O domingo será de festa em Belo Vale, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para celebrar o término da restauração da Capela Nossa Senhora da Boa Morte, joia do século 18 localizada no distrito de Boa Morte. Na programação de entrega do templo à comunidade, está prevista missa às 10h, celebrada pelo titular da Paróquia São Gonçalo, padre Wellington Eládio Nazaré Faria.
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“É um momento importante para a comunidade, que sempre defendeu seu patrimônio religioso e histórico. Estão todos muito animados para a acolhida às imagens e o cortejo de celebração do final do restauro. Temos, agora, mais duas obras em restauração, que são a Capela de Santana, com previsão de término em setembro, e a Matriz de São Gonçalo, com previsão este mês de início dos altares colaterais e do arco-cruzeiro, para conclusão de todo o serviço ainda este ano”, disse, ontem, o padre Wellington.
QUILOMBOLA
Tradições, ancestralidade e história se unem no distrito de Boa Morte, onde a comunidade quilombola, reconhecida pela Fundação Palmares em 2007, tem na capela dedicada a Nossa Senhora da Boa Morte um dos seus maiores tesouros. Erguido antes de 1731, o templo, situado a seis quilômetros do Centro do município, demandou um ano de obras, a cargo do Grupo Oficina de Restauro, com acompanhamento do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, coordenado por Goretti Gabrich.
O restaurador Adriano Ramos, responsável pelo trabalho no interior da construção, após contrato firmado pelo Grupo Oficina de Restauro com a Arquidiocese de BH, explicou que os estragos eram enormes, tanto que o forro da capela-mor perdeu a pintura devido à entrada de água da chuva, durante muitos anos. “As pinturas originais se perderam, sendo mantida a aplicada na primeira reforma da decoração interna.”
Tombada pelo município de Belo Vale e pertencente à Paróquia São Gonçalo, a Capela Nossa Senhora da Boa Morte teve as obras civis (estrutura e arquitetura) concluídas em 2016. Na época, ficou à frente da intervenção a Associação do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de Belo Vale (Aphaa-BV), seguindo recomendações do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que pediu providências para o bem não ruir.
Na atual fase, com recursos do Fundo de Direitos Difusos/Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Sedese), a equipe de restauradores trabalhou, além do altar-mor, nos retábulos colaterais, púlpito, pia batismal, pias de água benta, arco-cruzeiro e 25 imagens de madeira policromada e gesso. “O forro da capela-mor foi totalmente refeito, pois não se aproveitou nada”, explica Adriano.
União para proteger tesouro de 300 anos
Natural de Belo Vale e integrante do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Natural, o jornalista e ambientalista Tarcísio Martins destaca a importância da Capela Nossa Senhora da Boa Morte para os moradores. Pesquisador da história local, ele prepara um livro, a ser lançado ainda este ano, intitulado “Vestígios coloniais e histórias de Boa Morte e arredores”. “Temos aqui uma comunidade quilombola de mais de 200 anos e uma capela quase tricentenária. Esse é um dos núcleos mais antigos da região da Serra da Moeda”, afirma.
No restauro da capela, jovens da comunidade atuaram como auxiliares de restauração. Em entrevista ao Estado de Minas, quando foi retratada a condução das obras, a moradora Tainara Isabela Ferreira, de 22 anos, satisfeita com o projeto, afirmou: “Trabalhar aqui é preservar nossa história”. Também estreante no ofício, Marcelo Cesário Maia falou sobre o desafio “presente nos detalhes”, que estava sendo vencido com paciência e aprendizado.
Conforme pesquisa do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, coordenado por Goretti Gabrich, a Capela Nossa Senhora da Boa Morte, em 1857, encontrava-se subordinada a São Gonçalo da Ponte, atual Belo Vale. Atualmente, o frontispício traz gravado o ano de 1760, e consta que pertenceu às freguesias de Congonhas e de Bonfim, sob cuja jurisdição ficou até 1911.
O Arquivo Eclesiástico de Mariana, no Livro de Batizados da Matriz Nossa Senhora da Conceição de Congonhas, registra cerimônias de batismo celebradas na capela já em 1731, em sua maioria de filhos de escravos. No histórico do processo de tombamento municipal, há informações que vinculam a criação do primitivo Arraial da Boa Morte a uma área de fortificação militar conhecida como Forte das Casas Velhas, hoje em ruínas e situado em área pertencente a uma mineradora.