Jornal Estado de Minas

'DESUMANO'

'UPA de Divinópolis está à beira do colapso', denuncia Comissão de Saúde


 
Com 58 pacientes aguardando transferência para unidades hospitalares, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, está à beira de colapsar. O alerta foi feito pela Comissão de Saúde da Câmara Municipal após vistoria in loco. Classificando o cenário como "desumano", os vereadores encaminharam ofício ao Ministério Público relatando os problemas.





Dos pacientes à espera de vagas em hospitais, seis estavam em estado grave, entubados. Deles, três foram diagnosticados com COVID-19, sendo que um está na UPA há 22 dias aguardando transferência para um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A vistoria foi realizada nessa quinta-feira (9/6). Enquanto a comissão estava no local, sete pacientes aguardavam o diagnóstico do estado clínico. Tinham, ainda, 17 crianças para serem internadas. Uma delas foi diagnosticada com quadro grave de apendicite.

"Constatando a superlotação, já que a unidade conta com apenas sete leitos de observação, tornando necessária a utilização de macas e até mesmo de quartos de isolamento para atender a quantidade demandada", informou o presidente da Comissão, Zé Braz (PV).





Além dos pacientes internados, 34 adultos e 11 crianças estavam na "fila" para atendimento médico. 

"Foi informado à comissão pela direção da UPA que a média de espera para atendimento de cada paciente chega a cerca de 7 horas, variando de acordo com o quadro clínico e a urgência demandada", destaca a comissão.


Oito horas de espera

Daiana Oliveira só foi atendida no dia seguinte, quando retornou à UPA de Divinópolis (foto: Arquivo pessoal)

A consultora de Vendas Daiana Oliveira estava, ontem, entre os pacientes à espera de atendimento. Foram oito horas aguardando, até desistir. 

"Cheguei às 13h e sai às 21h e não tinha sido atendida. Perguntei para a moça do atendimento, ela disse que não tinha previsão. Tinha somente um médico, e a preferência era de quem estava com a pulseira amarela. Fiquei a tarde toda com muita tosse e com vômitos e tive que voltar para casa. Chorei pelo descaso", relatou. Ela foi classificada na triagem como verde, ou seja, "pouco urgente" podendo esperar até 4 horas.





Com muita tosse, vomitando e dores, ela voltou à UPA nesta sexta-feira (10/6). Desta vez, conseguiu atendimento médico. "Cheguei às 7h15 e até que foi rápido", contou. Foram cerca de duas horas esperando. Moradora do Córrego do Paiol, zona rural de Divinópolis, ele alega que não há na comunidade equipes básicas de saúde com atendimento diário.


Atenção primária

Para evitar o colapso da Unidade, a Secretaria de Saúde de Divinópolis alega que tem tentado investir na atenção primária para "transformá-la na estratégia preferencial de atuação na prevenção de agravos e na promoção e recuperação da saúde da população".

"Até o presente momento, implantamos o Programa Saúde na Hora em cinco unidades de saúde, estendendo o horário de atendimento destas unidades até as 22 horas. Para o funcionamento do referido programa foram contratados 19 servidores", afirmou a Semusa em nota.





Além do Programa Saúde na Hora, que possui perspectiva de ampliação, a secretaria alega que, desde janeiro de 2021, aumentou o número de profissionais com vistas a ampliar a capacidade instalada das unidades assistenciais e a possibilitar a conversão do formato das convencionais em Estratégia Saúde da Família. 
No referido período, foram incorporados à rede 275 novos profissionais.


Outras medidas

Para tentar aliviar, um plano emergencial foi anunciado, nesta sexta-feira (10/6) pela Semusa. Pacientes com quadro de sintomas respiratórios serão atendidos, a partir de quarta-feira (15/6), na policlínica, que funciona no centro da cidade. Serão atendidas as pessoas classificadas como azuis e verdes pelo protocolo de Manchester entre 7h e 19h.

Também foram comprados 10 leitos no Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD) com recursos devolvidos no ano passado pela Câmara Municipal. Inicialmente, o dinheiro seria para cirurgias eletivas. 


Regulação de leitos

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES) afirmou que a gestão das Unidades de Pronto Atendimento é de responsabilidade dos municípios. Disse que a Central de Regulação de leitos integra os serviços hospitalares das macrorregiões de saúde do estado, agilizando a troca de informações e a busca ativa de leitos para pacientes que precisam de internação. 

Sobre o déficit de leitos, a SES argumentou que a macrorregião Oeste, em que Divinópolis está inserida houve um incremento de vagas no contexto do enfrentamento da pandemia. Em fevereiro de 2020, a macrorregião contava com 109 leitos de UTI e em abril de 2022 estavam habilitados 142.

*Amanda Quintiliano especial para o EM