Após o interrogatório de Antério Mânica, na noite desta quinta-feira (26/5), o julgamento foi suspenso pela juíza federal Raquel Vasconcelos Alves de Lima. Ele deve ser retomado na manhã desta sexta-feira (27/5), com os debates entre acusação e defesa, a votação dos jurados e a sentença condenando ou absolvendo o réu das mortes dos três fiscais e do motorista do Ministério do Trabalho.
O assistente de acusação, Roberto Tardelli, comentou o fato de Antério ter se recusado a responder os questionamentos da promotoria e acusação no interrogatório.
Leia Mais
Chacina de Unaí: Antério Mânica nega ser mandante dos crimes Chacina de Unaí: auditores realizam homenagem de aniversário para vítimaChacina de Unaí: ex-delegado descarta Antério como mandante do crimeChacina de Unaí: clima esquenta no último dia do julgamentoChacina de Unaí: júri decide destino de Antério Mânica nesta sexta-feiraPolícia prende pai e filho por suspeita de tráfico de drogas em BetimHomens colocam fogo em ônibus no Bairro Jaqueline em BH"É o momento em que ele conta sua versão. Ele tem uma série de direitos constitucionais que devem ser assegurados e respeitados, dentre os quais o direito ao silêncio e de responder às perguntas que entender convenientes. O interrogatório, para nós do Direito, não é um momento em que ele vai contar os fatos, é uma peça de defesa."
"Ele se valeu do direito ao silêncio, respondeu apenas às perguntas da juíza, dos jurados e da defesa. Amanhã começam os debates e se encerra o julgamento dessa história de 18 anos. Vamos ver o segundo julgamento e pela lei agora não há mais questão de anulamento por questões de prova. Não vi nenhuma questão para ser invocada nulidade. Amanhã se encerra essa história."
Em relação aos debates, Tardelli disse que o tempo da acusação será dividido entre os procuradores da República e os assistentes de acusação. "Esperamos um debate de alto nível amanhã".
Provas mostram inocência do réu
O advogado de defesa de Antério Mânica, Marcelo Leonardo, afirma que as provas exibidas na tarde de hoje mostram que seu cliente é inocente.
"A exibição dos vídeos que foi feita por parte da defesa serviu para deixar claro que quem participou da chacina como mandante foi Norberto Mânica. Antério é apenas irmão dele, não teve nenhuma participação nos lamentáveis atos praticados pelo irmão. Nenhum de nós, nem o próprio Antério aprova o que aconteceu, pelo contrário. Repudia e considera um absurdo."
Leonardo diz, porém, que é um absurdo também querer condenar quem é inocente. "É a situação do Antério Mânica."
O advogado explica ainda a opção do réu em não responder às perguntas da acusação durante o interrogatório.
"Tínhamos certeza absoluta que ele iria explicar tudo o que era necessário ao responder as perguntas da juíza. Ela fez todas as perguntas importantes sobre os supostos indícios da participação dele. Nós entendíamos que o Ministério Público não ia fazer nada para esclarecer e criar para ele constrangimentos que ele não era obrigado a se submeter. Há 18 anos, ele sofre essa injusta acusação."
Leonardo destaca que vai usar nos debates a mesma fundamentação dos desembargadores que anularam a primeira sentença de Mânica. "Eles entenderam que a condenação de Antério era manifestamente contrária à prova dos autos, por não existir um único elemento concreto de convicção que permitisse ligá-lo a este fato."
A previsão é que o julgamento seja retomado às 9h desta sexta-feira (27/5), na sede da Justiça Federal em Belo Horizonte, onde acontece o Tribunal do Júri do caso.
A Chacina de Unaí
Em 28 de janeiro de 2004, Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva foram assassinados a tiros em uma emboscada quando investigavam condições análogas à escravidão na zona rural de Unaí, incluindo as propriedades da família Mânica. O motorista Ailton Pereira de Oliveira, que acompanhava o grupo, também foi morto.
Além de Antério Mânica, o irmão dele, Norberto, foi condenado como outro mandante da chacina. Ele, porém, está em liberdade. Outros condenados pelos crimes foram Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro, Erinaldo de Vasconcelos Silva, Rogério Alan Rocha Rios e Willian Gomes de Miranda, que cumprem pena na prisão.