Os atos contra a instalação de uma mineração na Serra do Curral ganham cada vez mais simpatizantes em Belo Horizonte. Enquanto centenas de cartazes cobriram muros e fachadas de prédios nesta quinta-feira (28/4) com apelos dos moradores em defesa da área de preservação ambiental, ambientalistas participaram de ato na Praça Raul Soares para mobilizar o poder público a não aprovar o projeto da mineradora Taquaril Mineradora S.A. (Tamisa).
O futuro da Serra do Curral estará em jogo nesta sexta-feira (29/4), quando uma reunião no Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, definirá se o espaço vai receber a instalação de uma mineradora numa área equivalente a mais de 100 hectares.
A polêmica iniciativa vem mobilizando vários protestos da sociedade civil e de ambientalistas, que alertam sobre os diversos impactos para a fauna e flora. A votação será virtual e poderá ser acompanhada pelo público, com limite de vagas na sala.
As ações se somam ao movimento “Tira o Pé da Minha Serra”, composto por ativistas, movimentos socioambientais e grupos culturais, que tentam impedir que a mineradora invada a área de preservação ambiental. Eles citam impactos como desequilíbrio ambiental, destruição da área verde, poluição sonora e do ar, riscos de mais deslizamentos em encostas, mortes dos cursos d'água, risco aos rios, desrespeito à área hospitalar e destruição dos sítios ecológicos.
Integrante do projeto Manuelzão, que dá suporte ao movimento, a pesquisadora Jeanine Oliveira teme pelo futuro dos moradores de bairros como Castanheiras, Alto Vera Cruz, Taquaril e Aglomerado da Serra, que seriam afetados com o empreendimento: “Além do barulho, os bairros próximos sofrerão com a poeira carregada de substâncias como a sílica, que provoca problemas respiratórios”.
Pleito histórico de ambientalistas, o tombamento da Serra do Curral está em análise no Conselho Estadual de Política Ambiental (Conep). Os trâmites, porém, ainda não foram concluídos.
Ao que se sabe, a fixação de cartazes nas fachadas dos prédios foi feita por grupo anônimos. As intervenções se concentraram em espaços abandonados e tapumes de construção civil. Além desses pontos, estabelecimentos comerciais e culturais cobriram suas paredes de verde, em apoio à luta contra a mineração. A fachada do Edifício JK recebeu projeções pela preservação da Serra do Curral.
Etapas do projeto da Tamisa
O planejamento da Tamisa prevê a exploração da região da Fazenda Ana da Cruz, que fica em Nova Lima, na divisa com a capital e próxima ao Pico Belo Horizonte, ponto mais alto da serra.
O processo tem duas etapas: na primeira, espera-se extrair 31 milhões de toneladas de minério de ferro ao longo de 13 anos, enquanto a segunda fase consiste na lavra de 3 milhões de toneladas de itabirito friável rico, com dois anos de implantação e nove de operação.
Ação civil pública
Na tentativa de barrar o projeto, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ajuizou ação civil pública contra a mineradora e contra o município de Nova Lima. O órgão alega que o projeto é incompatível com a legislação urbanística do município da Grande BH. Em fevereiro de 2022, a cidade expediu declaração que atestou a conformidade do empreendimento, apesar de as leis locais de uso e ocupação vedarem o uso minerário.
O Instituto Guaicuy já havia movido ação na segunda-feira para tentar impedir a votação, alegando que o local conta com proteção provisória, uma vez que o processo de tombamento já teve início.