As máscaras voltaram a ser obrigatórias em locais fechados de Belo Horizonte. Em entrevista coletiva ontem, a secretária municipal de Saúde, Cláudia Navarro, anunciou a medida, que entra em vigor a partir de hoje. De acordo com a secretária, o aumento no número de casos de doenças respiratórias registrado nas últimas semanas motivou o decreto. Cláudia avalia que a medida ajuda a evitar novos casos não apenas de COVID-19, mas também de outras viroses.
Inicialmente, as máscaras serão obrigatórias em todos os locais fechados até 31 de julho, quando se espera um cenário mais controlado da transmissão do vírus. A decisão foi tomada após uma reunião do comando da Saúde com o prefeito da capital, Fuad Noman (PSD), na manhã de ontem.
Conforme noticiado pelo Estado de Minas na última semana, o aumento nos atendimentos, especialmente de pediatria, preocupa as autoridades de BH e é apontado como motivação crucial no retorno das máscaras.
“Estamos tendo um aumento no número de novos casos (de COVID) por 100 mil habitantes. Apesar disso, não há elevação no número dos óbitos nem de casos graves, que necessitam de internação. Esse aumento, juntamente com a maior incidência de outras doenças respiratórias, principalmente em crianças, que acontece nesta época – e seria de se esperar – leva a uma dificuldade de dar assistência ambulatorial. Com isso, a partir do momento em que obrigamos o uso da máscara, vamos não só diminuir a transmissão do (corona)vírus como também de outras viroses, principalmente nas crianças e nos pacientes acima de 60 anos”, avalia a secretária.
ESCOLAS
No que se refere ao ambiente escolar, o decreto estabelece uso de máscara obrigatório apenas dentro das salas de aula e demais locais fechados. A exigência do equipamento também nas dependências ao ar livre deverá ser decidida individualmente pela direção de cada instituição.
A entrevista coletiva de ontem foi a segunda concedida pela secretária de Saúde em quatro dias. Na sexta-feira, Cláudia Navarro convocou a imprensa para anunciar um reforço no atendimento pediátrico na rede pública da capital. Na ocasião, ela comentou sobre o possível retorno da obrigatoriedade das máscaras, mas a avaliação era outra: “Entendemos que isso não é necessário no momento”.
O mês de maio, primeiro em que o uso de máscara foi amplamente flexibilizado em BH, tornando-se facultativo na maioria dos espaços, apresentou um número de novos casos confirmados de COVID em crescimento contínuo. Entre os dias 17 e 24, a capital computou 888 novos casos. Já entre os dias 24 e 31, o número chegou a 3.478. Já na última semana do mês, foram 4.663 novos resultados positivos para coronavírus, de acordo com o boletim da prefeitura.
A notícia do uso obrigatório de máscaras parece ter sido bem aceita. A reportagem do Estado de Minas constatou a presença de aviso nesse sentido colocado ainda ontem na porta da livraria Scriptum, na Savassi.
VACINAÇÃO INFANTIL
Continuando a falar sobre a preocupação com o aumento da incidência de doenças respiratórias em crianças, a secretária citou o desempenho abaixo do esperado da vacinação infantil contra a COVID. De acordo com o último boletim da prefeitura, divulgado em 10 de junho, apenas 57% do público entre 5 e 11 anos recebeu a segunda dose do imunizante na capital.
“Com certeza não são as crianças que falam: 'Eu não quero tomar a segunda dose’. São os pais e responsáveis que não levam seus filhos. Uma dessas questões está relacionada ao temor de efeitos colaterais, complicações”, comentou. E ressaltou: “É uma vacina nova, não temos dúvida, mas que todos os estudos feitos até hoje não mostram uma complicação que impeça a aplicação dessa segunda dose”, disse, enfatizando que a chance de complicação gerada pela vacina é muito menor que os benefícios que a proteção contra a COVID pode trazer tanto para a criança quanto para a população em geral.
DIVULGAÇÃO DE DADOS
A redução das informações sobre a pandemia divulgadas pela PBH nos boletins epidemiológicos também foi tema da entrevista. A versão mais enxuta e a mudança na periodicidade do documento divulgado a partir de abril têm sido alvos de reclamações de profissionais e entidades da saúde da capital. Um Comitê Popular de Enfrentamento à COVID foi formado no início de junho contando com os infectologistas que trabalharamcom a prefeitura nos dois primeiros anos da pandemia em sua formação.
O documento, que era diário, passou a ter duas edições semanais e não apresenta mais a taxa de transmissão do coronavírus e a ocupação de leitos de enfermaria e UTI por pacientes com COVID. “A taxa de transmissibilidade, que era utilizada no período da crise maior, digamos assim, da maior gravidade antes da vacina, se relacionava com o número de pacientes internados e atualmente temos um índice de internação muito baixo. Então, se divulgarmos essa taxa de transmissão, estaremos dando uma ideia errada ao ser comparado com uma informação de um ou dois anos atrás. O que tem que ser colocado é que esse dado hoje não é um dado que teria tanta confiabilidade. Hoje temos uma grande parte da população que não é internada (ao contrair o vírus) , então não dá para se basear nesse dado. Essa é uma questão epidemiológica e científica”, disse Navarro.
A secretária, no entanto, não falou sobre a divulgação do número de internações. Ela encerrou a entrevista pedindo aos jornalistas para se basearem nos dados oficiais divulgados pela prefeitura. “Muitas vezes, quando ouvimos que existiu 250% de aumento de atendimento em um centro de saúde é um dado que algum profissional falou, uma questão que ocorreu naquele dia”, ponderou.
Na quinta-feira, o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sindibel) divulgou dados que apontavam que, entre 30 de maio e 3 de junho, os atendimentos a casos de síndrome gripal e COVID-19 aumentaram 286,8% nos centros de saúde e unidades de pronto-atendimento (UPA) de Belo Horizonte.
Para Bruno Pedralva, coordenador de comunicação do Sindibel, a secretaria tem mais ferramentas para medir com precisão a situação da pandemia na cidade, mas precisa divulgar os números aferidos. “O esforço que o sindicato fez foi de levantar um dado a partir de uma pesquisa entre trabalhadores, dados que a secretaria tem. É óbvio que a secretaria tem muito mais ferramentas e a capacidade de divulgar isso para a população. Trata-se de uma medida de transparência da gestão pública. Nosso pedido é que sejam divulgadas essas informações para que a população tenha uma real dimensão da pandemia na cidade”, disse o médico.
Outras cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte adotam a medida
Os mais de 7,5 mil casos de COVID-19 confirmados em duas semanas em Belo Horizonte foram o gatilho para que a secretária municipal de Saúde, Cláudia Navarro, anunciasse ontem que o uso de máscaras em locais fechados na capital do estado será obrigatório. E ao menos oito cidades da Grande BH já estavam em sinal de alerta, com obrigatoriedade ou recomendação ao uso em curso.
Na região metropolitana, Confins já prevê a obrigatoriedade do uso da máscara em ambientes fechados desde 31 de maio. Já as cidades de Itaguara, Raposos e Sarzedo "recomendam" à população o uso da proteção facial em locais fechados. Os cidadãos de Jaboticatubas estão obrigados a utilizar máscaras desde 3 de junho.
Em Betim, também no início deste mês, a proteção individual passou a ser obrigatória em escolas, farmácias, drogarias, unidades de saúde e transporte público.
Já em Esmeraldas, conforme decreto publicado em 6 de junho, a máscara é obrigatória dentro do transporte escolar e nas dependências das instituições de ensino infantil, fundamental, médio e superior – tanto na rede pública quanto na privada.
Enquanto isso... ...Média móvel em alta em MG
Mais 13.099 pessoas testaram positivo para a COVID-19 em Minas Gerais entre sexta e ontem, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES). No mesmo período, foram registradas 18 mortes em decorrência da doença. Nos 13 primeiros dias de junho, o total de novos casos da doença chegou a 75.983, número 30% maior que o registrado em todo o mês de maio, quando 58.366 infecções foram confirmadas. A média móvel de casos diários está em 6.456, em curva ascendente no painel de monitoramento da SES-MG. Desde o início da pandemia, em março de 2020, foram confirmados 3.491.674 casos da doença no estado, 61.737 dos quais resultaram em morte.