O fim do estado de emergência da pandemia, anunciado pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, não vai significar a curto prazo a redução total das medidas de restrições em Minas Gerais e em Belo Horizonte. Apesar do novo passo à frente dado pelo governo federal, estado e capital seguirão com cautela e com os mesmos protocolos de segurança até que a doença finalmente tenha estabilidade.
o ato normativo não será revogado de imediato pela pasta, dando tempo hábil para que os órgãos públicos dos estados e da união possam se adaptar de fato.
A situação de emergência da pandemia foi decretada por meio da portaria nº 188, assinada em 2020 pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que previa uma série de medidas de prevenção, controle e contenção adotadas para o enfrentamento da doença. No entanto, Em entrevista coletiva em Brasília, Marcelo Queiroga, assegurou que nenhuma política pública de saúde será interrompida mesmo diante do cenário epidemiológico arrefecido. Segundo dados da pasta, houve queda de óbitos de 85% em todo o país desde o pico da variante Ômicron. "Foi criado um ordenamento jurídico próprio em função do decreto de Emergência Sanitária de Importância Nacional. Algumas dessas leis são federais e se expirariam com o reconhecimento do fim da ESPIN, perderiam o efeito. Por isso, é necessário que haja uma transição para que não tenhamos prejuízos da assistência à saúde. Quero frisar que nenhuma política pública de saúde será interrompida", afirmou Queiroga.
Em Minas, o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, que também é vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), se reuniu com outros diretores do órgão na sexta-feira passada para avaliar os rumos das medidas de flexibilização no país. Uma das propostas apresentadas seria de que o fim da emergência fosse realizado em 90 dias e que estados e municípios, ao lado do governo federal, discutissem a forma de transição.
Um aspecto levantado por Baccheretti para manter o protocolo atual em todo país é de que vários estados ainda estão com o ciclo vacinal lento. “Apesar de Minas Gerais ter índices de vacinação acima da maioria, estamos com muitos leitos de CTI mantidos e abertos, podendo ser utilizados se aumentar o número de casos, mas alguns estados não estão nessa situação”, afirma o secretário.
Outra preocupação no cenário mineiro da pandemia é o surgimento de novas cepas e ondas da COVID-19 em todo o Brasil, que obriguem municípios a fecharem novamente o comércio não-essencial. O surgimento da Ômicron em outubro do ano passado, por exemplo, elevou o número de contaminações por dia e também aumentou a demanda por atendimentos nos centros de saúde. Ainda que a imunização tenha evitado a multiplicação de óbitos no período, foi necessário que várias atividades fechassem as portas.
O atraso na imunização infantil também deve ser levado em consideração para inviabilizar a revogação imediata da portaria nº188. Em Minas, por exemplo, 67,7% das crianças tomaram a primeira dose da vacina, enquanto apenas 26,72% receberam a segunda dose. Entre os adultos, o estado também não atingiu 90% nem mesmo das aplicações de primeira dose, enquanto 82,3% tomaram a segunda dose.
BH também segue protocolo
Em BH, a prefeitura disse que estão mantidos os protocolos vigentes para o enfrentamento à COVID-19 na capital. Logo, o município descarta estabelecer o fim do uso de máscaras em locais fechados. O objetivo da Secretaria Municipal de Saúde é justamente seguir com as estratégias de vacinação, mantendo, inclusive, pontos distribuídos nas nove regionais da cidade. A capital vacinou até o momento 94,4% da população com a primeira dose e 99,6% com a segunda, além de 64,7% com a dose de reforço. O boletim da PBH indica que 74,4% das crianças foram vacinas com a primeira dose e apenas 33,1% recebeu a segunda dose.
"Foi criado um ordenamento jurídico próprio em função do decreto de Emergência Sanitária de Importância Nacional. Algumas dessas leis são federais e se expirariam com o reconhecimento do fim da ESPIN, perderiam o efeito. Por isso, é necessário que haja uma transição para que não tenhamos prejuízos da assistência à saúde. Quero frisar que nenhuma política pública de saúde será interrompida"
No fim de março, a prefeitura dissolveu o Comitê de Enfrentamento à COVID-19 na capital, formado por um grupo de infectologistas e pelo ex-secretário de saúde, Jackson Machado Pinto, que controlava as restrições no comércio e estabelecia diretrizes para o controle da doença. Segundo o município, um novo grupo técnico multiprofissional foi criado desde então para avaliar o cenário da pandemia.
Ex-integrante do comitê municipal, o médico Unaí Tupinambás vê como prematura a ação do governo federal de colocar fim à situação de emergência na pandemia: “A medida do Ministério da Saúde ainda é precipitada. Vindo desse governo que negou a vacina e a pandemia, tratou a doença como uma gripezinha, não poderia ser diferente. Não se coloca fim à pandemia com decreto. Quando se retira essa emergência de saúde, você dá um sinal para a população que ela acabou”.
O infectologista, que antes formava o comitê com os também médicos Carlos Starling e Estevão Urbano, diz que é fundamental manter os cuidados básicos: “A OMS manteve o status de pandemia, pelo menos nos próximos três meses. Temos que manter os cuidados, sobretudo a máscara em ambientes fechados e ampliar a vacinação na faixa etária de 5 a 11 anos, a terceira dose e a quarta dose. Não podemos tratar a pandemia com desdem. É um vírus novo, não sabemos como vamos se comportar as novas variantes. É algo precipitado”.