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Estado de Minas Saúde

Cirurgias eletivas são retomadas em BH, mas fila é longa e demora continua

Com foco no combate ao coronavírus, hospitais postergaram intervenções eletivas e hoje 27 mil pessoas aguardam procedimento na capital


14/04/2022 07:00 - atualizado 14/04/2022 07:39

A aposentada Neide Rodrigues mostra os exames que constatam clinicamente a causa de sua dor. A espera pela cirurgia no quadril é angustiante
A aposentada Neide Rodrigues mostra os exames que constatam clinicamente a causa de sua dor. A espera pela cirurgia no quadril é angustiante (foto: Leandro Couri EM/ D.A Press)

Com os números da pandemia sob controle em Minas, outros desafios provocados por ela surgem com mais força e deixam claro que os impactos do coronavírus vão além da doença que ele provoca. Um exemplo é a extensa fila de cirurgias eletivas, demanda que ficou represada pelo foco no combate à COVID, que agora está no centro das atenções de grandes cidades como Belo Horizonte.

A nova secretária de Saúde da capital, Cláudia Navarro, colocou as cirurgias eletivas como uma de suas prioridades à frente da pasta.  Atualmente, são cerca de 27,5 mil pessoas aguardando procedimentos nos hospitais conveniados ao município. Para mérito de comparação, o número em fevereiro de 2020, último mês antes do início da pandemia, girava em torno de 16 mil pacientes.

A retomada das cirurgias eletivas, que são aquelas que podem ser marcadas e planejadas com alguma antecedência, já vem ocorrendo desde o fim de 2021, mas medidas das secretarias de Saúde de Minas e de BH buscam acelerar o processo neste ano. Como a pandemia ocupou a estrutura dos hospitais, os serviços ficaram paralisados durante quase dois anos.

''A gente já está entendendo a situação como uma pandemia cirúrgica também. Tem paciente que não consegue exercer suas atividades, que fica dependente de um terceiro. Isso precisa ser resolvido rápido''

Cláudio Dornas, diretor de assistência à saúde do Grupo Santa Casa BH


Esse fenômeno traz consequências à saúde dos pacientes e também ao sistema de saúde, como explica o médico Cláudio Dornas, diretor de assistência à saúde do Grupo Santa Casa BH. “A gente já está entendendo a situação como uma pandemia cirúrgica também. Tem paciente que não consegue exercer suas atividades, que fica dependente de um terceiro. Isso precisa ser resolvido rápido e a gente é solidário com a secretária (Cláudia Navarro) nesse sentido. Existem cirurgias ortopédicas que, quando não feitas, vão gerando problemas em outras articulações; atrasos em cirurgias respiratórias podem causar infecções em sequência, e isso tudo também impacta o sistema de saúde”, explica o diretor da Santa Casa, um dos hospitais que atendem à fila de espera por procedimentos em BH.

Um dos exemplos usados pelo médico ganha vida na história da técnica em enfermagem aposentada Neide Rodrigues de Souza, de 54 anos. Ela sofre com as dores causadas por um desgaste no quadril e espera por uma cirurgia para conseguir viver melhor. Enquanto aguarda pelo processo, o problema foi se tornando mais grave.“Eu preciso colocar uma prótese no quadril do lado esquerdo, porque já está até necrosado. Mas antes vou ter que operar o lado direito, porque estou jogando muita força para essa perna. Estou à base de morfina e tem dias em que parece que eles esqueceram de mim, sinto muita dor. Já estou até com a guia que o médico me deu no (Hospital) Odilon Behrens e fico aguardando”, conta.

Belo Horizonte é referência no estado para a realização de cirurgias e tem mais de 500 municípios pactuados com o sistema de saúde da cidade, sendo naturalmente um foco na corrida para a diminuição da fila de espera. Mas a situação não preocupa apenas na capital. A cuidadora de idosos Maria Ângela de Oliveira, de 70, vive em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e também sofre com a espera por uma cirurgia. Ela tem um linfoma diagnosticado há quase dois anos. Embora o diagnóstico não tenha apontado câncer, foi recomendada a retirada do tumor. A angústia vai aumentando à medida que o tempo passa.

“Me mandaram ficar na fila e eu estou aguardando. Até hoje não me deram previsão nem nada. O médico me falou que agora é só aguardar. O inchaço está crescendo e eu estou com 70 anos, vou esperar até quando? Já está me incomodando” desabafa Maria Ângela, que foi atendida no Hospital Municipal de Contagem. A reportagem questionu a Prefeitura de Contagem. Até o fechamento desta edição, não houve resposta.

Investimento para acelerar atendimento


“Demorou bastante, mas eu consegui minha cirurgia em outubro (de 2021). Tinha urgência, vesícula é complicado. Eu sentia dor e ia pro hospital, mas não podia ficar internada por causa da COVID e ainda ficava nesse ambiente, né. Eu tinha muito medo e até peguei o coronavírus”, conta a empregada doméstica Eva Rosa, de 63 anos. Eva fez uma cirurgia para remoção da vesícula biliar quando os hospitais ainda tinham a COVID como foco quase único. O cenário mudou e as autoridades sanitárias se planejaram para começar a lidar com os obstáculos deixados pelo coronavírus.

No fim de 2021, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) lançou o programa Opera mais, Minas Gerais para incentivar a realização de cirurgias eletivas. Com o investimento de R$ 206 milhões, a iniciativa busca reduzir a fila de pessoas que aguardam operações nos hospitais mineiros, cerca de 370 mil pacientes na virada para 2022. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte informa que todos os estabelecimentos ligados ao SUS na capital já foram orientados a retomar as cirurgias. Na capital, as especialidades com maior demanda são: otorrinolaringologia, neurologia, urologia, cirurgia geral, ortopedia e ginecologia.

Hospitais 

O Hospital da Baleia, na Região Leste de BH, é uma das 24 unidades de saúde que realizam cirurgias eletivas pelo sistema público de saúde na capital.  “A estratégia que o Baleia fez para resolver a questão foi a ampliação do número de consultas ambulatoriais e com isso estamos realizando mutirões de cirurgias eletivas na especialidade que tem a maior quantidade de pacientes esperando. A meta é fazer 1.300 cirurgias por mês até que a demanda se normalize”, explica a assessora da superintendência técnica do Hospital da Baleia, Cynthia Lloyd.

Desde março, a equipe do Hospital da Baleia já fez mutirões de cirurgias ginecológicas, pediátricas e ortopédicas. Os 10 leitos de CTI e 94 de enfermaria da unidade foram destinados a atender à demanda de operações. Dados de dezembro do ano passado apontam que só o Hospital da Baleia tinha cerca de 8 mil pessoas na fila de espera para cirurgias eletivas. 

Na Santa Casa, a ideia dos mutirões está nos planos da equipe que comanda as cirurgias. “A Santa Casa se especializou junto à prefeitura em cirurgias de maior complexidade, que às vezes tomam muito tempo, cerca de 12 horas. Mas existem outras que são mais simples e a gente precisa andar mais com esse processo dos pacientes. A gente já está com a ideia de separar os grupos de pacientes de acordo com o tipo de cirurgia e começar a montar até mutirões para operá-los de acordo com a especialidade”, afirma Cláudio Dornas diretor de assistência à saúde do hospital.





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