Ao longo de mais de dois anos de pandemia, as máscaras foram equipamentos essenciais no esforço de diminuir a disseminação do coronavírus e também um símbolo da presença da COVID-19 na vida cotidiana. O anúncio de que elas deixam de ser obrigatórias também em locais fechados de Belo Horizonte a partir desta quinta-feira (28/4) foi recebido pela população com alívio - sinal de que o momento mais crítico foi, de vez, deixado para trás. Apesar do avanço, especialistas fazem ressalvas a respeito da liberação e pedem cautela.
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Liberação do uso de máscaras em locais fechados divide opiniões em BHBH desobriga uso de máscaras em locais fechadosZema: uso de máscaras não será mais obrigatório em locais fechadosEntidades defendem Plano Diretor de BH em manifesto entregue a vereadoresCOVID-19: 26 pessoas morrem em Minas nas últimas 24 horasUFMG mantém o uso de máscara nos espaços da universidadeCidades da Região Metropolitana de BH se preparam para dispensar máscarasA análise dos especialistas sobre a desobrigação, no entanto, é reticente. Para o médico e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estêvão Urbano, tirar a máscara, neste momento, é uma decisão compreensível, embora demande cuidados.
"É muito importante manter máscara no transporte público e nos hospitais. E, principalmente, grupos de maior risco, idosos e gestantes. O ideal, talvez, seja manter as máscaras. É muito cíclico: países que tiraram de forma rápida tiveram um rebote", afirma o especialista, que compôs o comitê montado pela prefeitura para monitorar o avanço da infecção na capital.
Em Belo Horizonte, a liberação das máscaras em ambientes fechados está atrelada ao avanço da vacinação infantil. Recém-empossados, o prefeito Fuad Noman (PSD) e a secretária de Saúde, Cláudia Navarro, fizeram apelos aos pais para acelerar a imunização. Dados de ontem apontam que apenas 35,9% dos jovens entre 5 e 11 anos receberam a segunda injeção - entre os maiores de 12 anos, o reforço foi aplicado em 65,4%. Embora reconheça que a cidade ainda não atingiu o "nível ideal" de cobertura vacinal, Cláudia garante que houve considerável avanço.
"Em 17 de março, 13,3% das crianças haviam tomado a segunda dose", lembrou, durante entrevista coletiva, em comparação aos quase 36% atuais. "Um dos motivos é exatamente essa tentativa de conscientização dos pais, dos responsáveis, sobre a vacinação da criança".
Na visão de Unaí Tupinambás, infectologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a necessidade de expandir a imunização é uma das lacunas que precisam de preenchimento.
"Ainda temos a população com a terceira dose aquém do ideal e estamos atravessando o outono-inverno. Temos que levar em consideração o que acontece na Europa, na Ásia e nos EUA, onde está tendo aumento de casos", pontua. Embora não creia em subida vertiginosa dos números, como visto no início de 2021, Unaí pede atenção redobrada. "Temos que tomar cuidado, porque há um aumento de casos ao redor do mundo".
Unaí diz que esperaria mais um tempo para definir pela retirada das máscaras. Apesar disso, considera positiva a decisão de manter o uso do aparato para circulação em hospitais e embarque no transporte coletivo.
No Rio de Janeiro, as proteções faciais em locais foram desobrigadas no mês passado. Como mostrou o Estado de Minas, a decisão veio a reboque de campanha de imunização nas escolas.
Para Cláudia Helena, 45, gerente de loja em BH, a decisão da prefeitura veio em momento adequado. "Os índices da pandemia já estão bem baixos e a expectativa era poder tirar a máscara. A vacina também ajudou muito. Foi em uma hora certa".
Entenda as exceções
Embora já façam planos para abrir os sorrisos em estabelecimentos, prédios comerciais, filas bancárias e outros ambientes fechados, os belo-horizontinos sabem que, em determinados locais, precisam se manter em alerta. Cidadãos ouvidos pela reportagem garantem que vão continuar com os rostos cobertos em casas de saúde e durante os trajetos de ônibus.
"Enquanto precisar,vamos usar. O ônibus é um lugar fechado e com número grande de gente entrando e saindo. Às vezes, dentro do ônibus, os passageiros estão ignorando a máscara. As empresas têm que colocar os avisos", pede.
Cláudia Helena crê que o uso de máscaras por todos os frequentadores dos hospitais será essencial para impedir, também, a disseminação de outros vírus, como o da gripe.
"A máscara não vai ser uma coisa assustadora de ver outra pessoa usando", assinala.
Unaí Tupinambás, por sua vez, defende a extensão da restrição a outros espaços privados. "Em supermercados, drogarias e sacolões, por serem fechados, seria interessante a gente manter o uso de máscaras", exemplifica.
Os terminais de embarque para viagens situados em Belo Horizonte vão seguir diretrizes distintas. Enquanto a rodoviária vai se adequar à flexibilização municipal e permitir a circulação de pessoas "desmascaradas", no Aeroporto Internacional de BH, só é possível andar descoberto pelo saguão. Nas áreas de embarque e durante os voos, o uso de máscara segue obrigatório.
Estabelecimentos podem pedir o uso de máscaras?
A partir de amanhã, com a edição do decreto liberando as máscaras, uma pergunta pode ganhar corpo: estabelecimentos têm a prerrogativa de pedir aos clientes que cubram os rostos, sob pena de pedir a saída deles do ambiente? Marcelo Mantuano, advogado especialista em direito empresarial, diz que sim, porque espaços comerciais podem ter regras próprias que, nem sempre, são leis.
"Não existe nenhuma lei que obrigue as pessoas a usar camisa, mas existem locais que impedem a entrada de pessoas sem camisa, por exemplo", explica. "O que não poderia é o oposto: liberar as máscaras quando elas eram obrigatórias pela lei do município", emenda.
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