Com a queda nas temperaturas em Minas Gerais e o inverno se aproximando, período no qual o risco de doenças respiratórias aumenta, a baixa cobertura vacinal contra a COVID-19 entre crianças tem preocupado os especialistas. Até o momento, no estado, apenas 35% do público alvo infantil está imunizado com as duas doses da vacina.
Em Belo Horizonte, o cenário é um pouco melhor: 52% das crianças já tomaram as duas doses de proteção contra o coronavírus, mas a cobertura vacinal ainda é de estado de alerta.
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Minas registra maior pico de casos de COVID dos últimos dois mesesCampanha de Vacinação da Gripe em BH: cobertura está longe do recomendado COVID: SES-MG alerta para a baixa cobertura vacinal de crianças e idosos Atendimento pediátrico de urgência é mantido pela PBH neste fim de semanaAtendimento pediátrico será ampliado no fim de semana em Belo HorizonteCasos de COVID-19 aumentam em Minas, mas mortes estão estáveisMinas vai adotar estratégias para ampliar vacinação infantilNa capital mineira, 80% do público infantil está vacinado com a primeira dose. De acordo com a Secretaria Municipal de Belo Horizonte, o público de 5 a 11 anos em BH é de 193.192 crianças.
A macrorregião de saúde Vale do Aço é a que tem a menor cobertura vacinal pediátrica. A primeira dose foi aplicada em 52,91% das crianças, e somente 25,24% receberam a segunda dose, segundo as informações do Grupo de Análise e Monitoramento da Vacinação em Minas Gerais (Gamov).
Já o Vale do Jequitinhonha é a macrorregião que apresenta o melhor indicador com 84,16% e 41,42% para primeira e segunda dose, respectivamente.
Essa baixa adesão à vacina preocupa os especialistas. O secretário de Saúde do estado, o médico Fábio Baccheretti, pede para aqueles que ainda não vacinaram ou tomaram a segunda dose, dose de reforço, que "vá até o posto de saúde e garanta a sua proteção".
Infectologista alerta para a baixa adesão
O infectologista Estêvão Urbano, membro do extinto Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da Prefeitura de Belo Horizonte, explica que, para as viroses que não têm vacina, as formas de prevenção se baseiam em evitar aglomerações, evitar locais fechados, entre outras medidas preventivas, mas, no caso da COVID-19, o certo, além de se prevenir, é fundamental se vacinar.
"Algumas doenças, como por exemplo a gripe, COVID, que são viroses respiratórias, têm vacinas efetivas, de baixíssimo efeito colateral. Essas doenças podem ser graves, não só para as crianças. As pessoas podem transmitir para idosos, imunossuprimidos. Quando elas se previnem, ajudam a si mesmas e a coletividade", pontua o especialista.
Estêvão ressalta a importância de se vacinar para reduzir as incidências das infecções, principalmente agora que o inverno está chegando e a máscara não é mais um Equipamento de Proteção Individual (EPI) obrigatório.
O infectologista acredita que os cidadãos entraram em uma zona de conforto com a queda de casos e, com isso, a população está tendo uma baixa adesão à imunização. Estêvão também cita as fake news sobre a vacinação como um fator que enfatiza isso.
"Com o uso de máscara por muito tempo, diminuíram os números de infecção, o pessoal acha que não existe mais infecção respiratória. Uma outra parcela não vacina por conta das fake news, o medo de vacinar. As fake news são terríveis porque elas prejudicam imensamente a coletividade", pontua.
O especialista afirma que, neste momento, em que os casos estão aumentando, o primeiro passo para se proteger é se vacinar. Em seguida, evitar os locais fechados e, quando frequentar, utilizar máscara como forma de proteção.
Prevenção
No Hospital Infantil João Paulo II, na Região Central de Belo Horizonte, o casal Gustavo Lino, de 24 anos, e Ketrelly Francisca, de 22, levava o filho, Derick, de 6 meses, com alguns sintomas de doença respiratória para consultar. “Estava gripado e vomitando em casa. Como estava com o nariz entupidinho e chiando um pouco, aí eu vim aqui dar entrada no hospital”, disse a mãe.
O casal tomou as três doses da vacina contra a COVID-19 e ressaltou que se o filho estivesse dentro do público-alvo de vacinação, o imunizaria. Gustavo afirmou que a vacina é essencial para se proteger contra o vírus. “Ajuda demais. Melhorou bastante né!? Ao menos agora já tirou o uso da máscara”, destaca.
Mesmo com a liberação, o casal usava máscara no hospital devido ao ambiente ser favorável a infecção de outras doenças respiratórias. “Bem melhor se prevenir né!?”, pontua.
Aumento das doenças respiratórias
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de BH, entre janeiro e maio deste ano foram notificados 1.358 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças de até 12 anos que necessitaram de internação.
A SRAG abrange casos de síndrome gripal (SG), no qual o paciente apresenta febre, tosse seca, dor de cabeça, dores musculares e dificuldade para respirar, entre outros, que evoluem com comprometimento da função respiratória que, na maioria dos casos, leva à hospitalização.
Diversas doenças respiratórias podem evoluir para um quadro de síndrome aguda grave, como pneumonia, asma, e a própria COVID-19. Com o período de queda nas temperaturas, pais devem ficar atentos aos sintomas.
Imunização
A Secretaria Municipal de Saúde de BH informou que mantém a vacinação contra a COVID-19 em centros de saúde, postos extras e em pontos de drive thru, inclusive no horário noturno. Além disso, ressalta que estão sendo feitas ações de vacinação nos fins de semana.
A reportagem também procurou a SES-MG para questionar se alguma ação será realizada nos próximos dias, com o intuito de alcançar mais pessoas na faixa etária infantil, mas até a publicação desta matéria não obteve resposta.