Os perigos que levaram muitas famílias a chorar as vítimas do segmento mineiro da BR-040, a mais letal do país segundo a PRF, com um morto a cada 12 acidentes, são também parte das histórias acumuladas pelo operador de guincho Adauri Barbosa, de 50 anos, 33 deles socorrendo vítimas de desastres e panes na rodovia entre BH e o Rio. “O que tinha de ser feito era um traçado novo. A duplicação que fizeram nos anos 1990 e 2000 engoliu os canteiros e acostamentos para fazer mais uma pista. Uma falsa duplicação, que não resolveu os problemas”, critica o motorista baseado em Congonhas, na Região Central.
Para ele, os segmentos mais perigosos no trecho em que trabalha são as fortes descidas com curvas longas e fechadas, como a Curva da Celinha (em Itabirito) e a do Pires (Bairro de Congonhas). “Ali, já ocorreram desastres com muitos mortos envolvendo diversos caminhões e carros. As carretas pesadas vão freando, mas o freio esquenta muito e quando os outros carros reduzem, vão sendo arrastados e o caminhoneiro não dá mais conta de virar. Vai tombando com carga e levando tudo o que tem na frente”, conta.
CRÍTICAS TROCADAS
O carro do operador de produção Adriano dos Reis Amaral, de 34, não resistiu a uma das armadilhas da BR-040 em mais uma de suas viagens de BH, onde mora, para o sítio, em Entre Rios de Minas. “Já estava com problemas e agora quebrou o leque. Meu irmão veio me ajudar a trocar. Tem lugar que ainda tem muitos buracos, apesar de tamparem muitos”, disse. Para ele, o mais perigoso é a alta velocidade das carretas e veículos de mineradoras. “Carreteiro não respeita os limites e está sempre com pressa. Quer colar na traseira de carro 1.0 e não está nem aí: se ficar na frente, passa por cima. Vejo muita imprudência, o risco de muita gente entrando e saindo de via vicinal, e em Congonhas ainda tem um trecho que se afunila de repente, e quem não conhece pode se acidentar”, alerta o operador.Já o caminhoneiro de Barbacena Thiago Martins, de 36, vê mais imprudência dos condutores de veículos leves durante suas viagens entre Belo Horizonte e Juiz de Fora, trecho em que transporta cimento e argamassa. “Depois dos radares, as pessoas aceleram demais. Aí não conseguem fazer as curvas. Quando chove é ainda pior; se serenar, eu até espero para viajar. Os carros pequenos são os piores. Um amigo fraturou a clavícula e o braço agora, quando um desses motoristas não conseguiu fazer a curva, reduziu na frente dele e ele teve de tirar a carreta e tombar para não matar a família”, conta. “As pessoas deveriam ter mais consciência e respeitar os limites. Se andassem dentro da lei, não teriam problemas”, afirma.
O preço de correr risco
Pelo direito de percorrer o trecho de 850 quilômetros da BR-040 entre Simão Pereira e Paracatu e se arriscar nas armadilhas do percurso mais letal das rodovias brasileiras, o motorista desembolsa R$ 64,80 apenas em pedágio – praticamente R$ 130 se fizer o percurso em ida e volta. Concessionária que administra o trecho de 771 quilômetros entre João Pinheiro e Juiz de Fora, com nove praças de cobrança no percurso e tarifa de R$ 5,80 para veículos comuns em cada uma delas, a Via-040 deixa claro que, devido ao processo de devolução do segmento, não fará mais obras de duplicação, mantendo os 189 quilômetros duplos existentes (24,5% da estrada).
A concessionária sustenta que houve redução dos acidentes e mortes desde que iniciou sua administração, com queda de óbitos de 178 antes de sua gestão, em 2013, para 117, em 2021 (o Anuário Estatístico da PRF considera 145). De acordo com a empresa, vêm sendo realizadas melhorias no pavimento, na sinalização horizontal e vertical, nos sistemas de drenagem, implantação de defensas metálicas e barreiras de concreto, além da ampliação da capacidade do sistema viário, como implantação de passarelas e duplicação de trechos, “que proporcionam condições mais seguras para os usuários”.
Segundo a concessionária, “mais de 1.800 quilômetros de pavimento foram recuperados, feitos 46.000 metros de sistemas de drenagem, instaladas ou substituídas 29.500 placas, mais de 330 taludes recuperados”, entre outras intervenções.
Já a Concer, que administra o trecho entre juiz de Fora e o Rio de Janeiro e cobra tarifa mais cara – R$ 12,60 – afirma que os 180 quilômetros sob sua responsabilidade são duplicados, incluindo os 54 quilômetros do trecho mineiro, que abrange Juiz de Fora, Matias Barbosa e Simão Pereira. Acrescenta que a rodovia é devidamente sinalizada e conta com monitoramento remoto e presencial por meio de inspetores, 24 horas por dia. “A Gerência de Operação da concessionária endossa a avaliação da Polícia Rodoviária Federal e de outros organismos, de que a imprudência, a imperícia e a negligência respondem por número expressivo das ocorrências de trânsito registradas em rodovias federais”, conclui.