Com a série “A batalha da psiquiatria”, do repórter Gabriel Ronan, publicada entre os dias 28 de fevereiro e 2 de março deste ano, o Estado de Minas é o vencedor da categoria Impresso do II Prêmio AMP de Jornalismo, da Associação Mineira de Psiquiatria. As reportagens, que abordaram a polêmica em torno do modelo de saúde mental adotado em Belo Horizonte e em Minas Gerais, se destacaram entre 14 trabalhos, de sete veículos impressos, de rádio e de TV que concorreram à premiação.
A primeira reportagem da série premiada mostrou argumentos dos dois lados que se opõem na defesa do modelo de atenção mental: em um dos extremos, profissionais e entidades que consideram os hospitais psiquiátricos essenciais para atendimento de pessoas em crises graves e gravíssimas; no outro os que se alinham com a luta antimanicomial e defendem que serviços prestados na Rede de Atenção Psicossocial são suficientes para apoiar e tratar indivíduos em todos os momentos relativos ao sofrimento mental.
Os esforços feitos para ampliar o diálogo e encontrar saídas para pontos de fragilidade admitidos pelas duas correntes – entre eles a falta de psiquiatras em plantões noturnos dos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams) de BH – foi tema do segundo dia de publicações.
No encerramento da série, o repórter Gabriel Ronan revelou que a polarização entre defensores da internação para crises graves e a linha antimanicomial, que em Belo Horizonte já foi parar até na Justiça, não contrapõe apenas profissionais da saúde e juristas: divide inclusive pessoas em tratamento e suas famílias.
Há os que suplicam pela reabertura de vagas hospitalares e os que rejeitam a simples menção à hospitalização para indivíduos com sofrimento mental. Em meio à polêmica, mostrou a reportagem, os pedidos de internação compulsória disparam na Justiça.
O ponto de partida para as reportagens foi a batalha judicial travada entre a Prefeitura de Belo Horizonte e o Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG). No ano passado, o CRM anunciou medidas de interdição ética dos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams) da capital mineira, após vistorias nas unidades.
O município protocolou ação civil pública na 22ª Vara Federal Cível, com participação do Ministério Público Federal, que suspendeu o auto de interdição. A partir desse embate, o repórter construiu a série mostrando argumentos, razões e nuances de cada ponto de vista.
“Foi uma reportagem feita com respeito à premissa maior do jornalismo: ouvir todos os lados que envolvem o tema. Entrevistei mais de 15 pessoas para aprofundar na discussão acerca da saúde mental e, como nos clichês do cinema, precisei espalhar post-its sobre a parede para não me perder em meio às apurações”, revela o repórter.
“O material foi feito com ampla dedicação minha e da equipe que me acompanhou, especialmente o repórter fotográfico Leandro Couri e a repórter multimídia Larissa Kümpel. O resultado também não seria alcançado sem a colaboração do editor Roney Garcia, que lapidou as três reportagens entregues sobre o tema”, completa Gabriel.
Para Roney Garcia, editor do caderno Gerais do EM, a premiação da AMP vem reconhecer o empenho em dar espaço e argumentos aos envolvidos no debate, sem esquecer o aspecto humano que ele envolve.
“O prêmio distingue um trabalho meticuloso de apuração, que procurou compreender os pontos de vista de profissionais de saúde, de advogados, da administração pública e – tão importante quanto – dar voz às próprias pessoas em tratamento e seus parentes, que convivem diariamente com os desafios do sofrimento mental. Um cuidado observado da busca de fontes ao encadeamento do texto, passando pelo respeito e pelo espaço equilibrado dado a cada ponto de vista”, avalia.
O prêmio da AMP busca reconhecer trabalhos veiculados em jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV de Minas Gerais, que se destacaram por desmistificar aspectos que envolvem os transtornos mentais, o estigma que pesa sobre a psiquiatria e outros assuntos relacionados à especialidade e seus pacientes.
Além da reportagem de Gabriel Ronan publicada pelo EM, foram premiados o jornalista Oswaldo José Diniz Junior, da Itatiaia, na categoria Rádio, com a matéria “Bicho de sete cabeças – O transtorno mental e o preconceito”, e a jornalista Laura Zschaber, da Rede Minas, na categoria Televisão, com a reportagem “Preservação da vida: é preciso falar sobre suicídio, mas de forma responsável”.
Os prêmios serão entregues na sessão de abertura da XXIV Jornada Mineira de Psiquiatria, no dia 7, na sede da Associação Médica de Minas Gerais.