A notícia de que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) criará o Corredor Ecológico Espinhaço, na Serra do Curral, não caiu tão bem para ambientalistas que lutam pela preservação do cartão-postal da cidade há décadas. A informação, que deveria ser motivo de alívio para a região que está no alvo de mineradoras, revelou-se frustrante por excluir as áreas do Parque Linear do Belvedere, do Parque Municipal Aggeo Pio Sobrinho e da Estação Ecológica do Cercadinho.
O decreto que institui a criação do corredor foi publicado nesta terça-feira (7) no Diário Oficial do Município. Ele prevê a inclusão de uma área de 1,8 mil hectares, englobando as regiões que ficam entre pontos de conservação. A região de proteção vai passar pela Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Minas Tênis Clube, no Bairro Taquaril, até a Mineração Lagoa Seca, no Bairro Belvedere, cortando três parques municipais, pela Mata da Baleia e pelo Parque Estadual da Baleia.
O Parque Municipal Aggeo Pio Sobrinho, a Estação Ecológica do Cercadinho, ambos na Região Oeste, e o Parque Linear do Belvedere, na Região Centro-Sul, não entraram no planejamento, assim como a área da Serra do Curral entre eles. Com nascentes de valor ambiental e histórico, o local tem sua preservação defendida há mais de 20 anos por ativistas e moradores, que se surpreenderam com a ausência no traçado do Corredor Ecológico Espinhaço.
Leia Mais
Projeto de R$ 3 milhões colocará fim a lixões em seis cidades mineirasPrograma ambiental vai plantar 400 mil árvores na Serra da MantiqueiraIncêndio atinge caminhão-tanque no Anel Rodoviário, em BHSerra do Curral: mineradora barra novamente fiscalização de comissão Mês mundial da conscientização sobre a infertilidade: mitos e verdades Serra do Curral: deputados pedem investigação sobre licença a mineradoraCarla enxerga a exclusão da área como uma mensagem de que a região não faz parte do projeto de conservação da prefeitura.
A ambientalista vê com preocupação o futuro da preservação no local. Embora a área restrita ao Parque Aggeo Pio Sobrinho e à Unidade Ecológica do Cercadinho sejam protegidas, há um espaço com cursos d’água e vegetação entre os locais que poderia ser contemplado pelo Corredor Ecológico anunciado pela PBH.
“Eu imagino que nos próximos cinco anos a gente não tenha mais o entorno do Cercadinho. Teremos a unidade de conservação apenas e o Parque Aggeo Pio Sobrinho, mas o corredor que tem lá não vai restar. A chance era agora ou nunca, porque as áreas que estão aqui precisam ser reconhecidas como corredor ecológico. Se nesse momento, a prefeitura exclui, o que ela quer dizer?”.
Apesar de estarem fora do Corredor Ecológico, a Estação Ecológica do Cercadinho é uma unidade de conservação estadual e o Parque Aggeo Pio Sobrinho uma área protegida pela esfera municipal.
Já o Parque Linear do Belvedere tem o agravante de não ser uma reserva ambiental preservada em nenhuma instância. Esse é um fator que preocupa o presidente da Associação dos Amigos do Bairro Belvedere, Ubirajara Pires Glória.
"Isso chega até a ser uma irresponsabilidade da prefeitura, não ouviram a população, as associações e as pessoas interessadas. Colocam os técnicos lá e por meios que a gente não conhece, tiram nosso parque e o Cercadinho e não dão explicação. É preciso que o prefeito se pronuncie sobre isso. Temos nascentes naquele local que abastecem a população do Belvedere, Santa Lúcia, Olhos d'Água”.
Mineração e especulação imobiliária
A decisão de criar o corredor ecológico acontece em um momento em que a Prefeitura de BH se posiciona contra a atividade de mineração na Serra do Curral. Além de ter movido ação contra a Taquaril Mineração S.A. (Tamisa) na Justiça Federal, o Executivo municipal atuou contra a mineradora Gute Sicht, fechando a mina que funcionava com autorização estadual em área da capital.
Para Carla Magna, a ação contra a mineração em favor da preservação ambiental é necessária, mas esta não é a única atividade que compromete a Serra do Curral. Citando o exemplo da expansão imobiliária do Bairro Buritis, onde ficam a Estação do Cercadinho e o Parque Aggeo Pio Sobrinho, ela questionou o motivo de o Corredor Ecológico Espinhaço ter ignorado a região.
“Nessa região da Serra do Curral, houve várias interferências. Uma delas é a mineração, mas a outra é a especulação imobiliária. Quando se foi construir o bairro Buritis, foi o maior canteiro a céu aberto da América Latina. Para mim, existe uma desvalorização por ser uma área incluída onde o valor da construção é imenso. Não vejo outra explicação para a não inclusão do Cercadinho. A defesa do meio ambiente não pode ser uma defesa política, de ser contra a mineração porque o governador é a favor. Tem que ser pelo meio ambiente, seja qual for a circunstância”.
Explicações
Ubirajara Pires Glória afirmou que a Associação dos Amigos do Bairro Belvedere cobrará explicações da PBH. “Vamos oficializar nossas reclamações ao prefeito, ele precisa nos explicar como foi feito o processo desse corredor. Ele não é prefeito dele, é prefeito de Belo Horizonte. Nossa luta vem de 20 anos para a preservação tudo isso faz parte do futuro da cidade, do futuro das pessoas, não estamos individualizando o processo”.
Ao Estado de Minas, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que o primeiro modelo do Corredor Ecológico Espinhaço usou como critério principal a presença de áreas protegidas já devidamente criadas individualmente e que este é um passo inicial.
Veja a resposta na íntegra:
A Prefeitura de Belo Horizonte esclarece que esta primeira modelagem utilizou como critério principal a presença de áreas protegidas já devidamente criadas individualmente, que possuíssem contiguidade significativa, sendo necessários estudos e levantamentos de biodiversidade, geoprocessamento, entre outros, que embasassem cientificamente a incorporação delas ao Corredor.
Esta iniciativa sinaliza um primeiro passo, dentre outras iniciativas como esta que serão necessárias.