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Estado de Minas INFRAESTRUTURA

Abastecimento de água sob risco na Grande BH

EM percorreu rede de dutos dos sistemas da Copasa e mostra que 2,1 quilômetros dessas tubulações estão expostas hoje


15/05/2022 04:00 - atualizado 15/05/2022 08:30

Imagem aérea mostra adutoras expostas cruzando área de mineração em Brumadinho, onde estruturas ficam também em áreas residenciais
(foto: Mateus Parreiras/EM/D.A Press)

 

O pesadelo de rodízio e mesmo desabastecimento de água que trouxe transtornos por 20 dias à população da Grande BH não está afastado e há condições de que se repita. Assim como em 1º de março, quando uma adutora de 202 metros do Sistema Serra Azul se rompeu sobre o Rio Paraopeba, entre Betim e Juatuba, na Grande BH, devido a vândalos que a incendiaram por ser uma tubulação exposta, vários segmentos de adutoras se encontram vulneráveis desde sua captação até a passagem pelo mesmo rio.

A reportagem do Estado de Minas mostra que pelo menos 2,1 quilômetros desses dutos vindos dos dois maiores produtores de água do Sistema Paraopeba se encontram a céu aberto, podendo também sofrer danos e até interromper seu fornecimento. A própria Copasa se manifesta preocupada com o que classifica de aumento dos atos de vandalismo contra sua rede.

 

O rompimento da adutora entre Betim e Juatuba, sobre o Rio Paraopeba, deixou cerca de 1 milhão de pessoas sem água ou sob regime de rodízio em 60 bairros da Grande BH. A reportagem do EM percorreu 15. 134 metros das adutoras de Rio Manso e Serra Azul, antes de passarem sobre o mesmo manancial (veja infografia) e constatou que 2.151,5 metros estavam expostos a queimadas, vandalismo e acidentes, totalizando 14,21% da extensão total.

 

As captações são responsáveis por 88% do volume distribuível do Sistema Paraopeba, que é de onde saem 47,3% da água que chega às torneiras da Grande BH pelos grandes sistemas. Rio Manso é o maior do Sistema Paraopeba, com tratamento e distribuição de 4.215 litros por segundo (l/s), seguido por Serra Azul, com 2.700l/s e Várzea das Flores, com 950l/s. O Rio das Velhas é o maior, com capacidade de 8.771l/s, 52,7% do fornecimento dos grandes sistemas para a Região Metropolitana de Belo Horizonte.

 

Em outros pontos, a vegetação cerca os canos a céu aberto, que ficam sob risco constante de incêndio e ação de vândalos na região
(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

 

Os dutos que mais se encontram aflorados até o Rio Paraopeba são os de Rio Manso, entre Brumadinho e São Joaquim de Bicas. A reportagem constatou que há 1.486 metros de tubulação exposta (14,66%) de 10.134 metros de segmentos. Os dutos passam em áreas próprias, com aceiros (área vegetada capinada para evitar incêndios), mas que perpassam trilhas e estradas rurais acessíveis a qualquer pessoa.

 

As tubulações de água cruzam também mineradoras no Bairro Conceição do Itaguá, em Brumadinho, em áreas de transporte de minério de ferro em caminhões, escavadeiras, trens e outros equipamentos pesados, também passíveis de causar acidentes – não há registros de um incidente assim. Um dos mais extensos segmentos de tubulação dupla passa no meio da atividade minerária, expondo 160 metros de dutos metálicos sobre estradas utilizadas pelo maquinário e por operários.

 

Essas mesmas adutoras passam por áreas habitadas e até invasões de terrenos nos bairros Fecho do Funil e Nossa Senhora da Paz, em São Joaquim de Bicas, de onde saem da terra e ficam expostas, muitas vezes lado a lado com trilhas e estradas vicinais. Um desses segmentos, de 38 metros, se encontra sobre um pequeno córrego que tem erodido o terreno que sustenta a estrutura tubular, ficando a cerca de 55 metros do primeiro barraco de uma das habitações, enquanto que o segmento que sai do chão e atravessa o Rio Paraopeba, se expondo por 176 metros, fica a 25 metros das casas e terrenos baldios.

Mato alto

A situação não é diferente com as adutoras de Serra Azul, entre Juatuba e Betim, justamente a rede que foi rompida em março, trazendo tanto prejuízo e dor de cabeça. São 665,5 metros de tubulação exposta (13,31%) dos 5 quilômetros até o Rio Paraopeba, local da ruptura. As principais reclamações dos vizinhos dessas estruturas é que a falta de capina, que antes era realizada pela Copasa, causa invasões e risco de incêndio.

 

A menos de 300 metros do acesso à Estação de Tratamento de Serra Azul da Copasa, a adutora já pode ser vista com cerca de 17,5 metros atravessando um pequeno vale nos fundos de vários quintais de casas e propriedades rurais do Bairro Castelo Branco. Ali o mato cresce alto e quando está seco, traz o perigo de incêndios que podem danificar e até romper essa canalização. “A Copasa deveria fechar essas adutoras. Qualquer um consegue chegar nelas e todo ano tem fogo no matagal, porque pararam de fazer a capina. Antes, faziam aceiros e a empreiteira trazia umas 10 pessoas para roçar o mato. Foi muito duro esse tempo que a adutora rompeu e deixou as famílias sem água. Idosos, mães com crianças, foi muito sofrido”, afirma um dos vizinhos do segmento exposto, o vigilante aposentado Geraldo Gustavo da Silva, de 55 anos.

 

Mais adiante, no mesmo bairro, outra parte da tubulação, com 23 metros de comprimento, atravessa um vale sobre um pequeno córrego em meio a lotes abertos com mato alto, entulho e marcas de incineração de lixo. O aposentado Francisco Solano, de 69, diz já ter cansado de pedir para a companhia fazer a capina. Além do perigo de ruptura da tubulação, reclama da criminalidade. “Tem mais de um ano que não roçam o lote da tubulação. Aí vem cobra, rato e barata para a minha casa, porque fica parecendo um lugar abandonado e as pessoas jogam montes de lixo e entulho, vêm aqui fugir da polícia e usar drogas. Toda vez põem fogo, uma hora a tubulação vai rachar e partir. Sem falar que tem gente que fica tentando arrancar os tubos e fios para vender e comprar mais drogas”, disse.

 

Captação vulnerável
 

Copasa preocupada com vandalismo

A Copasa informou que atos de vandalismo trazem grande preocupação e que culminam em danos graves como o rompimento da adutora, já confirmado por laudo de perícia. “A infraestrutura dos sistemas de abastecimento operados pela Copasa está localizada em áreas próprias e/ou faixas de servidão que são constantemente monitoradas pela companhia. No entanto, vem ocorrendo um crescimento das ações de vandalismo, principalmente nas unidades localizadas em regiões ermas e que contenham equipamentos e materiais com valor comercial”, informou a empresa.

 

“A Copasa ressalta que, dentro da rotina diária de serviços operacionais, realiza o monitoramento dos sistemas de abastecimento existentes para identificação de demandas de melhoria e a necessidade de manutenções preventivas e corretivas, sendo estas devidamente tratadas para a garantia da continuidade da prestação de serviço à comunidade”, informa.

 

Ainda segundo a Copasa, “a empresa esclarece ainda que o desenvolvimento dos projetos para construção de uma adutora definitiva está em andamento. Ela terá a mesma capacidade de adução, recuperando por completo a capacidade de transporte de água tratada do Sistema Serra Azul”.

 

A Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (Arsae-MG) informa que realizou fiscalização operacional no Sistema de Abastecimento de Água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e constatou que a prestadora (Copasa) encontrou dificuldades para cumprir os cronogramas previstos no plano, especialmente nos primeiros dias do rodízio.

 

“No entanto, o prestador conseguiu apresentar melhorias no fornecimento de água no decorrer do período do rodízio, mantendo as redes abastecidas em alguns pontos, mesmo nos dias previstos para a interrupção no abastecimento. Conforme documentação apresentada, foi disponibilizado o serviço de abastecimento alternativo por meio de caminhões-pipa para serviços de caráter essencial. Ressalta-se que o processo de fiscalização ainda está em andamento”. (MP) 


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