Comprimidas em corredores, multidões aceleradas lembram o ritmo dos passeios de uma capital. Já o silêncio de áreas de tratamento, a paz do interior. Com mais de 15 mil pessoas circulando por dia, a Santa Casa BH pulsa como uma cidade ambígua, chegando a ser mais populosa do que 598 municípios mineiros, cerca de 70% das cidades de Minas Gerais (confira o quadro).
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Essa pressa se funde ao ruído da cidade, ao apito dos veículos pesados em manobras até a recepção, onde pessoas iniciam atendimentos ou aguardam notícias. Dessa linha em diante, o complexo se abre em corredores labirínticos que permeiam como avenidas as várias alas dos 13 andares, enfermarias, 1.126 leitos neste momento , sendo 165 de CTI. Esse fluxo é mais restrito a médicos em seus jalecos, enfermeiros paramentados de azul-claro, pacientes com exames nas mãos – geralmente em lento caminhar ou mesmo em cadeiras de rodas – e seus acompanhantes.
Os setores de cada ala, como ruas, recebem nomes que são homenagens a gente importante, no caso, médicos e benfeitores de destaque para o hospital. Assim, o destino pode ser o Centro Cirúrgico Dr. Atos Alves de Souza, a Unidade de Oncologia Pediátrica Dr. Eduardo Nascimento, o Centro de Tratamento Intensivo Pós-Operatório Pediátrico Dona Lucinha ou a Unidade de Tratamento Intensivo Cybele Pinto Coelho, entre outros.
Um dos setores mais restritos é o Centro Cirúrgico e também um dos que mais precisou se adaptar após o incêndio, uma vez que absorveu parte dos pacientes dos 50 leitos clínicos de CTI do 10º andar, que está interditado, ocupando parte das vagas destinadas ao tratamento intensivo pós-cirúrgico. Nada que esse centro não tenha vivido antes, já que no ápice da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), com a Santa Casa se tornando referência, o setor cedeu 20 leitos para os casos de COVID-19.
“Mesmo passada a pior fase da pandemia, o Centro Cirúrgico foi muito comprometido por medo. Os pacientes não queriam vir e ser internados ainda com medo da COVID-19. Estávamos normalizando o fluxo e teve essa tragédia. Mas, para não parar o nosso atendimento, estamos abrindo mais oito leitos cirúrgicos de CTI para os pacientes destinados ao nosso atendimento”, disse a coordenadora do espaço, Caroline Xavier Figueiredo.
Esse é um dos locais mais movimentados e de silêncio, que só é quebrado pelo deslizar das rodinhas de macas, instrumentos, carrinhos de limpeza e pelo bipe dos equipamentos de monitoramento dos pacientes. Só se entra com camisa e calça esterilizadas, sapato fechado, touca, máscara e em alguns procedimentos com colete de chumbo contra raios-x. Durante o dia, trabalham seis enfermeiros e 88 técnicos de enfermagem em escalas que variam de 12 por 36 horas, 8 ou 6 horas. Em média, são 1.100 cirurgias por mês, em torno de 50 por dia.
Para o provedor da Santa Casa BH, que seria o “prefeito” dessa complexa cidade, Roberto Otto Augusto de Lima, sua função é exigente, mas também uma honra. “É muito desafiador, diante da complexidade e do tamanho da demanda que temos, cenário que é agravado pela inexistência de políticas e financiamento público adequados. Na Santa Casa BH, a missão só se torna possível em razão do engajamento e da competência de nossas equipes, que têm amor pelo que fazem, além do reconhecimento por parte da sociedade”, disse.