Os acidentes de trânsito representam a maior parte dos atendimentos realizados no Hospital Pronto-Socorro João XXIII, um dos maiores do país e referência nacional na atenção ao politrauma.
No período de 2011 a 2020, 66.404 pessoas entraram no setor de politraumatizados da unidade localizada no bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte, devido a esse tipo de ocorrência. A maioria - 59,5% - pilotava moto.
A assessoria de comunicação da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) divulgou os dados em alusão à campanha “Maio Amarelo”, cuja missão é conscientizar os cidadãos de todo o mundo sobre o alto índice de mortes no trânsito.
Jovens
Outro dado que chama a atenção é que 32,09% dos atendimentos no João XXIII, motivados pelos acidentes de trânsito, envolvem jovens com idades entre 20 e 30 anos. O número – um terço dos registros - reúne motociclistas, pedestres e condutores de automóveis de passeio.
Daniela Fóscolo, cirurgiã do trauma e gerente médica do Complexo de Urgência e Emergência da Rede Fhemig, conta que a única vez que percebeu uma diminuição nos atendimentos a acidentes de trânsito foi no início da “lei seca”, em 2008.
A percepção da médica é confirmada pelos dados do estudo “O impacto da Lei Seca sobre o beber e dirigir em Belo Horizonte”, que mostrou queda de 50% no número de pessoas dirigindo com algum nível de álcool no organismo no ano de instauração da “lei seca”. Porém os acidentes de trânsito seguem sua trajetória de crescimento desde então.
Conscientização
Na opinião do cirurgião-geral e gerente assistencial do Complexo de Urgência e Emergência, Rodrigo Muzzi, o caminho para uma possível mudança de cenário é a conscientização para a importância da direção segura e da educação no trânsito.
“Cada um deve ter consciência de que a segurança dele e dos demais depende do seu cuidado e atenção ao dirigir”, pondera.
Segundo Muzzi, o tempo de internação das vítimas de acidentes de trânsito é bastante variável e depende do tipo de lesão.
“De modo geral, se não houver lesão grave, o paciente costuma ficar no pronto-socorro por algumas horas. Caso haja fratura de membros, esse tempo sobe para sete dias (fraturas simples) a um mês (fraturas complexas), com possibilidade de sequelas. Quando há lesão cerebral grave, o paciente pode ficar internado por mais de 30 dias”.
“O problema é que especialmente o motociclista está sujeito a lesões de maior gravidade, quando comparado aos demais motoristas, que estão protegidos pela carcaça do veículo que dirigem”.
No pronto-socorro do Hospital Regional Antônio Dias (HRAD), também da Rede Fhemig, em Patos de Minas, no Alto Paranaíba, o cirurgião-geral Carell Peres Marra constata, em sua rotina de atendimentos, que os níveis de gravidade dos acidentes de trânsito ocorridos na região, principalmente envolvendo motocicletas, variam de moderado a grave.
“Geralmente, são homens jovens e tendem a ter uma gravidade maior. Não é infrequente pacientes atropelados”, ressalta o médico. Segundo ele, a prevenção é sempre o melhor caminho. “A maioria dos acidentes ocorre por excesso de velocidade ou uso de álcool”.
Problema mundial
A situação que se repete nas grandes cidades do país e do mundo constitui um grave problema de saúde pública - reduzindo a expectativa de vida de indivíduos jovens e gerando incapacidades que comprometem o desempenho pessoal e profissional de gerações de homens e mulheres. O problema é tão sério que mobiliza autoridades e instituições em todo o mundo para mudar esse cenário até 2030.
O esforço conjunto apresenta dois projetos principais que se complementam: a 2ª Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2021-2030, instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas (ONU), e o Maio Amarelo, que nasceu com a 1ª Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011-2020) e que traz, neste ano, o tema “Juntos salvamos vidas!”.
Ambos buscam reduzir pela metade o número de mortes e lesões decorrentes de acidentes de trânsito até 2030. A meta é uma prioridade econômica e social para a OMS, que defende, ainda, o investimento na segurança rodoviária devido ao seu impacto positivo na saúde pública e na economia.
De acordo com a OMS, os acidentes de trânsito são a principal causa de óbito para crianças e jovens entre 15 e 29 anos em todo o mundo e uma das principais razões de morte e ferimentos globalmente.
Por ano, 1,35 milhão de pessoas perdem a vida e outras 50 milhões ficam machucadas em virtude de batidas de automóveis. A maioria das ocorrências é em países em desenvolvimento (90%).
No Brasil, a primeira década de ações teve como resultado a queda de quase 30% no número de mortes relacionadas a acidentes de trânsito. De modo geral, o objetivo de diminuir pela metade não foi alcançado por nenhum dos mais de cem países participantes.