Entidades, sindicatos e associações de Belo Horizonte lançaram nesta sexta-feira (3/6) um comitê popular de enfrentamento à COVID-19. O objetivo da iniciativa é mobilizar a população acerca do aumento de casos e cobrar da prefeitura a retomar a exigência do uso de máscaras, principalmente em locais fechados. O aumento dos índices de vacinação também é objetivo do grupo.
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Nova escalada da COVID-19 desafia BHCOVID: PBH orienta volta do uso de máscaras em locais fechadosCOVID-19: MG registra mais de 6,5 mil casos nesta sexta-feira (3/6)Participaram do lançamento a Associação Brasileira de Médicos e Médicas pela Democracia, o Instituto Helena Greco, o Sindicato dos Enfermeiros de Minas Gerais, o Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte, o Conselho Regional de Psicologia e o Observatório de Políticas e Cuidados em Saúde da UFMG.
A prefeitura já havia orientado a volta do uso de máscaras em locais fechados em comunicado divulgado na quinta-feira (2/6). A mudança ocorreu depois de reunião feita pelas equipes técnicas da Secretaria Municipal de Saúde, que levaram em conta a cobertura vacinal, ainda considera longe do ideal pelos especialistas, e os indicadores de morbidade e mortalidade pela doença
Durante a apresentação do comitê, Starling recorreu a dados municipais da COVID-19 para cobrar avanço na imunização. "Cerca de 75% das pessoas que morrem de COVID-19 hoje têm mais de 60 anos. Cerca de 20% têm entre 36 e 50 anos. O risco de quem não vacina é cerca de 20 vezes maior do que quem vacina", disse.
Neste momento, são consideradas com esquema vacinal completo cidadãos que já tomaram três injeções antiCOVID-19 – apenas 79% da população está completamente imunizada, enquanto apenas 56,2% das crianças tomaram duas doses. Em 2022, a doença já matou 579 pessoas, num total de 448 mil casos notificados. Desde o início da pandemia, foram 7,8 mil mortes na capital mineira.
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"Em Belo Horizonte, no fim de janeiro, 80% das pessoas no CTI eram não vacinados. De fevereiro para cá, não temos esses dados. Mas, provavelmente, as pessoas que estão mais graves são não vacinadas ou com apenas duas doses", explicou Unaí Tupinambás.
Unaí se mostrou crítico às ações do governo federal no combate à doença: "Vimos um governo negacionista que não se preocupou com a pandemia. Foi preciso que o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal (STF) intervir para liberar as ações dos estados e municípios. Há dados mostrando que o Brasil foi o pior país para se viver no período da COVID. Tivemos 670 mil mortes, mas há levantamentos que esse número é muito maior. É inaceitável".
Os infectologistas fizeram parte do comitê da PBH até 28 de abril, quando foram comunicados de que o grupo seria dissolvido. O fim do comitê ocorreu quando o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) renunicou ao cargo e Fuad Noman assumiu o mandato.
"Não tivemos contato com a prefeitura desde o fim do comitê. Fomos e continuamos sendo voluntários para servir Belo Horizonte e a população de uma forma geral, seja através da prefeitura, dos sindicatos ou da UFMG. Nosso trabalho é sinérgico ao da PBh e não está sendo antagônico de forma nenhuma", afirmou Starling.
Expansão da doença
Os infectologistas passaram a buscar dados estatísticos da COVID-19 em BH para elaborar um painel de monitoramento, com base no própprio levantamento feito pelo município. Starling disse que BH tem atualmente 82% de taxa de normalidade, considerada distante do ideal para garantir a segurança da população. Segundo o levantamento, a cidade está próxima de uma quarta onda de COVID.
"Uma taxa acima de 90% significa uma incidência baixa, mortalidade baixa, letalidade baixa e vacinação em alta. Agora, quando você observa que a taxa está caindo e não faz nada é um risco de a doença progredir. Atitude preventiva é para isso", afirmou o médico.
Apesar disso, os médicos voluntários fizeram apelo para que a PBH volte a publicar os dados em pelo menos cinco dias da semana para facilitar o monitoramento da doença.
"A qualidade dos dados pior muito em todo o Brasil. Temos hoje autotestes para COVID-19. As pessoas são infectadas, mas não notificam. A incidência deve estar 30% acima do que é divulgado. As pessoas não notificam com a mesma frequência do que faziam antes. Esse fenômeno ocorre também nos Estados Unidos e outros países do mundo".