“Este lugar é minha vida.” A frase em tom firme e permeada de sentimento vem na voz do vigilante José Rufino Veloso, de 59 anos, conhecedor como poucos de cada palmo do Parque das Mangabeiras, que completa hoje 40 anos e fica aos pés da Serra do Curral, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte – para festejar a data, há uma programação especial. (Veja o quadro.) Bem antes da abertura da unidade de conservação ao público, José, morador do vizinho Aglomerado da Serra, aproveitava bem o espaço jogando bola num “campinho” de futebol existente perto da atual Praça das Águas e inventando moda nas travessuras da infância.
Leia Mais
Serra do Curral: ativistas organizam cronograma em defesa do símbolo de BHSerra do Curral: ambientalistas criticam decisão do TJMG sobre mineração Serra do Curral: conselho repudia interrupção do processo de tombamento Feriado no Parque do Palácio: exposições, ioga e oficina de bolha de sabãoParque das Mangabeiras: edital de licitação de áreas será publicado Frente fria: fim de semana tem possibilidade de chuva em MinasHomem é socorrido em estado grave após ser atropelado por ônibus em BHÔnibus intermunicipais de MG terão reajuste de até 17% a partir de segundaSexta-feira tem céu nublado, mas sem possibilidade de chuva em BHIpsemg alerta para tentativa de golpe via WhatsAppDuas mulheres morrem após carro ser cercado por criminosos em BH
Ao olhar cada árvore, planta, animal, José reafirma sua admiração pelo parque, tombado como patrimônio do município desde 1991. “Até quando estou de folga venho aqui. E trago sempre meus 11 filhos e 13 netos”, conta o homem, que trabalha há 28 anos como vigilante da unidade, administrada pela Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica (FPMZB). “Precisamos preservá-lo, e também o entorno, constantemente. Nem sei o que seria da cidade sem ele”, diz o mineiro natural de Raul Soares, na Zona da Mata, e residente na capital desde criança.
Neste tempo em que a Serra do Curral se encontra ameaçada pela mineração, ainda mais após a licença concedida pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) à Taquaril Mineração S/A (Tamisa) para início de atividades, o Parque das Mangabeiras, o maior de BH, mostra sua importância em vários aspectos, principalmente na interação com áreas públicas e privadas próximas. Para começar, está inserido no conjunto reconhecido como patrimônio mundial por fazer parte da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). “O parque é zona núcleo da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, uma área de proteção integral de ecossistemas”, explica o presidente da FPMZB, biólogo Sérgio Augusto Domingues.
Leia Mais
Serra do Curral: ativistas organizam cronograma em defesa do símbolo de BHSerra do Curral: ambientalistas criticam decisão do TJMG sobre mineração Serra do Curral: conselho repudia interrupção do processo de tombamento Feriado no Parque do Palácio: exposições, ioga e oficina de bolha de sabãoParque das Mangabeiras: edital de licitação de áreas será publicado Frente fria: fim de semana tem possibilidade de chuva em MinasHomem é socorrido em estado grave após ser atropelado por ônibus em BHÔnibus intermunicipais de MG terão reajuste de até 17% a partir de segundaSexta-feira tem céu nublado, mas sem possibilidade de chuva em BHIpsemg alerta para tentativa de golpe via WhatsAppDuas mulheres morrem após carro ser cercado por criminosos em BHCorredor ecológico
Em resumo, o Mangabeiras, e os parques Baleia (estadual), Paredão da Serra do Curral e Fort Lauderdale, compõem, em conjunto, um valioso corredor ecológico, condição que garante riqueza da biodiversidade e preservação das espécies. “Há grande necessidade de proporcionar conectividade no Quadrilátero Ferrífero entre as unidades de conservação públicas e privadas existentes. Quando isoladas, as espécies animais e vegetais ficam vulneráveis, por isso é fundamental que a Serra do Curral não sofra mais impactos ambientais, pois está circundada de atividades minerárias. Lamentavelmente, essa questão ambiental essencial à vida e à natureza foi ignorada no processo de licenciamento da mineradora Tamisa”, explica Sérgio Augusto.
Nas décadas de 1960 e 1970, a área do Mangabeiras era ocupada pela mineração, a cargo da empresa Ferrobel. Com a criação do parque e inauguração em 13 de maio de 1982, esse local pode ser considerado um exemplo de “reconversão de áreas mineradas”, o que se traduz pela destinação sustentável do local impactado e hoje visitado por milhares de pessoas – aos domingos e feriados, a média é de 3 mil.
“É essencial um parque urbano ter uso público”, afirma Sérgio Augusto, neste momento na companhia do gerente do Mangabeiras, Rodrigo Roscoe, e da bióloga e educadora ambiental Nadja Simbera, olhando reproduções dos projetos feitos por Burle Marx. “Temos aqui uma joia ambiental, com os planos de manejo e de conservação implantados, Grupamento Ambiental da Guarda Municipal para patrulhamento da área, e recebendo visitantes de todos os cantos da cidade e turistas de outros estados e países”, orgulha-se.
Laboratório vivo
Na manhã ensolarada de terça-feira, diante do lago com carpas na Praça das Águas, o presidente da FPMZB citou os vários aspectos que fazem do Parque das Mangabeiras não só um refúgio da biodiversidade e equipamento para o turismo e o lazer da população como um valoroso “prestador de serviços” ao clima de BH, à produção de água, à arborização, à polinização e à vigilância sanitária. “Trata-se de um verdadeiro laboratório vivo, um universo que demanda permanentes estudos com pesquisas desenvolvidas por especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da PUC Minas e outras instituições de ensino superior.”
Caminhando pelo parque, Sérgio Augusto faz uma comparação: “Como todo o conjunto montanhoso da Serra do Curral, o Parque das Mangabeiras atua na regulação climática, funcionando como um sistema de ar-refrigerado para Belo Horizonte”. Outro aspecto se refere à produção de água, embora, ao longo do tempo, tenham sido registrados graves impactos de rebaixamento de lençóis freáticos, causados pela mineração, e consequentemente redução do número de nascentes.
A unidade de conservação presta outros serviços ambientais como a retenção de poeira, reduzindo a poluição atmosférica gerada pela mineração no entorno, e altamente prejudicial à saúde dos moradores da capital. Além disso, é um banco de sementes para posterior dispersão do material genético pelos insetos e pássaros. Na longa lista de contribuição à região, a região funciona como indicado para o setor de zoonoses. No caso da febre amarela, que assolou BH há alguns anos, os macacos funcionam como sentinela para a circulação do vírus, dando o alerta para a vigilância epidemiológica.
Orgulho da cidade
Jovens com seus skates, casais de namorados à sombra de uma árvore, fotógrafos escolhendo os melhores ângulos, homens e mulheres no treino matinal – todos os caminhos levam ao Parque das Mangabeiras. Na pista, o estudante de economia Otacílio Júnior, de 24, faz suas manobras com o skate, e, logo depois, elogia a tranquilidade e a segurança. “Morei um tempo na Austrália, e desde que voltei, há um ano, venho sempre. É um patrimônio da cidade, precisa ser 100% preservado.”
Na manhã de terça-feira, Rafael, de 1 ano, estreava no parque, ora no colo dos pais, Edmilson Souza, técnico de enfermagem, e Adriana Barbosa, psicóloga, ora querendo ir para o chão. Morador do Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul, o casal conhece o espaço há tempos, e aprecia, de forma especial, a Praça das Águas. “O contato com a natureza faz muito bem”, observa Adriana, enquanto, para o marido, serve para aliviar tensões, principalmente para quem tem uma profissão como a dele, ainda mais em tempos de pandemia.
No passeio, atrativos para todos os gostos, idades e objetivos: Ciranda de Brinquedos (espaço de lazer para as crianças com playground, cidade de bonecas, escorregador, entre outros); parque esportivo, com quadras poliesportivas, de tênis e peteca; pistas de esportes radicais, para skate, patins e bicicross; Ilhas do Passatempo, que contam com áreas arborizadas com mesinhas e bancos para apoio para a prática de piqueniques; e Mirante da Mata, de onde é possível apreciar grande porção da vegetação do parque e ainda visualizar parte da capital.
Paraíso verde
Cada passo, uma descoberta: pode ser o conjunto de nove árvores de pau-brasil, o voo da borboleta capitão-do-mato, aquela de asas azuis, o movimento arisco de um quati, o espelho-d’água com as carpas ou o morro do Chapéu da Bruxa, na Serra do Curral. Ver para crer, andar para conhecer. Segundo a FPMZB, o parque conta com fauna diversificada, sendo um total de 392 espécies identificadas até o momento. Há 138 espécies de aves, entre elas o jacu e a saracura, observados mais facilmente pelos visitantes; cerca de 40 mamíferos, entre eles quati, mico-estrela, caxinguelê (esquilo), ouriço-cacheiro e tatu-galinha. Das 20 espécies de anfíbios, merece destaque a descoberta no local de uma rã que conta com nome bem típico, Hylodes uai. Há registradas, ainda, três espécies de peixes, 18 répteis e 273 invertebrados.
Os técnicos explicam: no Parque das Mangabeiras, a vegetação encontrada é uma transição entre o cerrado e a mata atlântica. As florestas são compostas por matas de galeria, que margeiam os cursos d’água e são sempre verdes e exuberantes. A porção mais baixa das encostas é ocupada pelas matas estacionais, que perdem parte das folhas na estação seca. Nas matas, ocorrem espécies como a copaíba, jatobá, jacarandá, açoita-cavalo e pau-jacaré.
Já o cerrado pode ser encontrado na porção mais alta das encostas, onde o solo é mais raso e pode apresentar afloramentos de rocha. Nessas áreas, destacam-se espécies como barbatimão, candeia, murici, pau-terra, pau-santo e também as mangabeiras, espécie que dá nome ao parque.
Desde 2020, a equipe do Jardim Botânico da FPMZB realiza levantamentos sistemáticos da flora local. Até o momento, foram identificadas cerca de 350 espécies. Em nota, a equipe da fundação informa que a diversidade biológica da unidade de conservação ainda requer muitos estudos que a caracterizem, pois se trata de um dos principais remanescentes da região que, junto com a Mata da Baleia, Jambreiro e outras áreas de matas úmidas e de altitude que compõem a APA Sul, forma um importante corredor ecológico da Região Sul de BH e entorno.
Programação
Relação das atividades gratuitas para comemorar os 40 anos do Parque das Mangabeiras
- Sexta-feira (13) e sábado (14) – Exposição “Parque das Mangabeiras 40 anos – História, lazer e preservação ambiental”, na Praça das Águas (próximo à lanchonete), das 9h às 16h
- Sábado (14) – Rua de Lazer da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (pula-pula, cama elástica, pintura facial e outros brinquedos), das 10h às 14h
- Sábado (14) e domingo (15) – Feira de Economia Solidária, promovida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, das 8h30 às 16h30
- » O Parque Municipal das Mangabeiras fica aberto de terça a domingo, das 8h às 17h (com entrada até as 16h). O endereço é Avenida José do Patrocínio Pontes, 580, Bairro Mangabeiras, Região Centro-Sul de BH
- Para acesso ao parque é necessária a vacinação contra a febre amarela. Caso o visitante não esteja com o comprovante, deverá preencher uma declaração, disponibilizada no local, de que já se encontra imunizado (vacinado há pelo menos 10 dias). Menores de nove meses, por não poderem ser imunizados contra a doença, não podem acessar o parque.
Todos os Sentidos
Veja algumas razões para conhecer o Parque das Mangabeiras
» Contemplar as carpas, na Praça das Águas...
» ...e também as plantas aquáticas, a exemplo da ninfeia, com flores brancas, vermelhas e lilás.
» Ver o conjunto de nove árvores de pau-brasil, perto da administração
» Conhecer árvores da mata atlântica, a exemplo do pau-ferro...
» ...e a florida pata-de-vaca colorindo a paisagem
» Para esportes radicais, tem a pista de skate, que também pode ser usada para as modalidades de patins e bicicross (BMX).