Os jacarés da Lagoa da Pampulha são atrações do cartão postal de Belo Horizonte. Conhecidos como “gordos e tranquilos” desde que uma matéria do Estado de Minas viralizou nas redes sociais, esses animais seguem chamando atenção de quem tem a chance de observá-los.
Todos os jacarés que vivem ali são da espécie papo amarelo, considerada de pequeno porte, mas esses animais podem chegar a mais de dois metros de comprimento. Apesar da boca comprida, eles não são predadores de mamíferos grandes.
A alimentação consiste em peixes, aves e moluscos – entre eles, o caramujo africano, espécie invasora que se multiplica rapidamente e transmite doenças ao ser humano. Assim, os jacarés ajudam no controle da população desse invasor e consequentemente no equilíbrio ecológico da região.
Os animais só começaram a ser monitorados oficialmente em 2017, segundo Leonardo Maciel, gerente de Defesa dos Animais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Atualmente, existem cerca de 20 adultos e 11 filhotes. Os dados são estimativas, pois o monitoramento é feito visualmente, sem que localizadores sejam colocados diretamente nos animais – esse procedimento só pode ser feito pelo Ibama.
Natureza
A poluição não tem sido um impeditivo para a reprodução da espécie, mas os jacarés preferem pontos em que recebem água nova, dos afluentes limpos, afirmou Maciel. E buscam áreas com mais vegetação para colocar seus ninhos, como perto do Parque Ecológico.
“A natureza procura sempre se adaptar, encontrar algum jeito de se perpetuar ali. A Lagoa não é considerada um reservatório único, são vários pontos com diferentes níveis de poluição. Nos locais com melhor qualidade da água, várias espécies sobrevivem. Os jacarés costumam procurar essas regiões”, afirmou Leonardo.
Não há consenso sobre como os jacarés do papo amarelo foram parar lá. Entre as hipóteses está a de que algum morador colocou a espécie no local e que ela foi se reproduzindo; ou ainda, que eles teriam vindo do zoológico de Belo Horizonte após uma enchente. Outra hipótese é que eles já existiam no local antes da Lagoa ser criada.
A reprodução dos jacarés é considerada baixa, pelas características biológicas do animal e pelo fato de que, enquanto filhotes, eles são uma presa fácil para diversos predadores. Entre eles, a garça branca, que pode ser vista regularmente na Lagoa da Pampulha.
Os bichos têm expectativa de vida igual a de um ser humano, em torno de 80 anos, quando criados na natureza – em cativeiro, podem viver ainda mais.
Equilíbrio ecológico
Mesmo em um ambiente “altamente antropizado”, nas palavras de Maciel, os jacarés vivem em um equilíbrio ecológico com as demais espécies. Desde que o monitoramento começou, não foram registrados casos de superpopulação desses animais, nem ameaças às demais espécies da Lagoa.
A presença dos jacarés na Pampulha não representa ameaça aos seres humanos. O jacaré do papo amarelo é considerado uma espécie “naturalmente tímida”, afirmou Maciel. Os acidentes só ocorrem quando as pessoas tentam tocar, brincar ou segurar o animal. Nenhum acidente desse tipo foi registrado na Lagoa da Pampulha até hoje.
Além disso, não há qualquer dado sobre transmissão de zoonoses pelos jacarés.
* Estagiário sob supervisão do subeditor Thiago Prata