Manchas verdes foram registradas novamente na manhã desta quinta-feira (2/6) na superfície da Lagoa da Pampulha. Elas denunciam o grau de poluição da água, causada pela concentração de esgoto no manancial. Obras estão em curso pela Prefeitura de Belo Horizonte, mas as causas da poluição ainda não foram atacadas.
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Fotógrafo resgata na Lagoa da Pampulha pássaro preso em poluiçãoChuva aumenta poluição na Lagoa da Pampulha neste início de anoPromessas de revitalização da Lagoa da Pampulha seguem sem ser cumpridas'Estamos cumprindo nossa missão ao aprovar o plano' diz prefeito de BH BH, Contagem e Copasa assinam acordo para despoluição da PampulhaAnimais resistem aos golpes da poluição e dão show na PampulhaA cor esverdeada da água, como no registro, é causada pelo processo de eutrofização, ou seja, quando há acúmulo de matéria orgânica proveniente do esgoto. A quantidade de oxigênio dissolvido na água diminui, causando a morte de seres vivos e a proliferação de cianobactérias na superfície.
Segundo Felipe Gomes, engenheiro e ambientalista, existem quatro classificações de qualidade da água. Atualmente, a Lagoa da Pampulha está no nível 3 de classificação do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que vai de 1 (mais limpa) a 4 (mais contaminada). Com isso, é vedado o acesso à água pela população e seu uso para abastecimento da cidade.
A importância da Lagoa para Belo Horizonte é enorme, ressalta Felipe. Ela foi a primeira fonte de água e é até hoje o maior reservatório hídrico da região. Em 2016, foi tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade, como parte do Conjunto Arquitetônico da Pampulha.
Felipe destacou que se a Lagoa da Pampulha estivesse no nível 2, ou 1, do Conama, ela seria um meio de acesso à água para a população da região metropolitana, e não só para abastecimento. “Seria como uma praia de Belo Horizonte, acessível a todos”, afirmou o ambientalista, destacando o aumento da qualidade de vida que isso traria.
Fontes de poluição
Os dois principais afluentes da lagoa são os córregos Ressaca e Sarandi. Ambos, segundo o ambientalista, são as principais fontes de contaminação. “É uma contaminação difusa, onde não há uma grande fonte de poluição, mas várias”, afirmou.
A poluição vem principalmente de casas e estabelecimentos nas margens dos afluentes e da própria Lagoa, disse Felipe. A maioria delas não tem captação e tratamento de esgoto, e os rejeitos são jogados diretamente nos rios, acrescentou.
Ainda segundo o ambientalista, 70% da água que chega à Lagoa da Pampulha vem de Contagem, e 30% de Belo Horizonte.
A Estação de Tratamento de Águas Fluviais dos Córregos Ressaca e Sarandi faz o tratamento de toda a água que chega desses dois afluentes. O mais comum, disse o ambientalista, seria a criação de uma captação do esgoto das casas e seu tratamento antes que ele fosse jogado na água. Mas é tão grande a difusão dos agentes contaminadores que todo o rio é tratado como um grande esgoto.
Tratamento
A Prefeitura de Belo Horizonte informou que existem três ações sendo realizadas na Lagoa da Pampulha. O tratamento da água, o desassoreamento e a limpeza do espelho d’água.
O tratamento é feito pelo Consórcio Viva Pampulha, e está baseado no uso de dois componentes. Um deles é o biorremediador, destinado à desinfecção e degradação de matéria orgânica. O outro é um remediador físico-químico, desenvolvido especificamente para reduzir as concentrações de fósforo em ambientes aquáticos.
Já o desassoreamento é a limpeza do fundo da lagoa. Entre 2018 e 2021 foram realizadas obras que retiraram 520 mil metros cúbicos (170 mil metros cúbicos/ano) de sedimentos e resíduos do fundo do manancial.
A limpeza do espelho d’água é uma ação diária. Segundo a PBH, o volume de lixo flutuante recolhido diariamente corresponde, em média, a 5 (cinco) toneladas durante o período de estiagem e a 10 (dez) toneladas no período chuvoso.
Enxugando gelo
Essas ações, porém, podem ser consideradas apenas como paliativos, na medida em que não atacam a entrada de rejeitos na Lagoa, oriundos do esgoto sem tratamento.
Felipe Gomes lamenta que uma das principais críticas à prefeitura é a de que as ações desenvolvidas atualmente seriam “enxugar gelo”, porque não combatem as fontes de poluição.
O ambientalista, no entanto, destaca a importância das iniciativas em curso. “Houve uma melhora nos últimos 5 anos”, constatou, apesar de reconhecer que a qualidade da água ainda é muito baixa.