O aumento impacta diretamente no bolso do usuário. A diarista Marlene Almeida, de 43 anos, foi surpreendida com a notícia nesta quarta-feira (6/4). “É um absurdo isso, R$ 4,50 já é caro. Os ônibus estão sempre cheios, tem vez que a gente chega e não consegue nem pegar”, conta. “Eu pego ônibus todo dia para trabalhar. Não pesa só no bolso do trabalhador não. Pesa no do patrão também.”
A decisão do reajuste foi assinada pelo juiz da 3° Vara de Feitos da Fazenda Pública Municipal de BH, Wauner Batista Ferreira Machado, e deve ser atendida pelo Executivo em até 10 dias.
O feito atende às reivindicações das empresas de ônibus, que pedem os reajustes tarifários anuais previstos em contrato com a Prefeitura e citam o aumento do preço dos combustíveis como fator limitador à circulação dos veículos em BH.
Além do aumento, os atrasos são constantes. A aposentada Elza Maria, de 73 anos, conta que nunca consegue pegar o ônibus no horário correto. “O salário de ninguém aumentou, tá tudo caro… como assim? as pessoas que precisam do ônibus ficam sacrificadas? Eu não pago, mas e quem paga?”, conta. “Os atrasos são muitos e constantes. Tem vez que a gente fica 1 hora esperando”, conta.
A motoboy Janaina, de 24 anos, que esperava no mesmo ponto que Elza, na região da Savassi, concordou com a aposentada. “Demora 40 minutos dependendo do horário e aumentar a passagem com esses atrasos é pior ainda. Para esperar um ônibus demora um tempão, não tem como não sentir a diferença”, diz.
De acordo com o porteiro Gilberto Silva, de 54 anos, a estrutura dos ônibus também está comprometida. “Nenhum ônibus presta, aí eles querem aumentar o valor? Tá tudo lotado, desde o coronavírus, é tudo assim… agora, tá cada vez pior”, conta.
Gilberto ficou sabendo do aumento pela televisão e afirmou que não acha justo o aumento da tarifa já que a qualidade do transporte não aumentou. “Fica díficil”, conta. A esposa do porteiro, Ivone Maria, de 58 anos, doméstica, concorda com o marido. “É tudo lotado, às vezes não tem lugar. Eles falaram que tinham que aumentar a passagem, mas não aumentaram os ônibus. Não melhora nada”, conta.
O casal pega cerca de quatro ônibus por dia e diz que a diferença vai fazer falta no bolso. “Não entraram na Justiça para aumentar? Podiam entrar para dimunuir”, concluiu Gilberto.
Na última terça-feira (29/3), o recém-empossado prefeito Fuad Noman (PSD) teve como seu primeiro ato à frente da capital, o envio do Projeto de Lei que prevê a diminuição da tarifa principal do ônibus de R$ 4,50 para R$ 4,30 à Câmara Municipal.
O projeto de Noman contém alterações exigidas pelo legislativo em relação ao texto original, enviado à Câmara pelo então prefeito Alexandre Kalil (PSD) em fevereiro deste ano. A pauta foi motivo de rusga entre os poderes após a devolução da proposta do executivo sem apreciação no plenário municipal.
Segundo a administração da capital, a incerteza de uma solução no cenário do transporte público levou às concessionárias a buscar judicialmente a medida liminar.
Ao comentar sobre o assunto, o estudante de História da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Paulo Emannuel, de 20 anos, disse que a decisão acabou sendo injusta com os usuários.
“Pego ônibus todo dia para ir para faculdade. Já percebi que atualmente ele vem vindo com menos frequência, tipo agora, era para eu já estar indo. Vou chegar atrasado. Está difícil, antes eu ia de metrô, mas teve greve”, conta. “Vai pesar muito no bolso, sou estudante, não estou trabalhando, tem conta para pagar em casa e, mesmo pagando caro, vou chegar atrasado", diz.
No mesmo ponto que o estudante, na Praça Sete, Soraya Caldeira, de 60 anos, conta que o aumento será “péssimo”. “Os ônibus têm qualidade péssima. Quantidade menor. E desde a pandemia essa coisa malfeita”, disse. “Mesmo não pegando ônibus, faz diferença", comenta.
O aumento da tarifa do ônibus deve ocorrer nos próximos 10 dias. A reportagem procurou a BHTrans e a prefeitura sobre as reclamações com relação à falta de coletivos, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.