Os riscos na construção de uma mineradora na Serra do Curral, cartão-postal de Belo Horizonte, não se resumem apenas à destruição da área verde, à poluição sonora e o perigo às várias espécies de extinção no local. A ameaça agora é a estrutura de uma adutora da Copasa que serve de abastecimento de água para Belo Horizonte, Nova Lima e Sabará, que poderá desmoronar com o aumento da circulação de caminhões carregados com minério de ferro.
Especialistas já avaliam os riscos desde que o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) aprovou o pedido de licenciamento da Taquaril Mineradora S.A. (Tamisa) para a exploração da Serra do Curral. A licença ocorreu na madrugada de sábado (30/4), sob vários protestos dos ambientalistas, artistas e populares.
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A adutora conta com cerca de 2 metros de diâmetro que serve para bombear o fornecimento de água em Belo Horizonte até a estação de tratamento de Bela Fama. O equipamento é capaz de processar 8 mil litros de água por segundo. A estrutura passa no interior do terreno da Tamisa, lobo abaixo da barragem, onde a circulação de veículos pesados é grande.
“As pessoas não têm ideia do tamanho do risco que estamos envolvidos. É assustador. Fiquei abismado com o risco que eles estão nos colocando. Os consultores da Tamisa disseram que não há plano de emergência, pois não há risco. Mas não existe obra de engenharia sem risco. Veremos caminhões passando o tempo inteiro em cima da adutora, que é de 1929”, explica o engenheiro ambiental e mestre em sustentabilidade Felipe Gomes, um dos articuladores do movimento “Tira o pé da minha Serra”.
Ele esteve no local nesta terça-feira (10/5) para avaliar o cenário de riscos de um possível rompimento da adutora, que está a apenas meio metro de profundidade. “Se ela desmoronar, é certo que Sabará ficará sem água e precisará ser abastecida com caminhão-pipa”, relata.
Na situação atual, o engenheiro explica que o risco de rompimento ainda é reduzido, mas o problema se torna agravante no futuro. Por isso, ele pedirá nova inspeção a ser feita por técnicos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e pela Câmara de Belo Horizonte para avaliar a gravidade do problema.
“Será necessário uma visita técnica específica para ver somente a questão da adutora. O problema está sendo totalmente negligenciado pela Tamisa. Hoje não há risco nenhum e estamos seguros. A partir do momento em que a mineradora for implantada, haverá risco enorme”, afirma.
Gomes também comparou a situação da Serra do Curral com o rompimento de um dique da Vallourec, em janeiro, em virtude das fortes chuvas. Apesar dos riscos ao ambiente, não houve mortes. “Na Vallourec, uma pilha de rejeitos filtrados foi colocada acima da adutora. Embaixo dela, há uma bacia. Com as chuvas, um pedaço do talude se juntou e caiu dentro dessa bacia, o que provocou um tsunami e inundou a BR-040. E pode ocorrer a mesma coisa na Serra do Curral, mas temos uma adutora em vez de uma estrada abaixo. O estudo de impacto ambiental apresentado pela Tamisa já falava sobre isso, mas não apresentou risco”.
Questionado pela reportagem sobre o risco apresentado pelo engenheiro, o governo de Minas informou, por meio de nota, que "o projeto fica a jusante da captação de Bela Fama e qualquer possível influência sobre a adutora foi avaliada pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que definiu as medidas de controle".
O Estado de Minas também questionou a Tamisa sobre os planos de segurança para a adutora, mas não obteve resposta. Essa reportagem será atualizada assimq ue obtivermos um retorno.
Leia a nota do governo de Minas na íntegra:
A utilização de água para a fase 1 do projeto é principalmente para a aspersão de água e controle de poeira. Essa água vai ser captada um poço subterrâneo profundo, e não há previsão de impacto sobre as nascentes adjacentes, uma vez que o poço terá profundidade de 300 metros e fará a captação em aquífero profundo.
Não há relação entre os sistemas de abastecimento de água de Belo Horizonte e Nova Lima com o projeto em questão, já que o projeto está inserido na bacia do Córrego André Gomes, e que parte do abastecimento de Belo Horizonte e Nova Lima são feitos pela captação de água do Rio das Velhas em Bela Fama, a montante da confluência com o Córrego André Gomes. O projeto fica a jusante da captação de Bela Fama e qualquer possível influência sobre a adutora foi avaliada pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que definiu as medidas de controle. Além disso, a área que vai ser intervinda, com uma previsão final, após implantação da Fase 2, é pequena frente, primeiro, à área da Fazenda Ana da Cruz (100 hectares de intervenção, numa área de 1200 ha, o que corresponde a 8,5% da área da fazenda), e ínfima frente ao tamanho do aquífero da bacia do Rio das Velhas. Dessa forma, não há previsão de impactos significativos sobre a infiltração de água na bacia como um todo, bem como não há previsão de rebaixamento do lençol freático.