Sorriso emocionado iluminando o rosto cansado, braços cruzados sobre o peito num símbolo de ternura, lábios balbuciando palavras de agradecimento. Com esses gestos singelos, Olena Zibrova, de 66 anos, retribuiu, no início da tarde de ontem, a calorosa recepção no aeroporto internacional de Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, aos primeiros refugiados ucranianos que chegam à capital mineira.
Mais velha de um grupo de quatro famílias, no total de 13 pessoas que só falam seu idioma (ucraniano), Olena veio na companhia das filhas Poliana, de 24, e Viktoriia Bodnariuk, de 22, e contou ser natural de Kryvyi Rih, no Sudeste do país, cidade do presidente Volodymyr Zelensky, que lidera os ucranianos na guerra contra a Rússia.
A viagem em busca de vida nova, longe dos bombardeios, foi longa. Primeiro, deixaram a terra natal, familiares e pessoas queridas devido à guerra, muitos deles agora mortos; depois ficaram em Varsóvia, capital do país vizinho ao seu, a Polônia, em compasso de espera, até, finalmente, viajarem dois dias rumo ao Brasil.
A chegada a BH estava prevista para sexta-feira, mas problemas na conexão em Frankfurt, na Alemanha, atrasaram os planos.
Ontem, exatamente às 12h30, as famílias chegaram ao desembarque em Confins. Na sofrida e delicada situação de “refugiadas”, as 13 pessoas, das quais cinco crianças, estão sendo acolhidas pela Igreja Batista Central, localizada na Região Centro-Sul de BH.
Cerca de 50 pessoas com bandeiras e flores aplaudiram e desejaram em voz alta "laskavo próximo", som em português para "bem-vindos" na língua ucraniana. "Estou com o coração batendo acelerado de emoção", comentou uma mineira ao lado da filha adolescente, agitando uma bandeira.
Composto na maioria por mulheres, o grupo tem cinco adultos, três jovens e as crianças, com idade entre 2 e 12 anos. Com o semblante naturalmente fatigado de quem viaja várias horas de avião, acentuado pelo estresse extremo do conflito no país invadido pela Rússia, eles são os primeiros ucranianos que chegam a Minas após o conflito, iniciado em 24 de fevereiro.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a guerra já motivou a saída de cerca de 6 milhões de ucranianos.
Foi uma chegada tão emocionante, que quase todos os presentes à recepção aos ucranianos deixavam escapar lágrimas, incluindo repórteres escalados para a cobertura.
"Os ucranianos adoram flores, por isso há tantos buquês aqui hoje. Tenho certeza de que meus conterrâneos vão gostar muito de Belo Horizonte", disse o engenheiro de telecomunicações Vitalii Afanasiev, de 37, residente há 14 anos em BH, casado com a belo-horizontina Rafaela e pai das meninas Mila, de 5, e Lia, de 4. Todos ofereceram aos recém-chegados flores azuis e amarelas, as cores nacionais do país europeu.
ACOLHIDA
De acordo com o pastor Paulo Mazoni, da Igreja Batista Central, que recepcionou o grupo e fez uma oração, as famílias seguiram para um hotel e, nos próximos dias, para quatro casas localizadas no Bairro Luxemburgo, na Região Centro-Sul da capital. As moradias são mobiliadas e terão as despesas pagas por um período de 12 meses.
De acordo com o pastor Paulo Mazoni, da Igreja Batista Central, que recepcionou o grupo e fez uma oração, as famílias seguiram para um hotel e, nos próximos dias, para quatro casas localizadas no Bairro Luxemburgo, na Região Centro-Sul da capital. As moradias são mobiliadas e terão as despesas pagas por um período de 12 meses.
"Eles vieram com a roupa do corpo, por isso vamos ajudá-los em tudo. Estamos aguardando a vinda de mais 15 refugiados ucranianos. A embaixada do Brasil na Polônia, o governo brasileiro... tivemos todo apoio para trazer o grupo. Fazemos o melhor para recebê-los", disse o pastor, explicando que os refugiados são de religiões e localidades diversas, e que o destino, o Brasil, especificamente Minas, foi decidido pelos próprios ucranianos. O pastor disse não ter dúvidas de que eles vão gostar do pão de queijo e do feijão-tropeiro.
Nos primeiros momentos em solo brasileiro, não havia sinais de estranhamento, mas demonstrações de vontade de interagir, mesmo ante as barreiras da língua. As filhas de Vitalii e Rafaela, Mila e Lia, logo se aproximaram das crianças recém-chegadas – os irmãos Sofia, de 8, e Illya, de 6, com a mãe, Rafaela Mendes, fazendo as apresentações.
Todos sorriram muito, participaram da oração, traduzida pela ucraniana residente em BH Svitlana Muzychenco, que mora há oito anos em BH, é casada com um mineiro, trabalha em projetos humanitários, e trazia, na recepção, uma bandeira do país europeu amarrada como se fosse uma capa.
No desembarque, algumas cenas despertaram ternura: uma criança afagando as mãos da mãe; o menino de 2 anos dormindo no colo, e a alegria diante do coro de bem-vindos.
Para garantir a nova vida aos refugiados, as famílias receberão suporte médico, e as crianças serão encaminhadas para a escola. Os adultos terão aulas de português ministradas por voluntários. “Em alguns casos, os adultos terão colocação no mercado de trabalho”, conforme nota divulgada pela Igreja Batista Central, que está ligada ao Global Kingdom PartnerShip Network (GKPN), rede internacional sob a liderança do pastor brasileiro Elias Dantas, que, desde o começo do conflito, "vem conseguindo tirar 300 famílias por dia" das áreas de risco na Ucrânia.
PARCERIA
O GKPN, ao qual está vinculada a Igreja Batista Central, é um movimento presente em 108 países agregando pastores e empresários cristãos. No mundo, acolhem 2,5 mil famílias de refugiados ucranianos.
O GKPN, ao qual está vinculada a Igreja Batista Central, é um movimento presente em 108 países agregando pastores e empresários cristãos. No mundo, acolhem 2,5 mil famílias de refugiados ucranianos.
As famílias que decidiram vir para o Brasil têm as despesas aéreas custeadas por meio de ofertas de igrejas e empresários do movimento. No Brasil, o primeiro grupo foi acolhido em Curitiba (PR), pela Primeira Igreja Batista; o segundo, pela Igreja da Cidade, em São José dos Campos (SP); e o terceiro pela Igreja Batista Central, em Belo Horizonte. O projeto envolve inicialmente o período de 12 meses. Entre a metas, estão manter as famílias em unidades habitacionais, oferecer alimentação, encaminhar as crianças à escola e os adultos para aulas de idioma, e, em alguns casos, emprego para os refugiados.