Jornal Estado de Minas

MEIO AMBIENTE

Instituto da Vale cria solução inédita contra gases de efeito estufa


Precedido por prognósticos de um futuro de ambiente degradado pelo aumento das temperaturas e desacordo para a redução de atividades emissoras de gases de efeito estufa (gee), o Dia Internacional do Planeta Terra, neste 22 de abril, tem uma boa notícia para as florestas vinda do Brasil. Uma pesquisa inédita encontra meios para favorecer práticas de manejo e, com isso, aumentar o estoque de carbono no solo das matas para, assim, reduzir as emissões dos gases nocivos que alteram o clima mundial. O estudo é desenvolvido por cientistas do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e tem potencial, inclusive, para reverter recursos para o mercado de créditos de carbono, um comércio ambiental compensatório no qual quem polui compra cotas de quem preserva mais.





O solo responde por cerca de 70% do carbono estocado na Terra, em forma de matéria orgânica, segundo dados do Painel Intergovernamental para Mudanças do Clima (IPCC), da ONU. O percentual corresponde a quase três vezes mais do que o carbono armazenado na vegetação e a cerca do dobro em comparação com o elemento em suspensão na atmosfera. Com isso, segundo o ITV, "solos bem manejados são uma excelente maneira de conservar carbono na forma orgânica, diminuindo a emissão de gases do efeito estufa e contribuindo para o mercado de crédito de carbono".

Diante do potencial do solo como mais uma solução para limitar o aquecimento global em 1,5°C até o fim do século, pesquisadores do ITV, em Belém, estão desenvolvendo um estudo inédito com marcadores moleculares capazes de quantificar genes e proteínas que favorecem práticas de manejo e aumentam o estoque de carbono no solo.

“Essas proteínas são mapeadas em rotas bioquímicas para reconstruir os processos em cada tipo de ambiente. Assim, podemos desvendar quais são os processos mais ativos em cada ambiente, identificar marcadores moleculares ligados à fixação de carbono no solo, reconhecer condições ambientais e indicar práticas de manejo que favorecem o estoque de carbono no solo em detrimento da perda”, afirma Rafael Valadares, do ITV, que coordena o estudo.





Os pesquisadores recolheram amostras do solo e, no laboratório, conseguiram mapear o DNA e as proteínas ali existentes. Segundo Valadares, já foram feitas pesquisas em solos naturais, sistemas agroflorestais e impactados pela mineração.

 “A ideia é construir uma biblioteca de dados, na qual teremos condições de compreender as rotas bioquímicas para restauração florestal, indicando técnicas de manejo que possam favorecer a absorção de uma quantidade maior de carbono”, explica. Atualmente, de acordo com a FAO, a agência da ONU para a agricultura e a alimentação, 33% dos solos do mundo e 52% dos solos agrícolas estão degradados, principalmente por erosão, compactação e contaminação.

Base de todos os ecossistemas, o solo é um ambiente vivo. Nele, desenvolvem-se as plantas e iniciam-se as florestas. Em uma área degradada, conhecer e recuperar o solo é essencial para a manutenção da biodiversidade. 





“Para que a vegetação possa se desenvolver de forma satisfatória e alcançar os objetivos da restauração, é fundamental que os solos apresentem características capazes de suportar o desenvolvimento das plantas, principalmente na fase inicial”, afirma.

É preciso pontuar, ainda, que a recuperação de um ecossistema não ocorre de forma imediata. "É necessário o estabelecimento de técnicas sustentáveis, como a reintrodução de populações de diferentes espécies da macro e microfauna do solo. Com a introdução inicial de espécies herbáceas-arbustivas pioneiras, espera-se promover a cobertura do solo, atrair a fauna e incorporar matéria orgânica ao solo. Neste sistema integrado e multidisciplinar, herbívoros, polinizadores e dispersores de sementes ajudam o solo e o ambiente em sua recuperação”, destaca o especialista em solos e microbiologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Igor Assis.