A mãe de uma criança de nove anos, que não quis se identificar, temendo retaliações do posto de saúde onde está inscrita, questionou uma medicação prescrita por uma pediatra. A profissional médica receitou azitromicina e ivermectina e negou pedido para testagem para COVID-19.
O filho, portador de bronquite, havia passado mal durante a última noite (23/6), com muita tosse e dificuldades respiratórias.
"Resolvi levá-lo ao posto, uma vez que a bombinha (usada para dilatação dos brônquios) não estava resolvendo. O posto estava lotado, com muitas crianças, o que é comum nesta época do ano. Ele foi examinado, e recebemos a receita. Quando a li, vi que se tratava do 'kit covid', comprovadamente sem eficácia para o coronavírus. Perguntei então se não seria o caso de um teste, e a médica recusou, dizendo não se tratar de sintomas, mas me deu a receita assim mesmo", afirmou a mulher.
Ela ainda perguntou à médica se não haveria alternativa à medicação. "Sequer me olhou e respondeu que era somente aquela que estava na receita e encerrou a consulta", contou.
A mãe da criança disse que já estava cansada e resolveu não questionar. Porém, não comprou o medicamento.
"Não acredito nessa medicação e acho absurdo uma profissional indicá-la a uma criança. Acredito nas recomendações científicas, ainda mais depois de tantos protocolos com essa medicação serem condenados. Meu estranhamento é saber que uma unidade pública de atenção básica está receitando essa medicação. Desde o início da epidemia (pandemia) tenho acompanhado as discussões e não acredito que ainda há esse procedimento", disse.
'Inaceitável'
O infectologista e membro do Comitê Popular Beagá de Enfrentamento à Covid Unaí Tupinambás classificou essa situação como "totalmente inaceitável". "A esta altura da pandemia, com vários trabalhos já divulgados em todo o mundo sobre ineficácia desses medicamentos, é um abuso, um dos crimes contra humanidade", comentou.
O infectologista caracterizou o silêncio da prefeitura como "conivência" e, em nome do comitê, cobrou das autoridades municipais a orientação a profissionais da rede SUS que, "após dois anos e meio de comprovações da ineficácia", ainda receitem esses fármacos.
"Essas pessoas estão fazendo mal à comunidade, aumentando o custo do tratamento e transmitindo falsa segurança, além de aumentar a chance de agravar a situação do paciente", criticou
Em nota, a Prefeitura de BH esclareceu que "a prescrição de qualquer medicamento a partir da necessidade de cada paciente é prerrogativa do médico. Essa é, inclusive, a orientação do parecer 004/2020, do Conselho Federal de Medicina".