O número de autuações por embriaguez nos primeiros seis meses de 2022 já é superior ao registrado em todo o ano passado em Minas Gerais. De janeiro a junho, foram 1.898 multas emitidas em rodovias que cortam o Estado, resultando em 105 prisões. Já em 2021, 1.807 motoristas foram penalizados pela soma de álcool e volante.
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Motorista com sinais de embriaguez atropela e mata idosa em BetimCom sintomas de embriaguez, policial bate em carros, tenta fugir e ameaçaMotorista tinha preferência em acidente, mas é detido por embriaguez“Uma vida perdida para a violência no trânsito impacta diretamente inúmeras outras pessoas, além dos familiares, criando uma cadeia silenciosa de dor e sofrimento”, avalia o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra.
A observação do especialista é sentida na pele pela auxiliar de limpeza Amanda Franciele Barroso, de 28 anos. Em 2014, ela e a filha, na época com 4 anos, foram vítimas de acidente de trânsito. Um motorista embriagado atingiu as duas na calçada de uma rua do Bairro Alto Vera Cruz, na Região Leste de Belo Horizonte. A criança morreu na hora.
“16 de novembro de 2014. Era por volta das 15h quando um homem, na época com 51 anos, veio bêbado, drogado e inabilitado, e pegou a gente no passeio. Eu quase perdi a perna. Fui socorrida para o João XXII e passei por cirurgia”, contou ao Estado de Minas.
Há oito anos, ela ainda vive com o sentimento de impunidade. O condutor ficou apenas 21 dias preso, sendo liberado após pagamento de fiança no valor de R$ 3.500.
“Depois disso ele não compareceu a duas audiências. Então minha vida mudou, até mesmo a minha rotina. Fiz acompanhamento, tomei antidepressivo e demorei a voltar para o mercado de trabalho”, comentou, dizendo, ainda, que apenas se sente confortável para falar do caso porque hoje tem um bebê de seis meses.
“Só renasci mesmo depois que Deus me deu essa criança. Eu não tinha mais vontade de nada desde o ocorrido. Acho que a Justiça deveria fazer uma lei mais severa sobre as pessoas que cometem essas infrações. É um crime bárbaro e o sentimento de revolta só aumenta”, afirmou.
Fiscalização
Em 2022, ainda nas estradas federais que cortam o Estado, 49.110 testes com etilômetro foram realizados pela PRF em Minas. No ano passado, foram apenas 11.690. Os dados, segundo Coimbra, indicam não só o aumento da fiscalização após medidas de restrições mais intensas causadas pela pandemia, mas também o crescimento de um comportamento criminoso: dirigir sob o efeito de álcool e drogas.
"O trânsito foi o espaço coletivo mais afetado pelos inevitáveis danos mentais e psicológicos da pandemia. Motoristas ansiosos, imprudentes, agressivos e violentos se envolvem mais em ocorrências de trânsito e infringem as normas de circulação mais frequentemente, seja pela desatenção ou pela direção insegura. Isso também leva ao abuso de drogas e álcool”, avaliou o especialista, considerando, ainda, que é preciso punições mais duras para os envolvidos neste tipo de crime.
“A lei é muito suficiente em relação às medidas impostas. O que pesa muito é a interpretação. Em uma audiência são considerados inúmeros outros fatores e desconsiderado que as pessoas já têm informação de que não deve beber e dirigir. Então precisamos de uma padronização”, concluiu.
Motivos do aumento
Ainda segundo Coimbra, uma redução na fiscalização em 2021 teria passado para a população um "relaxamento" no rigor da lei. A situação, no entanto, foi circunstancial devido à pandemia.
“Paralelamente, tivemos a suspensão das medidas de restrição em 2022, favorecendo novos eventos e aglomerações, onde algumas pessoas, pensando que o lazer é maior que a segurança dela e das demais, bebem e depois dirigem”, finalizou.