Os debates entre acusação e defesa esquentaram o clima no Tribunal do Júri da Justiça Federal, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, no último dia de julgamento do fazendeiro Antério Mânica. O conselho de sentença, formado por sete pessoas, se reúne nesta tarde para decidir o destino do réu, acusado de ser um dos mandantes da Chacina de Unaí.
Na manhã de hoje, as procuradoras da República Mirian Moreira Lima, Aldirla Pereira de Alburquerque, Juliana de Azevedo Santa Rosa Câmara, Henrique Martins de Menezes, e os assistentes de acusação Roberto Tardelli e Aline de Carvalho Giacomoni, apresentaram aos jurados fotos das vítimas e registros de ligações telefônicas, que constam nos autos do processo, para pedir a Antério Mânica.
A procuradora da República Gustavo Torres destacou a frieza dos réus ao mandarem matar fiscais que apenas estavam fazendo seu trabalho. “As mortes de Eratóstenes, João e Ailton foram vistas como mero efeito colateral diante da impossibilidade de chegar até Nelson, visto que o mandante ainda dobrou a recompensa”, afirmou. Ela destacou, ainda, que a estrutura desse tipo de crime é blindada para encobrir os mandantes.
O procurador da República Henrique Martins de Menezes avalia que Antério seria o mais interessado na morte dos fiscais. Ele sustenta que um veículo igual ao da mulher do réu foi visto no local onde estavam os executores dos assassinatos e os intermediários do crime. “Não há mais como negar a presença desse Marea”, destaca. O assistente de acusação Roberto Tardelli apresentou registros de ligações telefônicas envolvendo o réu. “Antério é o topo da pirâmide. Estamos falando daquele que está atrás da cortina”, disse.
A defesa do fazendeiro, representada pelo advogado Marcelo Leonardo, destrinchou as provas apresentadas pelo Ministério Público (MP) na tentativa de desqualificar a principal prova da acusação: a presença de Antério Mânica na reunião que culminou na sentença de morte dos fiscais, em 2004. “Ele caiu de paraquedas no local. Depois de morto Chico Pinheiro foi invocado para colocar o Antério na cena. Isso só aconteceu quando os executores fecharam acordo com o MP para reduzir suas penas”, afirmou.
Ele ainda atribuiu a demora do processo ao Ministério Público. “Eles não quiseram que ele fosse julgado antes dos pistoleiros. Quem é responsável pela impunidade não é a defesa, é o MP que deixou os verdadeiros autores desse crime dormirem em casa”, disse. O advogado também destaca que não há registro de ameaça de Antério ao fiscal do trabalho. “Nelson nunca disse que Antério o ameaçou”, pontuou.
O advogado de defesa questiona o fato de os promotores terem descartado o depoimento do ex-delegado Antônio Celso Santos, que não ratificou o envolvimento de Antério como mandante do crime. “O trabalho dele só serve para condenar outros. Todo trabalho foi usado e aplaudido pelo MP na condenação dos executores e intermediários do crime. Agora o trabalho dele não serve mais”, destaca.