O aumento de casos de doenças respiratórias em Belo Horizonte sobrecarrega as unidades de saúde e voltou a colocar uma lupa sobre a carência de médicos na cidade. Nesta quarta-feira (15/6), a prefeitura anunciou a convocação de 188 profissionais aprovados em concurso público. O número, embora expressivo, não supre todas as vagas da capital e o expediente reduzido esperado para o feriado de Corpus Christi preocupa usuários do sistema de saúde.
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Saiba o que funcionará e o que não funcionará em Contagem durante o feriadoCOVID-19: vacinação é interrompida no feriado de Corpus Christi, em BHCOVID: número de mortos na primeira quinzena de junho supera total de maioA situação nesta semana não é diferente e conta com o agravante do feriado. Na quinta-feira (16/6), nenhum dos 152 Centros de Saúde funcionam em BH e, na sexta (17/6), as unidades operam das 7h às 17h e com apenas metade das equipes. As 9 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) atendem normalmente, 24h por dia.
Pacientes sofrem com a sobrecarga
A rotina complicada nas unidades de saúde de BH levou a faturista Yasmin Carolina a procurar a UPA Leste pelo segundo dia consecutivo nesta quarta-feira (15/6). O pequeno Oliver Gustavo, de 1 ano e 9 meses, está com uma virose e a mãe espera conseguir atendimento antes do feriado para começar o tratamento da criança.
“Ontem cheguei aqui 11h50 e saí às 8h, sem atendimento. Falaram que tinha médico, mas não me atendiam. Cansei e fui embora. Hoje eu voltei porque ele não melhorou, fico na esperança de ao menos atenderem. A gente fica frustrada por querer atendimento para uma criança e não conseguir. Ontem não teve nenhuma prioridade porque estava cheio de criança e só foi aumentando a quantidade de crianças e nenhuma foi atendida", relata.
Na UPA Noroeste, vizinha ao Hospital Odilon Behrens, pacientes também se queixavam de demora no atendimento. A Agente Comunitária de Saúde, Glória Graziela, faz tratamento para uma cirrose hepática e procurou o serviço de urgência para tratar fortes dores que causadas pela doença
“Eu fui diagnosticada com cirrose hepática e estou fazendo tratamento. Vim aqui porque passei mal. Há um mês que vim aqui pela primeira vez e hoje tive que voltar. Da outra vez fiquei aqui umas quatro horas esperando e com dor”, disse.
A técnica em enfermagem Marina Cruz, que acompanhava Glória, relatou que a dificuldade em ser atendida na UPA Noroeste é comum e que passou pela mesma situação quando levou a mãe à unidade na semana passada.
“O descaso foi péssimo. Começa através da portaria, porque atendem a gente com desdém, não compreendem as dores dos pacientes. Minha mãe estava com cólica renal e um quadro de pneumonia. Chegamos às 19h e fomos sair às 3h40 da manhã. Não justificam em nenhum momento o motivo da demora. Minha mãe estava com muita dor, não tinha como voltar sem ter o atendimento”, reclamou.
Novos profissionais
Os médicos convocados pela Prefeitura de Belo Horizonte nesta quarta integrarão as equipes de Saúde da Família em Centros de Saúde da capital. Todos os nomeados no Diário Oficial do Município têm até 20 dias para regularizar a documentação e se apresentar ao município
Além de já começarem a trabalhar durante o inverno, quando é esperada grande dispersão de doenças respiratórias que sobrecarregam o sistema de saúde, os 188 profissionais convocados pela prefeitura estão longe de suprir a carência da capital, de acordo com o diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed), Artur Oliveira.
“Na verdade, essa chamada é apenas para os profissionais que atuam nas equipes de saúde da família, que está defasada, mas precisamos chamar profissionais também para as unidades de urgência. Nós somos mais de 500 equipes na cidade, para se ter uma ideia. Esse número de 188 parece muito e é importante que eles sejam chamados, é claro, mas a defasagem é maior que essa”, avalia o médico.
Oliveira reitera que é importante que mais médicos comecem a trabalhar na cidade, mas que é preciso que mais profissionais sejam convocados. Ele ressalta que o processo também deve ser mais célere do que o observado com este concurso, que aconteceu em julho do ano passado.
A demora na convocação ainda cria um novo problema. Os médicos aprovados no concurso podem estar empregados em outros locais e não aceitem a proposta da prefeitura, não ocupando efetivamente as vagas.
“É provável que muitas dessas pessoas já estejam trabalhando. É um dado que não tem como estimar, mas é possível. Em função da demora, muitos desses profissionais já estão em outros locais e, considerando o tipo de atratividade que temos aqui, não devem aceitar vir para BH”, conclui Oliveira.