Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Nova escalada da COVID-19 desafia BH

Passado pouco mais de um mês desde a liberação do uso de máscaras em Belo Horizonte, a capital registrou, na última semana de maio, um aumento de 290% nos casos confirmados de COVID-19 em relação aos sete dias anteriores. Foram mais de 3.400 novas infecções em apenas sete dias, numa escalada que colocou em alerta especialistas e autoridades de saúde do município.




 
Ontem, a prefeitura sugeriu que as máscaras voltem a ser usadas em ambientes fechados em salas de aula das escolas públicas e particulares, cinemas, teatros, elevadores e escritórios e anunciou ainda a abertura de mais um centro de testagem (leia texto abaixo). Por sua vez, infectologistas chamam a atenção para a necessidade de reforçar a vacinação, especialmente entre crianças. Alguns defendem que as máscaras voltem a ser obrigatórias até a passagem do inverno, embora não haja consenso quanto ao tema.

- Leia: 4ª onda de COVID-19: como se proteger do aumento de casos no Brasil

Após início de ano marcado por uma explosão de casos de COVID-19 impulsionados pela variante Ômicron, os números foram diminuindo progressivamente, mas a última semana de maio acende um sinal de alerta. Uma comparação entre os boletins epidemiológicos divulgados no fim de cada mês pela prefeitura mostra que o número de novos casos foi diminuindo consideravelmente. De fevereiro para março, foram mais de 34 mil; de março para abril, cerca de 13 mil; e de abril para maio, pouco mais de 6 mil. No caso de maio, no entanto, a maior parte desses registros foi feita na última semana do mês recém-terminado. Entre os dias17 e 24, a capital computou 888 novos casos. Já entre os dias 24 e 31, esse número foi de 3.478 novos resultados positivos para coronavírus.

Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas concordam na avaliação de que este era um resultado esperado após as decisões de relaxamento na contenção da pandemia. No entanto, há opiniões diferentes sobre a necessidade de voltar atrás em algumas medidas, como o uso obrigatório de máscaras. Para o infectologista Estêvão Urbano, que integrou o extinto Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da prefeitura, o aumento dos casos ainda pode ser maior, já que os números não contemplam os testes feitos em casa. Para o médico, o ideal seria retomar o uso de máscaras. “Este número está aumentando, sem falar nos autotestes, que não são notificados. Na minha opinião, tem que voltar a máscara em locais fechados. Para mim, seria obrigatório, até essa piora passar. Isso vale para todas as capitais”, disse Urbano.



O infectologista Unaí Tupinambás tem a mesma opinião de seu ex-colega de comitê. Para o médico e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), seria interessante que a medida de desobrigação das máscaras esperasse a passagem do inverno. “Seria interessante manter ao menos em locais fechados. A variante 2 da Ômicron é ainda mais infectante e consegue escapar da vacinação e de infecções recentes. No inverno, as pessoas ficam aglomeradas em locais fechados e com pouca ventilação, além disso, nossa mucosa fica mais ressecada e facilita a transmissão”, avalia.

Pacientes aguardam exames de COVID-19 no novo centro da prefeitura , aberto ontem na UNA (foto: Edésio Ferreira/EM/d.a press)


Belo Horizonte é uma das 19 capitais do Brasil com crescimento de casos na tendência de longo prazo de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). O dado foi divulgado na última atualização do boletim Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

TERMÔMETRO DOS HOSPITAIS

Para o epidemiologista José Geraldo Leite Ribeiro, o retorno da obrigatoriedade das máscaras ainda não é necessário. Ele avalia que o aumento de casos não tem sido acompanhado por desenvolvimento de quadros graves da doença e uma sobrecarga nos hospitais, portanto, ainda seria cedo para voltar atrás na flexibilização. Mas se isso acontecer, na opinião dele, o acessório tem que se tornar obrigatório em todos os espaços. Para ele, recomendações de uso facultativo, seriam insuficientes no caso de haver presão hospitalar.



“Se for detectado um aumento na ocupação de hospitais, a recomendação não resolve muito, precisa se tornar obrigatória novamente. Do ponto de vista de saúde coletiva, não acredito muito nessa diferenciação entre espaços abertos e fechados. A pessoa anda por aí sem máscara e depois a coloca quando entra em local fechado, tem que ser obrigatório em todos os ambientes. As medidas de afastamento social e de uso de máscaras são medidas de urgência que dão muito certo e salvaram muitas vidas, mas não conseguem se manter eternamente em uma população. Ela deve ser reservada para momentos em que se detecta risco de saturação do sistema de saúde”, avalia.

VACINAÇÃO “A baixa vacinação entre crianças é mais um fator que pode explicar esse aumento de casos. Acho que a campanha não pode parar, tem sempre que estar ativa. A vacinação protege mais contra a manifestação grave da doença do que contra o próprio adoecimento, mas ela também ajuda a diminuir a transmissão, é um ganho extra”, analisa o infectologista Estêvão Urbano. O grupo de crianças entre 5 e 11 anos é o mais defasado em relação à cobertura vacinal em BH. Apenas cerca de 55% dos moradores da capital nesta faixa etária receberam a segunda dose da proteção contra a COVID-19.

Em maio, o aumento de casos em jovens levou a medidas como o retorno de aulas virtuais em instituições tradicionais de BH, como os colégios Sagrado Coração de Jesus e Santo Agostinho. Além disso, Nova Lima e Betim, na Região Metropolitana, já decretaram o retorno da obrigatoriedade de máscaras nas salas de aula. Os especialistas ouvidos nesta matéria também alertaram para a importância da atualização vacinal de outros públicos. Menos de 80% dos adultos tomaram a terceira dose da proteção contra o coronavírus e pouco mais de 30% dos idosos receberam a quarta aplicação do imunizante em Belo Horizonte.




COMITÊ POPULAR

Desde fevereiro, o número de mortes em decorrência da COVID-19 tem caído quase pela metade mês a mês. Embora o cenário aponte para um quadro estabilizado, como descreveu o médico José Geraldo Ribeiro, é difícil ter uma ideia apurada sobre a situação dos hospitais de BH. Isso porque, desde abril, a prefeitura não divulga mais a ocupação de leitos por pacientes com a doença nos boletins epidemiológicos. Essa é uma das críticas feitas à administração municipal por entidades e profissionais da área da saúde que anunciam hoje (3/6) a formação do Comitê Popular de Enfrentamento à COVID-19. O grupo será apresentado em entrevista coletiva marcada para às 15h na Casa de Jornalista, Região Centro-Sul de BH. Os infectologistas Carlos Starling, Estêvão Urbano e Unaí Tupinambás, que formavam o Comitê de Enfrentamento à COVID da Prefeitura de BH ao lado do então secretário de Saúde, Jackson Machado, estarão presentes e integrarão a iniciativa. O grupo pretende alertar para a permanência do risco representado pelo coronavírus e quer a retomada do boletim epidemiológico do município com mais informações.

O comitê da PBH foi dissolvido em março, após o fim do estado de calamidade pública na cidade. Concomitantemente à saída dos médicos da equipe que gerenciavam as ações para controle da pandemia na capital, o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde também passou por mudanças. Depois de cerca de dois anos com edições diárias de segunda a sexta-feira, o documento passou a ter duas edições semanais e informações reduzidas a partir de abril. Dados como a ocupação de leitos nos hospitais e a taxa de transmissão do vírus na cidade não constam mais nos boletins divulgados atualmente pelo município. Hoje, o Comitê Popular divulgará a primeira edição de seu boletim próprio. A expectativa do grupo é de que edições semanais sejam disponibilizadas para a população.

Além dos infectologistas do antigo grupo da prefeitura, farão parte do Comitê Popular, representantes das seguintes entidades: Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da UFMG, Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia, Associação de Usuários de Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais, Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, Diretório Central dos Estudantes da UFMG (DCE/UFMG), Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, Observatório de Políticas e Cuidados em Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG, Pastoral da Saúde, Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Sindicato dos Enfermeiros de Minas Gerais, Sindicato das Psicólogas e Psicólogos de MG.



Com a unidade recém-aberta, capacidade de testagem em unidades públicas específicas para o serviço chega a 800 exames por dia na capital mineira (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Pfress)

Mudanças no protocolo de segurança

Roger Dias

Diante da tendência de aumentos de casos de COVID-19 nas últimas semanas, a Prefeitura de Belo Horizonte voltou a sugerir o uso de máscaras em ambientes fechados em salas de aula das escolas públicas e particulares, cinemas, teatros, elevadores e escritórios. A mudança ocorre depois de reunião feita pelas equipes técnicas da Secretaria Municipal de Saúde, que levaram em conta a cobertura vacinal, ainda considerada longe do ideal pelos especialistas, e os indicadores de morbidade e mortalidade pela doença.

As alterações serão incluídas no Protocolo Geral de Vigilância em Saúde. A variante Ômicron é a maior preocupação, na visão do município, que alerta sobre sua capacidade de causar reinfecções, mesmo em pessoas já vacinadas. Em Minas, especialistas já se preocupam com um cenário de avanço de casos. O último balanço registrou mais de 5 mil contaminações em 24 horas.

A Secretaria Municipal de Saúde observou uma tendência de aumento da incidência de COVID-19 acumulada nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes. Embora ainda não se observe aumento das mortes, a PBH considera que as mudanças nas regras serão uma estratégia fundamental para o enfrentamento da doença.



Os técnicos sugeriram que os idosos, pessoas com comorbidades e pessoas não vacinadas também usem máscara em ambientes abertos com aglomeração de pessoas. Também foi aconselhado que todos os estabelecimentos e as atividades devem disponibilizar álcool 70% para o público, em pontos estratégicos e de fácil acesso, para higienização das mãos na entrada e na saída.

Outra orientação é que os locais de espera e filas sejam organizados de forma a respeitar distanciamento de 1m (um metro) entre as pessoas. Além disso, pessoas com suspeita de COVID-19 ou outros quadros gripais não devem frequentar locais públicos ou privados e são aconselhadas a procurar atendimento em unidade de saúde, sempre usando máscaras.

Atualmente, o boletim epidemiológico é atualizado a cada quatro dias. Desde o início da pandemia, a capital registrou 1.818.183 casos e 7.829 mortes. Segundo dados da PBH, 94,7% da população foi vacinada com a primeira dose da vacina e 87% com a segunda dose ou dose única. Além disso, 63,3% receberam o reforço (terceira doses) e 6,3% tomaram o reforço adicional (quarta dose). A porcentagem de crianças  de 5 a 11 com uma dose é de 81,3%, enquanto 54,7% tomaram a segunda dose.





EXAMES Com o aumento de 23% na incidência da COVID-19 em 15 dias, PBH abriu o segundo centro de testagem em menos de uma semana. A unidade começou a funcionar ontem na UNA Aimorés,  localizada na rua dos Aimorés, 1.451, Bairro Lourdes, região Centro-Sul da capital. Em 17 de maio, a incidência da doença estava em 87,2 casos a cada 100 mil habitantes. Na segunda-feira, passou para 107,2 casos por 100 mil habitantes.

O novo local conseguirá fazer 100 testes por dia e, com a abertura dessa unidade, Belo Horizonte terá cinco Centros de Testagem, com a capacidade diária de 800 exames. Os testes podem ser feitos por pessoas assintomáticas ou com sistemas respiratórios leves. Os interessados devem fazer o agendamento no portal da prefeitura ou no aplicativo PBH APP. Após a marcação, o cidadão deve comparecer à unidade no horário agendado.

Para a marcação, é necessário fazer o cadastro no sistema com os dados, que possibilitará o acesso. Em seguida, é preciso digitar o CPF e a data de nascimento e clicar em “entrar”. Após esse processo será possível agendar, além de escolher uma data, horário e local do exame — as opções serão de acordo com a disponibilidade. Depois da marcação, o usuário receberá a confirmação por e-mail com o nome da unidade escolhida para a realização do teste. O resultado é informado cerca de 20 minutos após a coleta, pessoalmente, com as devidas orientações.



Centros de testagem


Confira endereços e horários de funcionamento

» Faminas-BH: Avenida Cristiano Machado, 12.001 — Vila Clóris (8h às 17h);
» Faculdade Pitágoras: Rua dos Aimorés, 1.300 — Funcionários (8h às 17h);
» UniBH Buritis: Rua Líbero Leoni, 259, Portaria 2 — Buritis (8h às 16h30);
» Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais: Alameda Ezequiel Dias 275 — Centro (8h às 16h30);
» UNA Aimorés: Rua dos Aimorés, 1.451 — Lourdes (8h às 16h30).