Jornal Estado de Minas

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

Abraço une ambientalistas em defesa da Serra do Curral contra a mineração

No Dia Mundial do Meio Ambiente, neste domingo (5/6), diversos coletivos de Belo Horizonte e Região Metropolitana se reuniram para o 4º Abraço à Serra do Curral no pico da capital mineira. Ambientalistas refletiram sobre a data em defesa do símbolo e a importância de continuar a luta contra a instalação do Complexo Minerário Serra do Taquaril, da Taquaril Mineração S/A (Tamisa).




 
Os manifestantes partiram de três pontos de encontro, a Praça do Cardoso, no Bairro Serra, a Praça das Águas, no Parque das Mangabeiras, e do Hospital da Baleia. Todos se encontraram no Pico Belo Horizonte e deram as mãos para o abraço. 

Além disso, também houve uma performace do Boi Rosado, projeto de eco-cidadania.

A educadora ambiental e integrante do Movimento Pela Preservação da Serra do Gandarela, Maria Teresa Corujo, relembrou que as lutas são necessárias e historicamente têm conquistas contra a mineração. “Nos que estamos nessas defesas de lugares, como a Serra do Curral e outros lugares, temos a seguinte certeza: não pode acontecer essa destruição”, ressaltou.
 
Maria Teresa Corujo, educadora ambiental e integrante do Movimento Pela Preservação da Serra do Gandarela (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
 

“Se for pegar a história da resistência à mineração em Minas Gerais, são muitos fatos que comprovam que vale a pena acreditar no impossível”, disse. Ela citou exemplos: “Temos a questão da Serra da Piedade, em 2001, tava certo que ia ampliar e apareceu um monte de gente dizendo: ‘Aqui não pode’ e não conseguiram licenciar, só conseguiram em 2019 com um monte de coisas graves.”




 
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Maria Teresa continuou: “Tem a história da Serra da Moeda, a mesma coisa, tentativa de minerar a Serra da Calçada, a Serrinha, agora tem a questão da Gerdau querendo ampliar e tá se impedindo. Conceição do Mato Dentro tá lá posto, mas demorou muitos anos e foi muita luta, mas infelizmente não se conseguiu garantir, mas as pessoas não desistiram, continua lutando para salvar o município.” 
 
 

Por fim, ela apontou que o estado é muito maior do que a mineração. “São muitos exemplos que vale a pena manter a luta. E o setor minerário sabe que a sociedade civil está cada vez mais articulada e mais certa de que esse modelo é uma falácia, uma mentira. Nem que a gente mude o nome do nosso estado, como falamos entre nós: ‘Tira o Minas, pronto. O nosso estado se chama Gerais’. Porque nós não somos um território só que tem minério e que precisa ser minerado”, afirmou.
 
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Nesse sentido, Apolo Heringer Lisboa, ambientalista e fundador do Projeto Manuelzão, ressaltou que o grupo de ambientalistas e também da sociedade não é contra a mineração, e sim com a forma que tem sido feita em Minas Gerais. “Não é que somos contra a mineração de forma absoluta. Meio Ambiente não é contra o desenvolvimento sustentável, regenerativo. O Meio Ambiente gera empregos, gera turismo, distribui renda, é progresso - que seja compatível com a sobrevivência do planeta Terra. A gente não pode admitir uma mineração que explora de forma intensiva nossos bens naturais”, observou.
 
Maria Teresa Corujo, educadora ambiental e integrante do Movimento Pela Preservação da Serra do Gandarela (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)


Ele ainda reforçou que a data marca mais uma luta. “O Dia Mundial do Meio Ambiente em geral é sempre uma oportunidade para protestar contra coisa errada, contra o retrocesso e raramente é para a gente comemorar alguma coisa positiva”, lamentou. “A Serra do Curral vai ser defendida com unhas e dentes”, acrescentou.




 
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Corredor Ecológico

Um instrumento para reforçar a proteção contra impactos, inclusive do controverso Complexo Minerário Serra do Taquaril, está quase pronto para ser instaurado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). O Corredor Ecológico da Serra do Curral tem previsão de lançamento para a terça-feira (7/6), segundo fontes ouvidas pela reportagem do Estado de Minas.

O Corredor Ecológico representa a união de áreas ainda abertas da Serra a quatro unidades de conservação da capital mineira: os parques municipais Fort Lauderdale, Serra do Curral, das Mangabeiras e o Parque Florestal Estadual da Baleia. A não inclusão do Parque Aggeo Pio Sobrinho, da estação Ecológica do Cercadinho e da luta pela implantação do Parque Linear do Belvedere podem trazer ainda mais polêmica à questão.
 
 

O corredor será lançado por meio de decreto, e a intenção é aproveitar a semana que começa neste domingo (5/6), Dia do Meio Ambiente. A proposta está recebendo os ajustes e pareceres finais da Procuradoria-Geral do Município. A delimitação traz um reconhecimento importante da Serra do Curral e das unidades citadas como um corredor fundamental para a biodiversidade, reforçando ações para impedir impactos eventuais, como os da mineração que tem sido foco de discussões em BH.





Dessa forma, conforme a vereadora de Belo Horizonte,  Bella Gonçalves (PSOL), é mais uma maneira de impedir a instalação e operação da Tamisa na Serra do Curral. “O decreto da prefeitura ajuda muito a frear o processo de instalação da mineradora e também a cancelar a operação porque ele mostra que existe o interesse de fazer aqui uma área de parque e aumenta a pressão”, disse.
 
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Por outro lado, ela ressaltou que a luta para barrar o Complexo Minerário Serra do Taquaril não será fácil. “É muito poder econômico entranhado no governo do estado, na Assembleia Legislativa, tanto que não se abriu até agora a CPI da Serra do Curral, mas acredito que a luta popular pode fazer a diferença. Cada dia a luta aumenta, este está sendo o maior abraço de todos os tempos na Serra do Curral”, ressaltou.

Além disso, um dos entraves para o decreto tem sido justamente a inclusão legal da área da Serra do Taquaril, no limite entre Belo Horizonte, Nova Lima e Sabará. “Infelizmente os municípios de Nova Lima e Sabará têm se posicionado ao lado das mineradoras. O município de Belo Horizonte comprou a briga contra a Taquaril porque será impactado e está com a luta na justiça para conseguir cancelar a licença do Copam por não ter sido ouvido ou ter dado anuência para esse processo”, reforçou Bella.