“É preciso acreditar nas crianças”. A frase é da adolescente Ana Beatriz Ferreira, de 16 anos. Ela e centenas de estudantes participaram, nesta quarta-feira (18/5), da 15ª edição da caminhada “Todos contra a Pedofilia”, em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas.
O movimento que marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescente vem para difundir o assunto e ajudar na compreensão do tema. Objetivo que, segundo a professora da rede pública Ana Costa Silva, tem sido alcançado.
Para ela, ampliar o debate também possibilita dar “voz” às vítimas, além de ajudar a credibilizá-las. “Às vezes, há crianças e adolescentes, como lidamos na escola todos os dias, com casos de assédio na família, em casa, e se sentem repreendidos em falar alguma coisa, se sentem ameaçados, sentem receios de não serem credibilizados, de não acreditarem neles”.
A proposta do movimento é sensibilizar a sociedade levando informações que ajudem na prevenção e identificação de casos. “O principal resultado é a conscientização das pessoas e a facilidade de falar do tema hoje em dia, que não tínhamos no passado. Isso reflete mais nas denúncias, porque as pessoas ficam mais seguras para fazê-las”, afirma o promotor da Vara da Infância e Juventude, Carlos Fortes, conhecido como Casé, realizador da campanha.
Além de atrair estudantes, as entidades também abraçam a causa para ajudar a ampliar o alcance da campanha. “Quando a sociedade se une aos órgãos para dizer ‘basta’ é importante, pois demonstra o repúdio à violência e às condições a que muitas crianças são submetidas dentro das próprias casas. Isso é um alerta e um pedido de socorro delas, e nós temos obrigação de defende-las”, destaca a presidente da 48ª Subseção da Ordem do Advogados do Brasil, Ellen Lima.
Violência em dados
Dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (ONDH/MMFDH) divulgados nesta quarta-feira (18/5) mostram que 18,6% das denúncias de violações de direitos humanos contra crianças e adolescentes em 2021 estão ligados a situações de violência sexual.
Foram 18.681 casos entre janeiro e dezembro do ano passado. Em 2022, já foram registradas 4.486 denúncias.
Os cenários da violação que aparecem com maior frequência nas denúncias são a residência da vítima e do suspeito (8.494), a casa da vítima (3.330) e a casa do suspeito (3.098).
O padrasto e a madrasta (2.617), o pai (2.443) e a mãe (2.044) estão entre os maiores suspeitos. Em quase 60% dos registros, a vítima tinha entre 10 e 17 anos. Em cerca de 74%, a violação é contra meninas.
*Amanda Quintiliano especial para o EM