O primeiro dia de júri de Antério Mânica, acusado de ser um dos mandantes da Chacina de Unaí, em 2004, é marcado por protestos na porta do Tribunal do Júri da Justiça Federal, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, nesta terça-feira (24/5). O julgamento está previsto para começar às 8h30. A segurança no local foi reforçada.
Com flores e uma apresentação musical em memória aos quatro colegas mortos em uma emboscada, cerca de 50 auditores se manifestam no local pedindo justiça. Em 2015, o réu foi condenado a 100 anos de prisão, mas a sentença foi anulada em 2018. De acordo com a defesa de Antério, o Ministério Público Federal (MPF) não conseguiu provar a participação dele, que é ex-prefeito de Unaí. Além disso, os advogados sustentaram ter havido erros na condução do julgamento.
Porém, entre os auditores fiscais a expectativa é de que o júri chegue à mesma conclusão de sete anos atrás. "O caso vem se arrastando ao longo desses anos em razão da condição econômica do réu. Há uma ampla gama de provas. Nossa expectativa é positiva, acreditamos que o júri irá chegar ao mesmo resultado de 2015", disse o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Bob Machado. "De lá para cá tem sido uma busca incessante por justiça", complementa.
Os servidores acreditam que os advogados do réu vão tentar várias manobras para evitar uma nova condenação de Mânica, mas afirmam que mantêm expectativa positiva. "Nosso desejo é que isso se encerre de uma vez por todas. Não podemos ficar esperando mais. Essa é uma dor de todo servidor público", disse Edesia Barros, auditora fiscal.
Os auditores dizem ainda que, depois da chacina, eles cada vez mais sentem medo de sair para cumprir o trabalho de fiscalização. Uma condenação de Antério Mânica é, para eles, uma reversão da sensação de impunidade. "É uma insegurança para nós. Eles estavam representando o Estado. Muitos empresários vêem os auditores como um impecilho para o crescimento econômico. O que nós queremos é garantir emprego com dignidade", comenta a auditora fiscal.
Para acompanhar o julgamento, vieram para BH auditores de vários estados, como Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. "Nós carregamos conosco o peso dessa dor e desse medo de exercer o nosso trabalho. Esses servidores foram brutalmente assassinados, porque não se dobraram. Precisamos mostrar que a lei vale para todos", afirma Bob Machado.
A Chacina de Unaí
Em 28 de janeiro de 2004, Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva foram assassinados a tiros em uma emboscada quando investigavam condições análogas à escravidão na zona rural de Unaí, incluindo as propriedades da família Mânica. O motorista Ailton Pereira de Oliveira, que acompanhava o grupo, também foi morto.
Além de Antério Mânica, o irmão dele, Norberto, foi condenado como outro mandante da chacina. Ele, porém, está em liberdade. Outros condenados pelos crimes foram Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro, Erinaldo de Vasconcelos Silva, Rogério Alan Rocha Rios e Willian Gomes de Miranda, que cumprem pena na prisão.