O cenário para quem depende dos ônibus em Belo Horizonte segue caótico e passageiros que precisam da condução perdem várias horas do dia se programando para conseguir se adequar aos horários das viagens. Enquanto isso, a falta de acordo entre prefeitura e empresas sobre subsídios e tarifas e a iminência do aumento do preço do diesel surgem como elementos agravantes para a oferta de coletivos na capital.
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COVID, gripe e sarampo: BH terá sábado de vacinaçãoMPMG vai instalar unidade de combate à violência doméstica em Pouso AlegreÔnibus: com aumento do diesel, empresas ameaçam reduzir frotasEmpresários de ônibus questionam prazo de subsídio oferecido pela PBHColapso: Setra-BH pede reunião com PBH sobre aumento do dieselUsuários sofrem com demora de ônibus neste sábado (7)Multada em R$ 5 milhões, Backer enfrentará Justiça no fim deste mêsDados disponibilizados pela BHTrans mostram que há uma defasagem entre o número de viagens oferecido pelas empresas e o número de passageiros que demandam o serviço. A última atualização divulgada pela autarquia mostra que na última semana, entre segunda (25) e sexta-feira (29), a relação nunca foi paritária.
Em todos os dias do período, o número de passageiros foi superior a 76% da média diária de usuários do serviço antes da pandemia. Em contrapartida, as viagens não superaram a marca de 68% do que era oferecido pré-COVID em nenhuma ocasião.
Nas ruas, usuários do transporte público contam como se programam para não perder os horários e reclamam especialmente da oferta de coletivos com a chegada do fim de semana. A auxiliar de serviços gerais, Ercília Aparecida Almeida dos Santos, de 56 anos, reclama do tempo aguardando pela condução que precisa tomar para sair de casa no Bairro Vista Alegre, Oeste de BH, e ir até o trabalho no Bairro Funcionários, Centro-Sul da capital.
“Final de semana é uma tristeza. São quase duas horas esperando ônibus. Pego serviço às 8h, então, preciso sair de casa 6h30 ou antes para conseguir chegar no horário”, conta. Ela diz que o atraso acontece, principalmente, nas linhas de bairro. “É um caos. De manhã, eu venho praticamente pendurada na porta. O ônibus está sempre lotado, é desconfortável”, relata.
O aposentado José Souza, 81, que mora no bairro Nova Vista, costuma sair aos fins de semana para resolver problemas pessoais e afirma que a sexta-feira e sábado são os piores dias para pegar ônibus.
“A situação não está fácil. Mesmo no fim de semana, a gente vai se gangorrando, porque não tem lugar para sentar. E ainda tem a questão de as pessoas não respeitarem a prioridade dos idosos”, disse. O aposentado reclama, ainda, que muitos motoristas passam direto quando vêem que ele usa bengala. “Ai são mais duas horas esperando no ponto. Se reclamar, ainda é pior”, comenta.
Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), disse que fará um esforço para oferecer viagens extras à população da capital neste fim de semana do Dia das Mães (8). A entidade reiterou que a operação especial será realizada apesar da “insuficiência de recursos financeiros gerados pelo sistema de transporte”.
Sem acordo. De novo
Na última quinta-feira (5), vereadores da capital, o prefeito Fuad Noman (PSD) e empresários de ônibus de BH se reuniram para tentar chegar a um acordo sobre a situação do transporte na cidade. O acerto, no entanto, não aconteceu.
Uma nova reunião foi marcada para a próxima terça-feira (10) para discutir um projeto de liberação de R$ 163,5 milhões em subsídio para as empresas. Em contrapartida, elas devem aumentar o número de viagens em, ao menos, 30% durante dias úteis, renovar a frota de veículos de até 10 anos.
A Câmara Municipal promete intervir para fiscalizar o repasse dos valores às empresas para garantir sua utilização em melhorias no transporte público. A fiscalização do uso dos recursos foi ponto de entrave na negociação.
O imbróglio entre Legislativo, Executivo e empresas é de longa data. As concessionárias afirmam que o contrato vigente com a prefeitura é ultrapassado e que impede o funcionamento das empresas sem um aumento da tarifa, fonte única de financiamento das companhias. Elas conseguiram uma decisão judicial favorável que determina o aumento de 30% na passagem de ônibus na capital, com a tarifa principal podendo chegar a R$ 5,85.
Para evitar a aplicação do reajuste tarifário, a prefeitura tenta aprovar um projeto de lei que estabelece subsídio das gratuidades previstas em lei às empresas e a redução da tarifa em R$ 0,20. A proposta, no entanto, não avançou na Câmara Municipal.