O “novo cangaço” é uma modalidade de assaltos que tem aterrorizado cidades pequenas, do interior, de todo o país. A tentativa de assalto a uma agência da Caixa Econômica Federal em Itajubá, nessa quarta-feira (22/6), foi a última de uma série de ataques desse tipo em Minas Gerais.
Especialistas em segurança pública e forças de segurança discordam de qual é a solução para essa onda de crimes.
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A agressividade e o foco em cidades menores, do interior, fizeram com que os assaltos fossem associados ao cangaço, antiga forma de banditismo nos sertões brasileiros.
Para Camila Félix, presidente da Associação Brasileira de Advogados Criminalistas-Mulher-MG, o “novo cangaço” é antes de tudo uma modalidade de assalto coletivo em áreas rurais. A criminalista entende que a frágil presença do Estado nas cidades interioranas as torna alvos fáceis de quadrilhas.
“Todo interior vai sofrer cada vez mais com esse tipo de crime. É inegável que há uma ausência de policiamento nas zonas rurais, de operações da Polícia Militar. Por conta disso, é muito mais fácil praticar o crime lá. Há uma tendência de que esse tipo de crime cresça”, afirmou a advogada.
Segundo a Secretaria de Justiça e Segurança Pública, as ocorrências dessa modalidade de crime têm caído. O assalto em Itajubá foi o primeiro deste ano no país, contra cinco no ano passado. O pico de ocorrências foi em 2016, com 252 assaltos registrados. Entre 2016 e 2021, houve uma redução de mais de 98%.
Policiamento e inteligência
Para a major Layla Brunella, a redução dos assaltos é uma prova de que o aumento de efetivo policial e ações de inteligências coordenadas são eficientes no combate ao “novo cangaço”.
“Nós evitamos, oito meses atrás, que um delito desses fosse concluído na cidade de Varginha, com antecipação, trabalho de inteligência e tecnologia. Todos os aspectos de integração, inteligência, cruzamento de dados entre instituições, um efetivo bem treinado e bem equipado, possuindo armas longas, são fatores que colaboram para redução desse crime”, afirmou.
“Dose de homeopatia”
Camila Félix, por sua vez, entende que essas ações são “paliativas”. Para ela, somente aumentar as ações repressivas a cada ocorrência de assaltos é um ciclo vicioso. “Ocorreu ano passado, ano retrasado – temos operações e mais operações, e sempre acontece a mesma coisa”, declarou.
“Não há nenhum estudo empírico que prove a eficiência de aumentar as operações de inteligência e dos efetivos policiais. Não resolveu o problema, você deu uma dose de homeopatia”, disse a advogada.
Na sua opinião, o problema é de política de criminologia. “O problema criminal do nosso país é a economia. A recorrência de crimes patrimoniais significa que o país é pobre, que não tem empregos e renda suficientes. Um país com alto índice de emprego, com geração de renda, tem baixos níveis de criminalidade”, asseverou a advogada.
Mito e verdade do “novo cangaço”
A recorrência de crimes do “novo cangaço” na região Sul de Minas tem alimentado especulações sobre a ligação dessa modalidade com o crime organizado no estado de São Paulo. Na opinião da Camila Félix, trata-se de uma suposição muito ínfima.
“Tem uma ordem, uma metodologia de ordem, como qualquer crime dessa magnitude, como o tráfico. Mas não é possível afirmar que tenha ligação direta com nenhuma associação criminosa em específico. Até porque para falar isso, seria necessária uma investigação muito mais aprofundada. Nada liga esse nexo”, afirmou a criminalista.
A advogada acrescentou que nada vincula esse tipo penal em si ao estado de São Paulo. Estão expostas a esses crimes todas as zonas de interior. “Você observa um alto número de crimes das zonas rurais, mas não são só assaltos, como também crimes contra a mulher, homicídios, furtos, e isso é pouco comentado”, destacou.
* Estagiário sob supervisão do subeditor Thiago Prata