Dias e noites nas cidades mineiras se transformam, até domingo, em cenário da Paixão, morte e ressurreição de Cristo – afinal, quando não estão preparando os andores para as procissões, religiosos e leigos percorrem as ruas com as imagens centenárias, fazem vigília nas igrejas ou acompanham cortejos em plena madrugada. As cerimônias da Semana Santa mobilizam as comunidades, atraem turistas e mostram a fé do povo mineiro mediante celebrações que remontam aos tempos do período colonial. Uma extensa programação está à disposição de moradores e visitantes, com os destaques sagrados.
Desta vez, as cidades retomam a programação presencial, interrompida pela pandemia. Um dos exemplos está na via-sacra, que começará às 7h, na sexta-feira da Paixão (15), subindo a Serra da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), em direção ao Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. As caravanas vão parar nos 15 painéis que contam os passos de Cristo rumo ao calvário ao longo de cinco quilômetros de percurso em meio a bela paisagem.
À frente das celebrações da Arquidiocese de BH, que congrega 28 municípios, o arcebispo metropolitano, dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), explica que a Semana Santa é o ápice da vida cristã, “o período que condensa os principais acontecimentos da nossa fé, que são paixão, morte e ressurreição, portanto um convite para cultivarmos o amor em nossa interioridade”.
O arcebispo ressaltou que, como ensinou Jesus, a vida só faz sentido quando se torna oferta para o bem do próximo, e, alicerçada no amor, é mais forte do que a morte”. Diante da proximidade das eleições no Brasil e da atualidade da guerra na Europa, dom Walmor foi direto ao ponto: “Se a vida de cada pessoa se tornar oferta, não haverá brigas em razão de discordância tão comum em época de eleição nem a irracionalidades da guerra”. Assim, trabalhando para a paz, “a humanidade será menos indiferente à dor do próximo e seremos protagonistas da paz e de um mundo melhor”.
ESPERANÇA COLETIVA
Nas cidades coloniais de Minas, a ornamentação dos andores para as procissões consiste em atividade que reúne padres e voluntários, demanda horas de preparativos e evidencia uma parte singela da história das comunidades. Na manhã e tarde de ontem, na tricentenária Santa Luzia (RMBH), na sacristia do santuário arquidiocesano dedicado à protetora da visão, um grupo dedicado preparou o andor de Nossa Senhora das Dores, que saiu ontem em procissão à noite e volta hoje para a procissão do encontro.
No comando, o pároco e reitor do Santuário Santa Luzia, padre Felipe Lemos de Queirós, mostrava seu entusiasmo e fôlego para muitas procissões, cerimônias e ritos. “Esta Semana Santa traz esperança, pois retornamos às ruas depois das dificuldades causadas pela pandemia. Mas vivemos outras formas de sofrimentos, como a guerra, que são do mundo, daí a necessidade de mantermos a confiança em Deus”, afirmou o reitor ao arrumar a imagem do Cristo flagelado, no interior da igreja do século 18.
Na coordenação da equipe de ornamentação, a luziense Goretti Gabrich contou uma tradição que atravessa os séculos. “Na hora da troca de roupa de Nossa Senhora, apenas mulheres podem estar presentes, assim como no momento da troca das vestes de Nosso Senhor dos Passos, que saiu em procissão na segunda-feira e sairá na noite de hoje, dia da procissão do encontro.” No andor, foram colocadas rosas, folhas de figo e velas, sendo a roupa de Nossa Senhora composta por veste de veludo vinho, capa azul no mesmo tecido e véu branco com renda.
Entre marteladas, arremates, costuras de tecidos estavam Ana Virgínia Gabrich, Wellington Corrêa, José Antônio Torres, Nélson Marques, Marco Aurélio Gabrich e Maria Giullia Marques Fernandes. Aos poucos, com talento e criatividade da equipe, a madeira nua do andor vai ganhando forma e um tom solene para o cortejo de Nossa Senhora das Dores. Durante o trabalho, os voluntários falam sobre a beleza das tradições, dos cânticos em latim dos cortejos, os motetos, das figuras bíblicas do Antigo e do Novo Testamento e da alegria de participar.
TRÍDUO PASCAL
Os católicos se preparam, com devoção, para o ápice da Semana Santa, também chamada de “semana maior”. Conforme a Arquidiocese de BH, a missa de lava-pés, amanhã (14/4), abre o período do tríduo pascal, “com a vivência dos acontecimentos centrais no mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus”. Antes do tríduo pascal, os sacerdotes renovarão seus votos de serviço à Igreja na Missa da Unidade, celebrada na Catedral Cristo Rei, na manhã de quinta-feira, às 9h.
Na Missa da Unidade, dom Walmor abençoará o óleo do crisma, depois partilhado entre as quase 300 paróquias da Arquidiocese de BH para a celebração dos sacramentos: batizados, casamentos, unção dos enfermos.
ENQUANTO ISSO...
Mariana abre portas janelas da fé popular
Em Mariana, na Região Central de Minas, já está diante dos olhos de moradores de visitantes a exposição fotográfica “Portas e janelas de fé”, promovida pela Paróquia Nossa Senhora da Assunção, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Patrimônio Histórico, Lazer e Turismo. O objetivo é mostrar um pouco da expressão de fé e religiosidade do povo, por meio de fotografias da Semana Santa de anos anteriores, enfocando o casario do Centro Histórico da cidade por onde as procissões passam. A exposição segue até o próximo dia 30, estando as fotografias disponíveis nas ruas Dom Silvério, Dom Viçoso Alphonsus de Guimarães e Direita, na Praça Cláudio Manoel e na Travessia João Pinheiro.
PROGRAMAÇÃO
Belo Horizonte
Amanhã (14)
9h – Missa da Unidade, na Catedral Cristo Rei (Rua Campo Verde, 165, Bairro Juliana, Região Norte), com participação presencial dos sacerdotes e de dois representantes de cada região episcopal da Arquidiocese de BH. Transmissão pela TV, Rádio e redes sociais da Arquidiocese de Belo Horizonte.
18h30 – Missa com o rito de Lava-pés: o sacerdote repete o gesto de Jesus que, antes da última ceia, lavou os pés dos discípulos. A celebração, presidida por dom Walmor, também rememora a instituição do sacramento da eucaristia. Na Catedral Cristo Rei.
Sexta-feira da Paixão (15)
7h – Via-Sacra da Paz,na Catedral Cristo Rei, com procissão percorrendo as ruas do bairro Juliana. A procissão partirá da Rua Campo Verde, 165. A Sexta-feira da Paixão é o único dia do ano em que não há missa.
Sábado (16)
19h30 – Vigília Pascal presidida por dom Walmor, na Catedral Cristo Rei, com a bênção do fogo novo (momento em que a Igreja será iluminada pelas velas dos fiéis).
Domingo (17)
10h30 – Missa de Páscoa presidida por dom Walmor Oliveira de Azevedo na Catedral Cristo.
Serra da Piedade, em Caeté (RMBH)
Sexta-feira da Paixão (15)
7h – Via-sacra de 5 quilômetros em direção Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, passando por 15 estações
Santa Luzia (RMBH)
Hoje (13)
19h – Missa na Capela Nossa Senhora do Carmo, seguindo-se a Procissão do Encontro, com paradas no Passos da Paixão (pequenas capelas).
Sexta-feira da Paixão (15)
5h – Procissão da Penitência e via-sacra
19h30 – Sermão do Descendimento da Cruz e Canto da Verônica, seguindo-se Procissão do Enterro
Sábado Santo (16)
19h - Benção do fogo novo no adro da igreja Nossa Senhora do Rosário. Em seguida, haverá procissão da luz até o Santuário Arquidiocesano Santa Luzia.
Sabará (RMBH)
Amanhã (14)
15 – Abertura do Santo Sepulcro, na Igreja São Francisco, seguindo-se a vigília do Senhor Morto e Nossa Senhora das Dores. Número restrito de participantes. Não haverá o beijo da imagem nem troca de moedas.
Domingo (17)
8h – Missa no adro da Igreja Nossa Senhora do Rosário (Praça Melo Viana – S/N), presidida pelo bispo auxiliar dom Geovane Luís da Silva. Na sequência, Procissão da Ressurreição até a Matriz Nossa Senhora da Conceição