Em Juiz de Fora, assim como muitas cidades mineiras, as capelas fazem parte da vida e memória da população. O escritor José Rafael Leão é uma dessas pessoas, que, com o despertar da memória afetiva das capelas e igrejas de sua infância, lançou este mês o livro “Capelas rurais de Juiz de Fora”.
No total, 50 templos religiosos, entre os particulares e os que estão sob responsabilidade da Igreja Católica, têm suas histórias e curiosidades resgatadas pelo escritor.
Por dois anos, José Rafael percorreu oito distritos na Zona Rural de Juiz de Fora, coletando informações sobre as capelas.
Na publicação, o escritor apresenta os relatos das edificações, além de um material rico, contendo um iconográfico, fotografias, nomes dos santos aos quais são dedicadas, paróquias às quais pertencem, localização e uma breve explicação sobre como chegar até elas.
Fascínio pelas capelas
A ideia do trabalho surgiu após ele lançar, com os parceiros Carlos Sérgio e Márcio Itaboray, o livro “Arredores de Juiz de Fora: Imagens, poemas e canções”, em 2016. Relembrar momentos de sua infância entre as capelas do interior o motivou a buscar mais informações. E assim iniciou a sua jornada.
Esse fascínio pelas capelas existe desde os tempos de criança, segundo o escritor. O projeto, que começou de forma despretensiosa, acumulou tanta informação que um livro seria o melhor destino.
“Comprei uma máquina fotográfica e pesquisei no site da Arquidiocese onde elas se localizavam, quais paróquias administravam essas capelas. Anotei quais eram as rurais. Comecei a ir até os distritos, e, assim, descobri outras que não eram administradas pela Igreja e fui me animando com a ideia”, relembrou durante o lançamento.
Além das andanças, o escritor contou com o apoio de moradores locais e amigos, que repassavam informações sobre outras capelas que ele ainda não conhecia.
“Perguntava se tinha ido à capela tal e, se não conhecia, eu anotava e ia atrás. Evidentemente podem haver mais algumas, que ficam em fazendas e eu não consegui chegar até elas”, ponderou.
Difícil acesso e abandono
A pandemia levou a uma pausa nas pesquisas, mas outros motivos dificultaram o trabalho de José Rafael. E um deles foi o difícil acesso a algumas das capelas selecionadas. Porque muitas só poderiam ser visitadas por meio de estradas de terra.
“Muitas dessas capelas domésticas ficam no interior de uma fazenda, uma granja, e em diversas oportunidades não pude conhecer o interior delas”, lamentou.
Outro detalhe que chamou a atenção do escritor foi a diferença apresentada na conservação entre as capelas. Porque, enquanto os templos administrados pela Arquidiocese estão melhor conservados, muitas capelas particulares estão deterioradas ou abandonadas.
“Elas representam o símbolo de fé dos antigos donos das fazendas, mas não são mais utilizadas até porque é difícil conseguir um padre para fazer celebrações. E, às vezes, os herdeiros não se interessam por elas. Mas também encontrei capelas domésticas muito bem cuidadas, quando o dono tem uma condição financeira melhor.”, disse.
Em outras histórias de cuidado e abandono das capelas, José Rafael Leão encontrou diversas situações e relatou na publicação.
“Um casal que morava no Sítio Banarica, próximo à BR-040, construiu uma capela grande e bem estruturada para Nossa Senhora das Graças, após uma graça alcançada. Segundo o caseiro que me contou a história, o casal, que já morreu, construiu a capela e conseguiu autorização da Arquidiocese para fazer uma missa inaugural, há cerca de 20 anos, mas depois disso nenhuma missa foi celebrada lá. Pelo menos o caseiro cuida dessa capela.”
Entre os destaques do livro, está a Capela Nossa Senhora Aparecida, localizada em um vilarejo chamado Palmital, no distrito de Rosário de Minas.
“O lugar tem apenas uma meia dúzia de casas, mas uma grande e belíssima capela no alto do morro. Eu me perguntei para quem seria essa capela tão grande num lugar com tão poucas casas, quem a construiu. Imagino que seja o orgulho deles”, destaca o escritor.
O escritor também descreve a emoção de descobrir tantas capelas desconhecidas pelo grande público e que estão na região.
“É como encontrar um prêmio. Muitas vezes eu rodava e quase desistia, porque a estrada acabava e não tinha encontrado a capela”, revela o autor.
José Rafael espera que seu livro possa inspirar outras pessoas a fazer o mesmo pelas capelas rurais das cidades vizinhas a Juiz de Fora.
“Essas cidadezinhas no entorno têm muitas capelas na área rural, mas vi que seria muito difícil, pois teria que encontrar quem conhecesse as capelas da região; cheguei a abrir o leque, mas vi que seria muito trabalhoso”, diz.
A versão física do livro está à venda por R$ 50 na Academia do Livro, localizada na Casa D’Itália, e na Cantina do Bexiga, no Bairro São Mateus, em Juiz de Fora.