semad, são diferentes a natureza entre os objetivos de oitiva entre os povos tradicionais e uma audiência pública e que, desta forma, não haveria impedimento legal para a realização das reuniões. Mesmo assim, o órgão estadual acatou a recomendação do Ministério Público, visando “melhor debate entre as autoridades e o empreendedor”.

 

A mineradora informou que o objetivo é a realização das audiências dentro do tempo “mais breve possível”.  “A SAM, reforçando o seu compromisso com a transparência, reafirma que ainda pretende realizar, o mais breve possível, e após alinhado com as autoridades, as audiências em Grão Mogol e Fruta de Leite para o debate do Projeto Bloco 8. Reafirmamos nosso esforço e interesse na realização das oitivas às comunidades geraizeiras, que se busca realizar desde 2019”, informou a empresa de capital chinês, por meio de nota.

 

O procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior, ressaltou a importância do “recuo” da Semad na suspensão das audiências, atendendo à recomendação do MPMG, no sentido de ouvir todas as comunidades atingidas pelo megraempreendimento de mineração no Norte de Minas.

 

“Devido ao porte do empreendimento, esse recuo terá grande valia a curto, médio e longo prazo. Para que ocorra o necessário desenvolvimento da região é preciso observar os princípios constitucionais, respeitar os atingidos, o meio ambiente e cumprir todas as fases do licenciamento. Sem isto, perdemos a essência e tempo. Nesse caso, o retrabalho seria o pior caminho”, afirmou Soares Júnior.

 

Na recomendação, assinada por cinco promotores, o Ministério Púbico Estadual lembra que, dentro do processo de licenciamento do projeto de mineração, “os povos interessados deverão ter o direito de escolher suas próprias  prioridades no que diz respeito ao processo de desenvolvimento, na medida em que ele afete as suas vidas, crenças, instituições e bem-estar espiritual, bem como as terras que ocupam ou utilizam de alguma forma, e de controlar, na medida do possível, o seu próprio desenvolvimento econômico, social e cultural”.

PREOCUPAÇÃO  COM A SEGURANÇA

Depois das tragédias dos rompimentos da barragens de rejeitos nas minas do Fundão em Mariana (2015), e do Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, ocorrido em 25 de janeiro de 2019, aumentou a preocupação com a segurança na atividade mineradora. 

 

Nesse sentido, a SAM garante que o megaprojeto de exploração do minério de ferro no Norte de Minas terá um modelo de segurança para prevenir riscos de catástrofes com o vazamento de rejeitos minerários.

 

“O projeto Bloco 8 terá um dos sistemas de depósito de rejeitos mais seguros da atualidade. O alteamento da barragem utilizada será por linha de centro. Essa estrutura terá um filtro vertical, que acompanhará todo o seu corpo central. Durante a operação, esse corpo será separado do espelho d’água. Essa distância faz com que a barragem se mantenha sempre livre de infiltrações, e cada vez mais estável”, assegura Cristiano Duarte,  coordenador socioambiental da SAM.

 

“A futura cava, onde ocorrerá a extração do minério, estará localizada logo abaixo da barragem de rejeitos, primeiro lugar para onde o material escoaria, num caso hipotético de rompimento. A operação cava será feita por controle remoto”, completa o coordenador socioambiental da empresa chinesa.

 

Ainda segundo ele, aproveitando as condições geográficas do local, a SAM projetou uma segunda estrutura de segurança para o empreendimento de Grão Mogol: muro de contenção logo após a futura cava, onde, num caso hipotético de rompimento, todo o material ficaria restrito e confinado dentro da área da empresa, evitando que qualquer onda de rejeito cheque a quaisquer comunidades.

 

“Esse rigor na construção da barragem de rejeitos e as soluções desenvolvidas garantem total proteção para as comunidades e municípios”, sustenta a empresa.

MINERODUTO  E ÁGUA

O início da operação do projeto de exploração de minério de ferro da SAM em Grão Mogol está previsto para 2026. A ideia é usar água para levar o minério de ferro por um mineroduto ao longo de quase 500 quilômetros, entre Grão Mogol e o Porto de Ilhéus (BA), de onde o produto deverá ser exportado. De acordo com a SAM, a logística ficará a cargo de uma empresa terceirizada, que será responsável pela construção e pela operação do mineroduto.

 

Desde as primeiras notícias da implantação do megaempreendimento, surgiu uma preocupação sobre como conseguir água para o escoamento pelo mineroduto, tendo em vista que o Norte de Minas, historicamente, enfrenta carência hídrica. Porém, a multinacional chinesa anunciou um projeto para a construção de uma barragem no Rio Vacaria, entre os municípios de Padre Carvalho e Fruta de Leite, na mesma região.

 

A multinacional assegura que, além de atender à demanda hídrica para o “transporte” do minério, a barragem vai permitir o fornecimento de água para as comunidades locais e também possibilitar a manutenção de plantios irrigados, incluindo o da mandioca, insumo do processo de separação do minério de ferro“.


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